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Marcos Lopes

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Livros e mais

Piñeiro e o piñeirismo

Marcos Lopes - Publicado: Domingo, 18 Abril 2010 00:00

Marcos Lopes

Na celebraçom das letras galegas há algumhas cousas que já som tradicionais. Ocorrem-se-me: a capa dos jornais em galego, a procura na Enciclopedia Gallega da homenageada para o trabalho do colégio, a gente na praia, ou os poemas nas sacas do Gadis (eu polo menos vim-nos de Lourenço Varela e Maria Marinho). 


Nom sei se o ano passado figérom o mesmo com Pinheiro (há muito que nom compro no Gadis, a verdade), mas teria sido umha boa escolha esta linha: “A maioría de idade política de Galicia ten que consistir mesmamente en que deixe de existir un partido galeguista para que fosen galeguistas todos os partidos democráticos”. A quem pode molestar esta ideia de galeguismo difuso? Precisamente, quando o que se diz é assumível por todo o mundo, ou admite multitude de interpretaçons, deixa de ter qualquer poder transformador. E pode, por fim, editar-se em sacas da compra. 

Umha outra tradiçom no dia das letras é o lançamento editorial de biografias mais ou menos hagiográficas com generosas ajudas da administraçom; nom é este o caso do livro que nos ocupa. Mais ao contrário, pola sua vontade crítica e, sobre todo, por estar escrito em reintegrado, achamos nom recebeu subvençom algumha. Trata-se de Piñeiro e o Piñeirismo em perspectiva histórica, do professor de História Contemporánea na UdC Carlos Velasco, editado por ediçons Laiovento.

O estudo, de pouco mais de 100 páginas, percorre a vida de Pinheiro desde que começou a  militar nas Mocidades Galeguistas em 1932 até a sua morte em 1990. Os momentos mais relevantes da mesma som descritos polo autor com ajuda de textos complementares do próprio Pinheiro ou de testemunhas de interesse: os seus desencontros com Castelao, a fundaçom de Galáxia e a sua aposta por umha  política culturalista, a fundaçom do PSG ou o experimento de Realidade Galega.  Sobre este último aspecto destaca a opiniom de Beiras, pois define com claridade o carácter antidemocrático da estratégia pinheirista de galeguizar  os partidos espanhóis: “REGA [...] derivou, como non podia ser menos, nunha rede encamiñada a situar persoas en canonxías ou centros de poder”.

Observa-se mesmo, e isto já é umha opiniom pessoal, que o grupo de Pinheiro serviu de reclamo eleitoral nos anos posteriores à morte de Franco, para aqueles partidos que vinham de ter um compromisso nulo com a Galiza, mas que queriam amossar umha face mais galega. O galeguismo difuso de Pinheiro foi o verniz que precisavam. A inclusom nas listas de UCD de Fernandes Albor, que rematou sendo presidente da Junta, assim como a presença de Pinheiro ou Garcia Sabell nas listas do PSOE, som dous bons exemplos neste sentido. Mas nom foi a Galiza o único caso no que se deu este fenómeno; cumpre lembrar a “fichagem” de intelectuais catalanistas para as listas da UCD e o PSOE valencianos para as primeiras eleiçons logo da morte de Franco. Quando aqui choviam G's (PSdG, PCG) ao final das siglas de partidos espanhóis, no País Valenciano choviam V's. Com o tempo, quem pode encontrar um quadro de certo perfil galeguista dentro destas organizaçons? Quais som as políticas das mesmas a respeito da cultura nacional?

De volta ao livro, frente à louvança oficialista da sua mesa de braseiro, onde Pinheiro formou politicamente umha geraçom de universitários, o autor revela-nos cousas que nom nos contaram. A renúncia à reivindicaçom nacional, o desmantelamento do Partido Galeguista para se centrar na actividade cultural, ou a vergonhenta votaçom a favor da expulsom dos deputados do BNPG-PSG que se negárom a jurar a constituiçom espanhola no primeiro parlamento autonómico.

Achei especialmente interessante o apartado de Conclusons, onde o autor reflexiona sobre concessom do dia das letras a Pinheiro, um personagem “assimilável e digerível sem maiores traumas polo poder político e a elite social”. “Queiramo-lo ou nom”, di Velasco “a nossa cultura nacional [...] define-se antes de mais nada polo seu carácter de resistência, em relaçom dialéctica com a cultura do dominador”. A pesar disto, a institucionalidade cultural segue instalada no “conservadorismo e a medonha”, o que contribui para consolidar a cultura galega como “umha subcultura satélite da cultura de verdade, a espanhola, na sua pior vertente castiza e neocolonial”.

Pode parecer que esta resenha chega tarde, meses depois de rematado o ano de homenagem a Pinheiro, mas o livro mantém valores que convém nom esquecer. Sobre todo, para os e as que militamos em organizaçons culturais, oferece-nos a visom dum homem que dedicou a sua vida ao compromisso com a cultura nacional desde posiçons “politicamente correctas”. Anos depois, confirma-se a inutilidade de grande parte do mesmo. A cultura é um campo propício para a comodidade. Quem nom concorda com fazer um concerto em galego de vez em quando, ou editar um livro? O problema surge quando a cultura oprimida nom precisa da outra para sobreviver, quando esta subverte a ordem estabelecida.

A cultura galega deve escolher entre ser um regato manso entre os canais construídos por Espanha, ou um rio que os reborda. Falava ao começo do artigo de tradiçons arredor do dia das letras. Mais umha constante nesse dia é a reivindicaçom por parte do movimento normalizador de lho dedicar ao professor Carvalho Calero. Nom sei que pensaredes, mas eu acho que cada ano que passa vam-se-lhe esgotando as excusas à RAG.


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