Como passei os últimos dias invocando Vicente Risco, e o cruzamento entre Dépor e Celta está próximo, pensei que se calhar era bem fabricar, com um espelho e umha trombeta, um desses telefones como o que ele inventou no ano 1953 para o romance “La puerta de paja” e que tinham a utilidade de permitir falar com os seres de além. Outro dia falaremos mais devagar se Risco foi ou nom quem tivo a primeira noçom para criar telefones com aplicaçons tipo Iphone.
Nesta minha ideia, eu tinha vontade de lhe dar umha chamada ao Álvaro Cunqueiro, pois conheço bem a sua faceta de comentador desportivo e o seu método baseado na interpretaçom de um baralho de Tarot francês de meados do século XVIII. Afinal andei um pouco atrapalhado esta semana e ainda nom falei com ele assim que desculpem, mas desta altura ainda nom sei se afinal ganha o Celta ou se, como noutras ocasions, os naipes afirmarám que o Dépor vai ficar grávido.
Afinal de contas, se vos sou sincero, tampouco é o que mais me preocupa. Se continuam as rotinas dos últimos anos tenho claro, sem incomodar Risco nem Cunqueiro, que quem vai perder o jogo será, mais umha vez, a Galiza.
Nom entendam mal, as brigas entre as torcidas de um ou outro lado, assim como as disputas vicinais entre paróquias ou cidades fam parte da nossa idiossincrasia como povo como a Santa Companha ou o caldo de nabiças. Nom é algo que eu pretenda resolver aqui agora.
Porém, a diferença entre o nom resolvido conflito histórico polo domínio e usufruto das árvores da fronteira Morás-Loureda, contenda bélica da que se ocupam as crianças geraçom após geraçom nestas paróquias, e o Dépor-Celta, é que as maceiras, as cerdeiras ou mesmo as silveiras ainda nom se vírom contaminadas polo destruidor mal do localismo. Passa o estio, chega o inverno, e o conflito infanto-alimentar fica adiado para atender outros males como o da escola doutrinal.
Falando agora nisto, era bom ter dado umha olhadela para o número de elásticas desportivas galegas que luziam os escolares nos anos 90, por exemplo, e o detrimento destas 20 anos depois, em favor das do Madrid e Barça. No futebol, e na política, em nom poucas ocasions o sentimento vai da mao dos vencedores, e alguém dirá: Já tinham que misturar futebol com política! Na verdade, tam político foi fazê-lo como teria sido ter calado mas, desta altura, esquecer a funcionalidade capitalista elaborada através do desporto de elite, seria pouco menos que viver de costas viradas para o mundo.
Na nossa realidade, desde a artificial criaçom do mapa das quatro províncias, o ‘divide e vencerás’ tem resultado muito efetivo para a tática imperialista e, em conseqüência, dramático e destruidor para a consciência nacional galega, ainda hoje sustentada por um valiosíssimo conjunto de homens e mulheres rebeldes, boas, generosas e contra a opressom.
Neste jogo desportivo que nos ocupa, a rivalidade nom deveria ter mais consequências que a própria tertúlia, a retranca ou a pura e simples piada. Infelizmente, ouço e leio todos os dias declaraçons que cruzam esta linha na procura de elementos de divisom. Somos um povo ferido que ainda tem por diante muitas batalhas, portanto, é trabalho de todos e todas mudarmos esta dinâmica, a do localismo, na mesma medida em que agimos noutras questons de sobrevivência nacional.
Desta altura haverá que dizer, finalmente, por quem torço eu. É claro, eu torço pola legítima causa das crianças de Loureda, e nom pola das imperialistas crianças de Morás que sabem que as cereijas som nossas! Como escreveu o de Mondonhedo: Alguns terám gostado deste jogo, também eu.