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Lucas Morais

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Crítica radical

15M: A rede rebelde da juventude espanhola

Lucas Morais - Publicado: Quarta, 22 Junho 2011 02:00

Lucas Morais

O Movimento 15 de Maio foi convocado inicialmente como “Democracia Real Já”, chamando para protestar nas praças do Estado espanhol neste dia contra a farsa que é o sistema político herdado da transição, após a morte do General Franco, em 1975. Na segunda-feira seguinte ao 15 de Maio, a polícia atacou o acampamento espontâneo que um pequeno grupo de pessoas havia levantado em Madri. Também houve repressão ao acampamento de Barcelona no início de junho. Isto provocou uma grande reação contra o Estado espanhol e disparou protestos ao longo do país.  


Uma democracia liberal oriunda de uma transição que manteve intacto o Reinado Espanhol e seu Estado fascista, que oscila entre a extrema direita do Partido Popular (PP) e o Partido Operário Socialista Espanhol (PSOE) - sintetizado pelo movimento 15M acertadamente como “PPSOE” -, o Estado espanhol, projeto construído sobre as bases do fascismo triunfante da Guerra Civil Espanhola contra os republicanos e a esquerda, é hoje um dos epicentros da crise global do capitalismo. Dentre os milhares de participantes dos acampamentos, protestos e assembleias que proliferaram por mais de 120 cidades do país, a maioria de seus participantes são jovens. Madri e Barcelona realizaram acampamentos com uma sofisticada organização, que incluía comissões de limpeza, alimentação, comunicação, e várias outras.

O Estado espanhol, por sua vez, oferece hoje à sua juventude a realidade de mais de 20% de desemprego, sendo que, dentre os jovens, são mais de 40% de desempregados, e, os que encontram emprego, precisam se submeter a contratos de trabalho flexibilizados, temporários e com salários baixos. Esta geração vai se tornando conhecida nos últimos anos como “Geração 700 Euros”, em função da média de salários impostos pelos capitalistas. Esta instabilidade acabou por criar uma condição em que, mesmo após a graduação em universidades e a qualificação profissional, 85% dos jovens se veem obrigados a manterem-se residindo com seus pais, os demais optam por viverem em repúblicas ou até se engajarem em movimentos de ocupação e resistência por moradia, como o V de Vivienda.

Estes jovens falam mais de uma língua, foram educados já na “era da Internet”, possuem notebooks, participam de redes sociais e se organizam também através delas. E nenhum destes jovens se vê representado na atual ordem social, muito menos pelos políticos da ordem burguesa, que são vistos todos como verdadeiros traidores dos anseios democráticos e libertários. Para estes jovens, toda a ordem política econômica é uma farsa, o que, contraditoriamente, traz discussões programáticas anticapitalistas e/ou reformistas para o movimento. São jovens sem experiência trabalhista, sindical, partidária, e querem superar com o assembleismo e o horizontalismo de suas redes toda estrutura política e/ou hierárquica em que não se veem representados, ao mesmo tempo que institui novas frentes e formas de luta.

Pode-se dizer que, se por um lado a Internet e seu desenvolvimento representou um aumento da produtividade do trabalho, um gigante incremento para a extração de mais valor da classe trabalhadora (logo, mais lucro) e facilitadora para a circulação de mercadorias, por outro lado os movimentos sociais também aumentam sua produtividade, com a facilitação da comunicação, organização e articulação internacional das lutas sociais.

A realidade do trabalho social no Estado espanhol não oferece horizonte algum aos jovens indignados. Somente cerca de 19% da força de trabalho é sindicalizada. O PSOE se aprofunda no reformismo neoliberal e amarga derrota de 20% nas eleições municipais. Já a direita ganhou apenas 2%. Não há partidos anticapitalistas hoje capazes de aglutinar, nem eleitoralmente, nem em militância, as aspirações destes jovens.


Da indignação à revolução social

Apesar de ser um movimento oriundo da pequena burguesia, este movimento tem sido bem visto pela maioria das pessoas, principalmente os trabalhadores, que não “passam” por crises, mas sim vivem permanentemente em crise. Na Catalunha, os acampantes de Barcelona se solidarizaram com trabalhadores grevistas que estavam ansiosos para conhecer estes jovens lutadores. E é justamente este o movimento hoje mais urgente. Levar o assembleismo, o ativismo cotidiano, o anticapitalismo, a fraternidade socialista e todos os frutos de democracia direta colhidos nas praças para que os trabalhadores passem a se organizar independentemente dos sindicatos burocratizados e à serviço dos capitalistas para que construam uma articulação que agregue a juventude, os trabalhadores e o povo em suas comunidades, em um amplo movimento social que tenha ambições internacionais, dado que a ordem do capital também o é. Deve-se enfrentar este sistema em seu terreno, ou seja, em todo o globo. Esta é a rede urgente que a juventude espanhola tem diante de si.

* Artigo publicado originalmente em Jornalismo B, impresso.


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