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Laerte Braga

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Livre expressão

Dilma, Cuba e direitos humanos

Laerte Braga - Publicado: Quinta, 02 Fevereiro 2012 01:00

Laerte Braga

A saia justa que a mídia tentou colocar Dilma Rousseff em entrevista em Havana a propósito de direitos humanos teve uma resposta segura da presidente. Direitos humanos não podem ser transformados em bandeira ideológica, em “arma ideológica”, “é uma questão multilateral”.


De uma certa forma lembrou a resposta que Lula deu a Ângela Merkel, quando em visita a Alemanha, sobre sanções contra o Irã por conta do programa nuclear daquele país. Lula disse que para pedir a alguém para não ter armas atômicas era necessário ter moral, ou seja, não ter armas atômicas. Merkel fez que não era com ela, estava tentando forçar a barra, até porque a Alemanha não dispõe nos seus arsenais de armas nucleares, mas o território alemão ocupado pelos norte-americanos – inúmeras bases – está repletos de mísseis com ogivas armadas com esses artefatos.

Guantánamo é um campo de concentração que os norte-americanos mantêm em parte ocupada do território cubano. Desde a revolução de 1959 que o governo de Cuba tem buscado a devolução daquela área e sem êxito. Os EUA sequer cogitam de discutir o assunto. A antiga base militar, hoje prisão/campo de concentração, soa como desafio ao governo cubano, como demonstração do poder boçal de quem tem cinco mil ogivas nucleares capazes de destruir o mundo cem vezes se necessário for.

Há dias o presidente dos EUA Barack Obama anunciou o envio de 12 mil soldados de seu país à Líbia para “ajudar a consolidar o processo democrático”. A Líbia foi massacrada pela aliança terrorista EUA/ISRAEL, através do seu braço militar na antiga Comunidade Européia – hoje grande base militar do terror nazi/sionista – a OTAN – Organização do Tratado Atlântico Norte.

O campo de concentração de Guantánamo é resultado do chamado Ato Patriótico, documento legal do governo de George Bush, que suspende direitos civis, direitos de qualquer natureza daqueles que contrariem interesses dos EUA, ou “signifiquem riscos para os Estados Unidos”.

Milhares de suspeitos de “terrorismo” passaram por ali sem qualquer direito. Foram torturados, humilhados, submetidos a toda a sorte de horrores que o mundo conhece em boa parte – conhece e outra boa parte a mídia de mercado não fala. Dentre os que conseguiram ser soltos a partir do momento que setores do Judiciário dos EUA consideraram os direitos fundamentais dos presos, os relatos são de barbárie plena e absoluta. As “provas” eram arrancadas com sessões de falsos afogamentos, falsos fuzilamentos, celas com luz acesa ininterruptamente, músicas em volume alto para evitar que os presos tivessem sono normal, enfim, o repertório da boçalidade que conhecemos por aqui durante o período da ditadura militar, resultado do golpe de 1964.

A presença de soldados norte-americanos na Líbia é simples de entender. Como não havia revolta popular contra o governo do presidente Muamar Gaddafi, os norte-americanos financiaram mercenários, alguns chefes de tribos corruptos e a OTAN bombardeou centenas de milhares de vezes o país, destruindo-o de uma maneira típica do horror capitalista.

Tomado o poder não existe grupo revolucionário, conselho revolucionário, nada disso, meia dúzia de “líderes” fabricados pelos EUA para objetivos políticos e econômicos, como começa a acontecer em relação à Síria. Rebeldes, aí sim, rebeldes leais ao governante assassinado, começam a retomar o país.

A presidente do Brasil tem razão quando afirma que a questão tem que ser vista sob uma ótica multilateral, quando fala das deficiências do próprio Brasil no campo dos direitos humanos (os torturadores de 1964 permanecem impunes) e, lógico, mostra que essa “bandeira” encobre pretextos covardes, dominadores, ambições imperialistas dos Estados Unidos e a corte de colônias espalhadas pelo mundo.

