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José Biern Boyd Perfeito

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A jangada de ideias

O que é a EDL

José Biern Boyd Perfeito - Publicado: Segunda, 22 Agosto 2011 17:38

José Biern Boyd Perfeito 

A EDL(renovada) fez 2 anos de existência oficial e marcou uma manifestação nas ruas de Luton, com vista a festejar esta data, tentando lançar uma campanha de protagonismo pùblico, ou seja, para Inglês ver.


Não é inocente o facto de esta manifestação ter sido em Luton.

Luton é uma cidade que fica a cerca de 120 km de Londres, com alguma cintura industrial ainda activa, com boas taxas de emprego, mas com duas particularidades importantes.

Em Luton fica situado um dos Aeroportos que serve várias companhias de Low Cost e com essa particularidade, é uma das entradas de Emigrantes no Reino Unido.

Outra, e mais importante, é que lá que se situa uma das grandes Comunidades Islâmicas do Reino Unido, com grandes tradições de lideranca dos restantes nûcleos (mesquitas) espalhados pelo Reino Unido. Por estas duas ordens de razões a EDL escolheu o ponto mais nervràlgico e é aí que se movimenta, procurando a agitação e o confronto para exigir mais repressão e mais autoridade para a comunidade Islâmica. A EDL afirma-se contra o que chama de islamização do Reino Unido, utilizando argumentos patrióticos e racistas para aumentar a sua base de apoio, um discurso e mensagem similar com o bombista Norueguês, que teria contactos com este grupo.

Há, na população mais fragilízada pelo desemprego, numa faixa etária entre os 16 anos e os 20, uma grande curiosidade em seguir argumentos fáceis sobre a falácia, posta a circular pelos nacionalistas, de que uma grande parte dos apoios sociais estão a ser entregues a emigrantes e não aos nacionais.

- "Se há que culpar alguém, então culpe-se os Emigrantes, os Muçulmanos que nos querem converter a todos, que não aceitam a nossa sociedade usando o véu e sobrepondo a sua cultura á nossa, e de viverem e trabalharem na nossa terra, ficando com os nossos empregos e com o nosso dinheiro, que não gastam aqui, mas no país deles" - Afirma Stephan Lennon, um dos líderes do movimento, que veste diáriamente um colete á prova de balas, encenando a sua tragí-comédia com a tolerância da polícia e das autoridades governamentais.

Este discurso entra bem em certas camadas da população, num país onde os cortes orçamentais são, como em Portugal, uma realidade diária, com o aumento do Vat (IVA) de 17.5 % para 20%, com o desemprego a subir, cortes nos serviços publicos, cortes no ensino, etc etc.

As medidas sao sempre as mesmas, seja no Reino Unido ou em que país for.

Mas quem é esta gente e qual é a historia da EDL?

A Liga da Defesa Inglesa, poderemos assim traduzir, nao nasceu apenas agora.

Nem é um movimento novo.

Aliás, este tipo de movimento, esta linha de pensamento, aparece ainda antes da Segunda Guerra Mundial, com uma parte dos Tories (conservadores) a apoiarem Neville Chamberlain e a ideia de uma Europa dividida entre Alemães e Inglêses, numa supremacia dos dois impérios, capazes de, mais tarde conjuntamente com o destino manifesto Americano, guiarem o mundo a seu belo prazer.

O que juntava Alemães, Inglêses e Americanos antes da guerra, era essencialmente também um receio da frente comunista de leste que se tornava uma ameaça cada vez mais forte.

Hitler não cumpriu o pacto com Chamberlain, o que obrigou a saída deste do Governo Inglês e com a subida de Churchil (mais preocupado com o Império e com o comunismo e em oposição a qualquer aliança com a Alemanha), representando uma área mais centrista do Partido Conservador, os extremistas ficaram isolados chegando alguns a emigrar para os Estados Unidos e outros a apoiárem directamente o regime Nazi, como foi o caso de Edward VIII, que abdicou depois para o Irmão, em 1936.( Ou o caso mais flagrante do princípe George, morto em acidente aéreo em 1942)

Houve desde então um grupo de nacionalistas que se manteve na sombra durante a Guerra e que esperou para ver o que víria a acontecer, sempre esperançados numa aliança com Hitler e com contactos permanentes, esperando que Churchill mudasse de opinião ou simplesmente, fosse derrotado. O episódio do Vôo de Herman Hess em 1941 é sintomático dessa porta aberta.

