1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (1 Votos)
Carlos Taibo

Clica na imagem para ver o perfil e outros textos do autor ou autora

Queda do império

De Sortu a Bildu: Câmaras municipais democráticas?

Carlos Taibo - Publicado: Sábado, 14 Mai 2011 02:00

Carlos Taibo

Muito gostaria de que alguém conseguisse convencer-me de que os empecilhos sem conto que se impuseram, primeiro à legalização de Sortu e, mais adiante, à da coligação eleitoral Bildu, obedecem a uma birrinha passageira em virtude da qual juízes e políticos estar-se-iam tomado uma cumprida desforra perante o acontecido durante decénios.


Se assim fossem os factos, iria mostrar-me mais que disposto a passar página e a me esquecer de tudo isto.

Não há, no entanto, nenhuma garantia de que nos achemos perante uma simples e passageira birra que logo dará pé a notícias mais estimulantes. E isso que alguém alegará, com respeitavilíssimo argumento, que o que estão a fazer juízes e políticos bebe em mais de um sentido de um curioso paradoxo: fazem-no porque, digam o que diserem, sabem que a coisa não tem voltada atrás, isto é, que a ETA não vai regressar a onde estava, com o que preservar uma linha de estrita pressão/repressão sobre a esquerda abertzale tem nestas horas um custo e um risco, não já limitados, senão mais bem nulos.

Examinemos, ainda assim, as circunstâncias com maior detalhe. O primeiro que corresponde dizer é que não pode senão surpreender que o peso da prova a respeito do que são ou deixam de ser os militantes de Sortu e os candidatos de Bildu recaia sobre os relatórios de duas instâncias, a polícia nacional e a guarda civil, que são, claro, juiz e parte, e que a duras penas cabe admitir, de resultas, estão chamadas a assumir uma conduta neutra. Ainda que aceitemos que com a polémica lei de partidos na mão os relatórios dessas duas instâncias se mostram ineludíveis, não seria saudável que esquivásemos, com tudo, a discussão principal. Esta última não é outra que a que remete ao argumento maior empregado para postergar o Sortu e, ao menos até a hora em que se escrevem estas linhas, ao próprio Bildu: o que assinala que configuram meros prolongamentos do Batasuna e, se for o caso, da ETA.

Porque, e vamos ao cerne da questão, que outra coisa caberia esperar que fosse Sortu senão uma força política continuadora do Batasuna e do seu mundo? Teria algum sentido que surgisse do nada, de tal sorte que o Batasuna continuasse a perviver como tal, se mantendo nas suas treze? O que constitui uma novidade notabilísima, e para bem, é precisamente o facto de que quem ampararam durante muito tempo a violência de ETA se mostrem nestas horas manifestamente dispostos a se afastar daquela. O interessante é, em outras palavras, que efetivamente o Sortu, e os militantes deste presentes nas listas do Bildu, procede do Batasuna e não deixa margem para a dúvida no que se refere à mudança operada dentro desta última. Uma mudança, dito seja de passagem, que com toda a certeza foi realizada não sem conflito, isto é, não sem a derrota de quem porfiaba em manter as regras do jogo do passado.

A meu entender, e ao de muitos outros, sobram as razões, pelo demais, para afirmar que o Sortu cumpriu com o que durante anos exigiram os promotores da lei de Partidos, algo que torna moderadamente surpreendente a conduta presente da abrumadora maioria dos defensores desta última. Parecesse como se aos olhos destes qualquer pessoa que mantenha no passado algum vínculo com Batasuna estivesse condenada para sempre. Ainda bem que o voto é secreto, porque algum destes adalides da democracia bem poderia sentir a tentação de retirar o direito correspondente a quem respaldou no passado à mentada Batasuna.

Permita-se-me que, em tais condições, formule três perguntas delicadas. Não é legítimo, em primeiro lugar, que teimemos em concluir que há quem parecem preferir a miséria em que vivemos durante decénios dantes que os horizontes de mudança que se abrem da mão de um processo razoavelmente esperanzador? Não tem um direito, em segundo termo, a suspeitar que alguns dos surpreendentes silêncios destas horas obedecem ao mesquinho propósito de ganhar votos sem os merecer ou ao ainda mais prosaico de não os perder perante a investida ultramontana do rival? As coisas como vão, em fim, há algum motivo sólido para aseverar que as eleições autárquicas que vão ter lugar proximamente no País Basco têm uma inequívoca condição democrática?


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.