Em dias da semana passada 300 manifestantes numa cidade da Califórnia foram presos pela polícia local. Protestavam contra a crescente desigualdade social no país. No final do ano passado a polícia de New York deitou e rolou com toda a violência possível sobre os manifestantes do movimento OCUPA WALL STREET, para deixar o touro que simboliza o “poder e a força” da bolsa de valores, livre de incômodos e perturbações de desempregados, de trabalhadores, de sem teto, enfim, dos 40 milhões de norte-americanos que, com a crise viraram indigentes.

Na Espanha o juiz Baltasar Garzón está sendo julgado por uma corte suprema por afirmar que crimes contra a humanidade não prescrevem, razão pela qual estava processando os torturadores do regime do ditador Francisco Franco. O juiz foi responsável pela prisão de Pinochet na Europa e pela de vários corruptos no governo espanhol ao longo do exercício da magistratura.

É possível que, a despeito dos protestos populares, seja suspenso de suas funções por 20 anos, o que equivale a aposentadoria. Lá como cá, o Poder Judiciário é um edifício carcomido pelo bolor da impunidade nas cortes supremas. Se você for banqueiro, ou especulador, ou empreiteiro, ou latifundiário não se preocupe. Tem habeas corpus a qualquer hora. E neste momento, por conta da crise dos bancos, a Espanha tem taxas de desemprego superiores a 20%.

A mídia de mercado não gostou da visita de Dilma a Cuba. Os velhos fantasmas do comunista come criança e mata velho foram levantados numa linguagem mais contemporânea como forma de criticar a presidente brasileira.

Cuba não tem desnutrição infantil, quem afirma é a ONU através da FAO – agência voltada para a questão da fome e da alimentação – e tem o mais baixo índice de mortalidade infantil do mundo, além de 100% das crianças em idade escolar em bancos de escolas e mais outros tantos dados positivos. No caso da desnutrição infantil é o único país a exibir esse resultado.

Um dos aspectos mais sórdidos do noticiário da mídia de mercado, aqui no Brasil e em todo o mundo, é a forma articulada, organizada e consciente com que forja a notícia, molda os interesses dos que compram esse tipo de braço do capitalismo.

A REDE GLOBO, por exemplo, a maior do País, costuma nos jornais da GLOBONEWS, canal fechado de notícias da rede, noticiar o fato, acrescentar um ou outro comentário e a partir do jornal das seis e seus programas intermediários, “ouvir especialistas”.

Na terça-feira foi a vez do professor Maurício Santoro, da PUC do Rio, professor de Relações Internacionais falar para a jornalista Leilane Neubarth, isso no jornal das seis. Disse que Cuba não é uma democracia, que os direitos humanos não são respeitados na ilha e cometeu um “escorregão”, ou não tomou os devidos cuidados, ou então não foi instruído direitinho sobre o que falar. Afirmou que Cuba é a exceção na América Latina, onde os países têm democracia.

O cochilo foi interessante, a rede costuma chamar o presidente da Venezuela Hugo Chávez de “ditador”.  Busca sempre desqualificar o boliviano Evo Morales e um “especialista” chamado para criticar o governo de Cuba, o sistema cubano afirmar que Cuba é exceção sem citar os demais “inimigos” dos EUA, com certeza não vai ser chamado mais, ou então, na próxima vez, falar olhando para a maquininha que passa os dizeres. O que deve ser dito.

O viés dos direitos humanos não se presta mais como bandeira. Cada vez é maior o número de pessoas que percebem – não são cegas – que direitos humanos para os EUA e o mundo capitalista são direitos ao saque, à tortura, a campos de concentração como Guantánamo, a tentativa de afastar um juiz na Espanha, os assassinatos seletivos (como os dos iranianos envolvidos no projeto nuclear daquele país) e vai por aí afora..

E direitos humanos para Israel significa prender e arrebentar palestinos.


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