No pós-guerra, com os nazis derrotados e com a necessidade de contrapor a cada vez maior influencia da União Soviética na Europa e consequentemente, no Reino Unido, houve um reaproveitamento das ideias sobre o Estado Social, já experimentadas no início do século, para conter os descontentamentos crescentes nas populações e "segurar" um possível levantamento revolucionário socialista na Europa. A direita e o nacionalismo tinham ficado claramente desacreditados pelo sofrimento que provocaram e muitas destas eminências pardas, mantiveram-se na sombra, durante a reconstrução, ocupando as suas posições financeiras e industríais, sem ligação contudo, com a política, demasiadamente á esquerda, para permitir a lavagem da imagem da direita. Esta, para atingir o poder novamente tinha de se desfazer do passado e adoptar um discurso semi-socializante, de forma a que ainda pudesse ter controlo na política.

Durante a década de 60, os sindicatos forçam o governo de Heath, Conservador, a uma quase paralização e á derrota eleitoral dos Tories, de 74 até 1979, com a infeliz chegada de Thatcher. (Edward Heath, foi o Primeiro Ministro que levou o Reino Unido para a CEE (70-73) e foi o Primeiro Ministro do Bloody Sunday no Ulster (Irlanda do Norte) em 1972).

Durante este tempo, 74 a 79, o Labor Party (Partido Trabalhista) detém o governo, primeiro com Harold Wilson e depois com Callaghan, pondo em prática algumas políticas sociais democratas, baseada na terceira via, entre elas, as nacionalizações de diversos sectores da economia, criando mais produção e mais emprego, mas com uma crise petrolífica em mãos e com os ganhos salaríais completamente estagnados.

Com os sindicatos e a constestação social cada vez mais forte e uma emigração cada vez maior, surge na década de 60/70, um movimento que vem contrapôr o que uma série de gente de classe média alta apelidava de "a soviétificação da Gra-Bretanha", atacando os Sindicatos e os governos trabalhistas, " nas mãos" dizia este movimento "dos comunistas soviéticos"

Foi neste movimento, o nascimento da EDL e que gerou depois os movimentos gémeos de Welsh Defense League (Liga de Defesa do País de Gales) e o Scotish Defense League (Liga de Defesa da Escócia).

Nesse primeiro aparecimento (1960/70), o inimigo era o comunismo e as nacionalizações, que eram, como afirmavam na altura, contra a cultura e tradição da Gra-Bretanha, expondo o país ao poder da URSS, numa Europa que viam já perdida ás mãos dos vermelhos.

O facto é que em 1979, com a eleição da Senhora Thatcher, a EDL e as suas congéneres, desapareceram do mapa e talvez mais alíviados por o País estar a voltar á velha Rule Brittanica, durante estas trés décadas passadas (curiosamente, também com o Labor Party no poder), não se ouviu falar mais da EDL, WDL ou da SDL.

Mas o nazismo e o nacionalismo Inglês, não desapareceram. Apenas ficaram concentrados no British National Party (BNP) nascido em 1982 para agrupar essa tendencia, com os militantes agora já na meia idade e com pouca vontade de se expôr em protestos e arruaças.

A verdade é que com o colapso da União Soviética, deixou de existir um alvo direto e fácilmente absorvido pela propaganda capitalista, por alguns sectores da população.

Nick Griffin, hoje o lider do BNP, conhecido por negar publicamente o Holocausto, defender a supremacia da raça Inglêsa e a expulsão de pessoas de cor do Reino Unido, vira as baterias para os Emigrantes, mais concretamente, contra os Emigrantes do Médio Oriente e Asia, Tendo conseguido conjuntamente com o Partido Independente (Euro-Ceptico) UKIP, alguma visibilidade nas ultimas eleições Europeias.

No entanto, Nick Griffin é, apesar de tudo nacionalista e para muitos nazis, havia um iáto que ficava incompleto. A ligação ao movimento Europeu de extrema direita.

O influxo de emigração, nos anos 80 aumentou, devido á falta de mão de obra e á necessidade que Thatcher tinha de criar uma força de trabalho que destruísse a forte constestação dos trabalhadores demasiados concentrados e unidos em torno dos sindicatos, uma força que tinha derrotado o anterior Governo Conservador de Heath e que Thatcher sabia que tinha de submeter. Era uma questão de vida ou morte, para a dama de ferro.

A utilização da Emigração como arma de arremesso contra os trabalhadores é uma das formas de governos neo-liberais e capitalistas destabilizarem as lutas dos trabalhadores e criarem conflitos entre estes, de forma a nívelarem por baixo, direitos e salários, aproveitando a fragilidade e necessidade dos Emigrantes em seu próprio benefício.

