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Afonso Mendes Souto

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Umha vista de olhos

Tomás G. Alea. A pedagogia revolucionária no cinema

Afonso Mendes Souto - Publicado: Terça, 02 Agosto 2011 02:00

Afonso Mendes Souto

Em 1960 Historias de la revolución inaugura o Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos (ICAIC). Como afirma o ator Sergio Corrieri no documentário Soy Cuba, o Mamute Siberiano (Vicente Ferraz, 2005), este facto foi algo extraordinário, já que deu às atrizes e aos atores cubanos a possibilidade de trabalhar, cousa que era impensável até a revoluçom.


O realizador que inaugurou esta era do cinema em Cuba foi Tomás Gutiérrez Alea (Titón para as pessoas mais achegadas).

Pola orientaçom do texto aqui apenas se vai falar dos filmes de ficçom deste realizador, polo que obviamos os seus documentários e filmes que falam da cuba pré-revolucionária.

A nova aposta do cinema inaugurado em Cuba com Alea está enquadrada no contexto do Novo Cinema Latino-americano, cujos critérios fundamentais consistem em desmarcar-se de Hollywood e do cinema de autor europeu para conseguir que a história seja mais importante que a estética e os recursos do filme. A carta de apresentaçom tanto de Alea em particular como do cinema da América latina em geral inclui os seguintes traços caraterísticos: espírito independente, denúncia política e social, simpleza e profundidade, otimizaçom dos recursos ante a falta de orçamento e sobretodo um tipo particular de humor, que é quase umha constante e um dos principais atrativos objetivos deste modelo de cinema.

A importáncia concreta de G. Alea dentro do Novo Cinema Latino-americano em particular e do cinema em geral tem o seu celme em duas questons:

1ª Fai cinema para que chegue sobretodo à sociedade cubana e esta reflita sobre o tema tratado com o fim de dar soluçom às contradiçons que ainda existem na cuba revolucionária. Como di a personagem que Mirta Ibarra (habitual nos seus filmes e viúva do realizador) interpreta em Hasta Cierto Punto (1984) "se o problema nom se conhece, nom se resolve". Como já dixemos, Alea nom é a única pessoa que foca assim a sua arte, porém sim é quem o fai desde um perspetiva nitidamente de esquerda e de umha visom particularmente cubana.

2º Precisamente o facto anterior dinamita aquelas vozes que acreditam que em Cuba nom há liberdade de expressom. Alea nom se corta na hora de escolher temáticas e algumhas som conhecidas precisamente por polémicas.

Um exemplo do anterior é o filme Fresa y Chocolate (1993), que expom a situaçom de um homossexual em Havana e das atitudes reacionárias do seu entorno, membros, alguns, do PCC. Nem o governo, nem a sociedade cubana figérom pola deportaçom a Miami nem polo encarceramento deste realizador por este filme nem por nengum outro, mas reconhecêrom o seu trabalho e Alea foi o orgulho do cinema que se fijo em Cuba após a revoluçom, em sobrevivendo à sua morte. Em todo o caso, seria estranho que umha figura assim nom tivesse ficado isenta às críticas e há quem o acusa de contra-revolucionário polos seus últimos filmes. Mas os factos som os factos.

Umha caraterística importante do cinema deste realizador, e do Novo Cinema Latino-americano em geral, é o sentido do humor. Isto demonstra-se em filmes como: Las Doce Sillas (1962), La muerte de um burócrata (1966), Los sobrevivientes (1979), Hasta cierto punto (1984) ou Guantanamera (1995).

Quiçá o trabalho mais complexo do ponto de vista inteletual, mais conhecido e mais logrado seja Memorias del subdesarrollo (1968), um filme sério sobre o que o próprio Alea di: "trata-se de um filme que inquieta e quando acaba fai operar a cabeça do espetador, porque estamos num processo inconcluso face a umha sociedade ideal". Na linha do comentário anterior é que podemos considerar este filme como paradigma do cinema do realizador e um dos do cinema latino-americano (exceto pola ausência do habitual humor neste cinema), porque longe de fazer propaganda sobre um tema, no que o cinema soviético podia cair mais, o que se pretende é fazer pensar, convida a quem vir o filme a um diálogo dialético e isto, como já dixemos, é de todo menos propaganda. De Memorias, Alea dixo antes de morrer que gostava que o filme se figesse velho, porque isso implicaria que já nom serve para resolver os problemas que nele expom por estarem já superados.

Titón realizou os dous últimos filmes (Guantanamera e Fresa y Chocolate) em parceria com Juan Carlos Tabío (especialmente recomendável o seu divertidíssimo Lista de espera de 2000), porque estava já muito doente e porque Tabío tem um modo de ver e expor o cinema semelhante ao de Alea.

Longe, portanto, de um cinema de corte propagandístico, G. Alea propom um cinema onde, ora através do drama, ora através da comédia, o certo é que se visualizam problemas que afetam à sociedade cubana como um exercício pedagógico, para procurar soluçons, isto é, reconhecendo a existência do mesmo.

Estou convencido de que a vontade dialética de Tomás G. Alea é reflexo da sociedade cubana e por isto quero acreditar num ambiente favorecedor da liberdade de expressom dentro da ilha. Se Cuba e o seu cinema me transmitirem algo concreto, acho que é que a sociedade cubana é a que menos tem que ocultar e que de facto é a que menos o tenta.


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