Reflexão que se viu acompanhada de um amplo apoio de muitas personalidades do âmbito internacional, pessoas com uma biografia irrepreensível, com biografias de contrastada respeitabilidade democrática e de vontade de paz em conflitos flagrantes como o sul-africano ou da Irlanda.
E que culminou com uma declaração, a de Bruxelas, na qual se pedia ao Estado espanhol que desse uma solução ao conflito basco, em chaves democráticas e de paz, e que estas pudessem abrir um novo cenário em que todas as sensibilidades existentes em Euskal Herria, pudessem fazer política em igualdade de condições.
E que todos os projectos pudessem ser efectivamente levados à prática. Isso em linguagem clara quer dizer um cenário sem vencedores nem vencidos, no qual se reconhecesse o sofrimento de todas as partes e que por fim, o povo basco, pudesse enxergar a possibilidade de viver numa pátria pacificada e que esta pudesse determinar o seu futuro em tranquilidade. Algo que não ocorre desde há séculos, pois o conflito basco não começa em 1959, como alguns interesseiramente indicam, e sim com as invasões castelhanas que culminam em 1512 com a conquista do antigo Reyno de Navarra e sua incorporação forçada ao projecto de Espanha.
A esquerda abertzale quer a paz e está a demonstrá-lo há muitos anos. Demonstrou-se em 1998 com o processo de Lizarra-Garazi, depois com a Declaração de Anoeta e inclusive em 1989 nos dias de Argel.
A reflexão esta feita há muito tempo, a situação bélica de baixa intensidade, está a tentar ser desactivada pelo MLNV há mais de 20 anos, pelo menos, mas a realidade é que ainda hoje não pôde ser solucionado o conflito basco.
E é que é o Estado espanhol que deve fazer sua reflexão, a parte basca, feita e clara está. A vontade de paz está em cima da mesa.
O Estado espanhol, Espanha e os seus cidadãos têm que fazer a sua particular reflexão. Espanha saiu aos pontapés de Cuba, das Filipinas, de Marrocos e de muitos lugares mais, porque teimou em absurdas soluções policiaco-militares a conflitos de marcado teor político. Os patriotas cubanos, filipinos etc, não eram terroristas (ainda que seguramente os jornalistas espanhóis hoje iriam qualificá-los como bando criminoso); eram patriotas, que entenderam que a liberdade não é um presente do destino nem de nenhum rei mago (muito menos de um rei espanhol, que ainda por cima nem é mago?) e que a liberdade é um bem que se conquista, dia a dia, e naquelas condições que tiveram que atravessar os patriotas cubanos ou filipinos, de armas na mão.
Espanha, pôde ter negociado com eles e se ter poupado a vergonha de 1898 e sua estrepitoso ridículo mundial. Felizmente para eles não existia a CNN, pois se existisse ainda estariam nas nossas retinas as imagens da tropa espanhola em fugida a correr das ilhas mencionadas.
Mas optou pela defesa numantina de uma terra que não era deles, e por isso os legítimos donos daqueles lugares lhes impingiram semelhante derrota.
Puderam sair dignamente de Cuba e das Filipinas, mas saíram como alma que leva o diabo, mas a dignidade é uma bem que também não se presenteia, consegue-se, e essa dignidade podia ter sido ganha negociando com os patriotas cubanos e filipinos e dando uma solução razoável à descolonização das ilhas.
Repeite-se-lhes a história. Desta vez nos Paisos Cataláns e sobretudo Euskal Herria. Espanha tem uma oportunidade histórica de rectificar antigos comportamentos e criar precedente, reconhecendo que Catalunha é uma nação e não bloqueando o Estatut (ainda que este seja insuficiente para as aspirações d@s catalães e catalãs) e resolvendo de vez o problema basco na sua vertente de confronto violento. E com isso, reconhecer o carácter plurinacional do Estado e que os povos como o basco, o galego, etc, possam dispor de seu futuro.
Essa é sua reflexão, mudar o chip. Ou o de 1898 com as consequências que lhes acarretou, ou entrar por fim numa outra época, mas democrática e razoável, na qual todos possamos ter, ao menos, direitos democráticos, como pessoas e como povos.
Essa é a reflexão em que devem entrar. Tem-lho dito numerosas pessoas de um curriculum irrepreensível no âmbito internacional, disse-lho a Declaração de Bruxelas e desta vez disseram-no grupos e partidos de âmbito castelhano e estatalista.
Algo tão simples como ser democrata, mas desta vez com maiúsculas. E que comece um novo espaço em que as crianças de 2, 4, 5 e 8 anos, todas as crianças de Euskal Herria e de Espanha não tenham que conhecer o sofrimento e a mal-estar que nos tocou viver aos que já não somos tão meninos.
Ao menos que o façam por elas. Presenteemos-lhes entre tod@s um futuro em paz e sem violência política. Um futuro em que todos os projectos sejam realizáveis em condições de paz e de igualdade.