O facto é que em finais de século XX e primeira década do século XXI, as tensões entre a comunidade Islamica e alguns sectores da população, começam a surgir e impulsionados pelos atentados, em Nova York e em Londres, utilizando o terrorismo e o radicalismo Islâmico como bandeira, surge um grupo de jovens, todos eles herdeiros das classes medias altas, que retomam a ideia da EDL, WDL e SDL.

Mas desta vez, o inimigo é outro, já não é o comunismo.

Utilizando o chavão da diferença cultural, Islamofóbica e extremista, A EDL, que conjuga uma série de neo-nazis, hooligans, skin-heads, afirma que o Reino Unido está "ocupado por teias de Islâmicos radicais e que a raça branca está a ser dizimada pelos Muçulmanos, hoje em crescimento mais rápido no País".

Afirmam que "o governo está controlado pelos Muçulmanos, que há sectores da sociedade que estão já debaixo de controle dos muçulmanos e que não há segurança no Reino Unido devido aos Muçulmanos".

Tem havido por parte da sociedade Inglêsa, uma resposta firme e dura, seja pela sociedade activa, com movimentos apoiados pelos Sindicatos, como Unite Against Fascism, ou pela comunidade Muçulmana que está também preocupada com estes movimentos nazi- fascistas.

Uma das formas de derrotar a EDL e as suas manifestações é organizar contra-manifestações que as nossas organizações normalmente superam em maior número e os nazis-fascistas desmobilizam e desaparecem, sem confrontos.

No entanto, há aspectos sociais a ter em conta.

Como escrevi do ínicio deste texto, os jovens são o alvo princípal deste famigerado grupo de criminosos e utilizam todas a vias possíveis para chegar a eles.

Tem sido reportado ultimamente, que vários membros se infiltram nos communitary centres, (uma normal associação de bairro), nos youth centres ( centros de juventude) em bairros problemáticos e em zonas onde o desemprego é uma realidade dolorosa.

E muitos destes jovens, apesar de públicamente nao se assumirem, enchem as fileiras destes movimentos, nas manifestações, com hoodies e lenços na cara, fazendo a saudação nazi e gritando palavras de ordem contra os Emigrantes.

Também nas redes sociais e na internet, promovem contactos, sendo hábito diário dois ou très dos seus membros utilizarem a Radio 4 (BBC) para ligarem e fazer comentários e dar opiniões.

Claro que todo este clima de crise que o sector politico/financeiro nos atirou para cima, vem extremar mais o sentimento de fustração e de desmotivação social que, bem manipulado e controlado, se volta contra as classes trabalhadoras e não contra os Governos e os Políticos.

E foi bem visível, o discurso de David Cameron, em Munich, acerca dos Emigrantes e da tolerância passiva, um dia antes da marcha da EDL em Luton.

Em algumas estações de comboio, grupos de anti-fascistas, evitaram que alguns membros da EDL viajassem para Luton, assim que muitos ficaram aquém de chegar a essa odiosa manifestação. São grupos de pessoas que sabem o que representam essas ídeias, entre novos e velhos, mulheres e homens, sabem que uma distração é fatal, não é novo na história da Europa.

A sociedade Inglesa, Galêsa, Escocêsa e Irlandêsa (Ulster) está viva e activa, nao esquece a Guerra, nem o racismo a que a Europa assistiu.

A polícia e o poder político consideram os anarquistas e os comunistas revolucionários, como os perigosos terroristas que devem ser denunciados e vigiados. Em relação aos nazi-facistas da EDL e do BNP não faz nada, está tudo bem. Eles defendem o mesmo.

Novamente no dia 3 de Setembro, iremos ter uma marcha nazi-fascista da EDL, desta feita em Londres, com um objectivo simples. Criar uma ídeia de antítese aos acontecimentos passados na capital Inglêsa, tentando demostrar que os arruaceiros são os outros. Essa vai ser a princípal mensagem que a EDL vai tentar passar, para os Britanicos e para o mundo.

Vai-se ver, uma perfeita conjugação, entre a polícia e os nazi-fascistas, com polícias sorridentes e os média vão referir a calmaria e a paz dos protestantes, com imagens escolhidas para isso mesmo. Vão tentar não fazer disturbios, não confrontar as marchas opostas que já temos organizadas para lhes dizer o que pensamos deles.

Mas não de iludam. Como bem se recordam, tudo começou em pequenos discursos de cervejaria, em Munich (1921), um aspecto demasiadamente simples para se achar que seria importante. Pois foi muito importante.

A democracia que nos resta, apesar de ser pouca e adulterada, é o caminho para outra democracia, para outro sistema. Não a deixaremos ficar em risco...

Oxford, 21st August 2011


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