Num relatório apresentado ao II Congresso, o próprio Centro Cosmopolita resumia assim sua história: “O Centro Cosmopolita, associação dos trabalhadores em hotéis, cafés e estabelecimentos congéneres, foi fundada em 31 de Julho de 1903 por 45 companheiros. Graças à propaganda desenvolvida reúne hoje no seu seio cerca de 2500 associados”. Neste sector de trabalho dos camareiros, os operários provinham de muitas nacionalidades distintas, mas havia um certo predomínio dos imigrantes de origem galega e, dentre eles, dos que vieram procedentes dalgumas localidades do sul de Pontevedra, entre os quais cumpre assinalar a Francisco Carballo Pregal, de Vilasobroso-Mondariz e Jesús Bouzón Ricon, do Viso-Redondela,
Em muito pouco tempo, o Centro Cosmopolita iniciou suas actividades, adoptando a táctica da acção directa na luta pelos direitos da classe e muito especialmente pela redução das longas jornadas de trabalho no sector e pelo direito ao descanso semanal. Foram estas reivindicações as que levaram ao Centro a declarar uma greve geral no sector em Janeiro de 1912, que foi secundada por perto de 10.000 operários.
Nos salões do Centro Cosmopolita da rua do Senado, 273, em Rio de Janeiro, a Confederação Operária Brasileira manteve mais um comício de todas as sociedades operárias do Brasil, nos dias 8 a 13 de Setembro de 1913. Naquela histórica reunião operária participaram dois federações estaduais, cinco federações locais, cinquenta e dois sociedades operárias quatro jornais, os quais reafirmaram a orientação sindicalista revolucionária da Confederação Operária Brasileira.
O Centro Cosmopolita se passou a formar parte da história do movimento operário brasileiro, mas também continuou com sua própria actividade reivindicativa e social. Em 1915 teve início uma nova mobilização dirigida a lutar para fazer efectiva a legislação que fixava em doce o número máximo de horas de trabalho diárias e regulamentava a obrigatoriedade do descanso semanal. Por mais de dois anos, o Centro travou combate com a patronal do sector para fazer respeitar aqueles direitos laborais.
A nível interno, houve também uma forte crítica a alguma das directivas do Centro que afastaram-se das reivindicações operárias e levaram à classe a inactividade. Muito criticadas foram algumas iniciativas, como a construção do próprio local da colectividade na, que absorveu a energia dos operários e operárias, mas não retirou da miséria aos empregados de hotéis, restaurantes, cafés e bares.
Nos anos 20, a influência da revolução soviética fez que uma parte importante dos operários e operárias filiadas no Centro Cosmopolita aderiram o movimento comunista. Nas páginas do novo porta-voz da associação intitulado “A Voz Cosmopolita” (criado em 1922 em substituição de “O Cosmopolita” e do primeiro órgão do Centro “A Verdade”) as doutrinas da III Internacional foram progressivamente substituindo às ideias anarquistas até aquele tempo predominantes na imprensa da associação. Mesmo há autores que assinalam que o “Manifesto do Partido Comunista” foi publicado pela primeira vez em Brasil em “A Voz Cosmopolita” em 1923. Um operário filiado no Centro, o camareiro José Lago Molares, foi um dos tres delegados de Brasil ao VI Congresso da III Internacional, que foi feito em Moscovo do mês de Julho ao mês de Setembro de 1928. Em Janeiro de 1929 José Lago Molares participou também no III Congresso do Partido Comunista Brasileiro e I da Juventude Comunista.
O historiador Víctor Zamorano tem estudada em sua tese um curioso episódio que amostra a persistência da combatividade dos integrantes do Centro Cosmopolita. Em 25 de Fevereiro de 1930 o histórico dirigente do Partido Comunista Brasileiro Roberto Morena foi detido junto a vários integrantes do Centro Cosmopolita, numa reunião de militantes militantes comunistas. Os três galegos detidos na reunião, Salvador Vivas Cabano, José Quintana Antelo e José Tomás Costa Martínez foram expulsos do Brasil e chegaram a Vigo em 5 de Abril de 1930.