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Afonso Mendes Souto

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Umha vista de olhos

Die Mörder Sind Unter Uns. O primeiro filme da Alemanha oriental

Afonso Mendes Souto - Publicado: Domingo, 24 Abril 2011 02:00

Afonso Mendes Souto

Imaginemos por um momento que, na Galiza atual, houvesse umha produtora cinematográfica contestatária que desse ao povo galego, e também que exportasse ao mundo, umha visom de esquerda do que se passa no País.


Imaginemos um cinema que nascesse por exemplo a fazer um epopeico filme sobre os últimos dias de Moncho Reboiras, que denunciasse o genocídio lingüístico e antropológico que estamos a sofrer ou que oferecesse umha visom distinta da habitual sobre pessoas como por exemplo, Manuel Fraga Iribarne, e que figesse memória sobre os seus crimes como ministro no regime franquista. Infelizmente é de supor que isto nom está pronto a acontecer.

Umha proposta parecida à anterior foi a realidade levada à Alemanha oriental graças ao Exército Vermelho ter contribuído, como causa principal, à capitulaçom do nazismo na II Guerra Mundial. Ao entrar em Berlim em 1945 e previamente ter lançado a brilhante contraofensiva a Hitler ao longo da frente oriental é que os aliados se decidírom a lançar a ofensiva final contra o nazismo. No ano seguinte, em 1946, numha Alemanha libertada do nazismo, mas dividida, foi que Wolfgang Staudte realizou Die Mörder Sind Uns (Os Assassinos Estám Entre Nós). O filme nasce sob o selo da DEFA (Deutsche Film AG), a produtora do momento na Alemanha do Leste e da futura R.D.A (ainda nascerá em 1949).

Já Lenine afirmara que o cinema é a mais importante de todas as artes e países do bloco socialista, enquanto pudérom, pugérom-se a isso. O valor pedagógico do cinema radica da possibilidade de jungir, bastamente, arte e ciência (no sentido sensual e imagético), como afirmou e ensaiou Sergei Eisenstein. Daí que para o que havia ser a R.D.A também quigessem este modelo de cinema e nom é de estranhar que este seja o primeiro filme da nova Alemanha que se estava a construir no Leste.

No entanto nom nos enganemos, sem ser um mau filme esta experiência cinematográfica é valorizável sobretodo polo fator histórico e polos intuitos estéticos, para além da sua nobre finalidade política. A história nom está bem lograda, por exemplo, custa muito aceitar a relaçom forçada e repentina entre os protagonistas.

Contodo, como já anunciamos acima, o filme nom está isento de exercícios estéticos, embora nom chegue nem de longe ao nível atingido por exemplo por Eisenstein no Couraçado Potemkin ou por Kalatozov em Soy Cuba[1]. Mas a vontade estética fica clara neste sentido quando por exemplo chegamos ao diálogo de sombras que é um jogo em que se mistura a escuridade e as luzes ao modo do expressionismo alemám. Este jogo recorda também o Film Noir, de facto é a década deste género e está em pleno apogeu.

O filme joga com umha clara vantagem que o realizador soubo aproveitar bem, é o facto de filmar num momento em que a cidade de Berlim está destroçada como resultado da guerra, a localizaçom é do melhor do filme e pouco tem que invejar a Rossellini em Germania, Anno Zero (1948), filme ao qual tanto se semelha neste sentido.

Estamos logo ante um filme nom demasiado bem narrado, mas que, no entanto, é umha apurada mistura que está a cavalo entre o neorrealismo italiano e o Film Noir, para o qual Wolfgang Staudte aproveita a tradiçom artística alemá, ao incorporar as expressionistas sombras e luzes. Um dos alvos do expressionismo alemám no cinema de antano era o de mostrar a crise social que existia através de umha instabilidade e agonia existencial e por isto também é que é utilizado aqui.

Este filme, além do mais, tem personalidade própria e nom fai um simples decalque do cinema soviético, por exemplo, o protagonismo nom é coletivo, mas individual, os personagens protagonistas e a cidade em si (como localizaçom física) som as autênticas estrelas que servem ao argumento, isso sim, com fins sociais. Porque nom poderia ser de outro jeito e o filme afinal é umha clara declaraçom de intençons políticas ao serviço do povo trabalhador alemám.

A DEFA ha produzir entre 1946 e 1995, quando se realiza o derradeiro filme deste selo (Novalis - Die blaue Blume) quase uns 8.000 títulos entre filmes e documentários, nom todos sobre temática alemá, o seu caráter internacionalista levou a DEFA a, por exemplo, também denunciar o golpe de Pinochet no Chile de Salvador Allende.

Desde a Alemanha, hoje, estám-se a fazer esforços por divulgar este legado. Parece que se podem conseguir muitos títulos em DVD, mas apenas em alemám ou com legendas em inglês, no entanto através da internet também há trabalho voluntário que facilita a possibilidade de conseguir legendas noutros idiomas para os filmes da DEFA que circulam na net. O cinema da DEFA é um legado documentário da história, umha visom que apenas se podia dar desde a Alemanha do Leste e que sempre se nos negou até mesmo os dias de hoje. As temáticas/géneros dos filmes som diversas, a saber: Revoluçom francesa (Treffen in Travers, 1988), ciência ficçom (Der Schweigende Stern, 1960), fantasia (Das Kalte Herz, 1950), homossexualidade (Coming Out, 1989), inquietaçons da juventude alemá (Solo Sunny, 1980), personagens históricas do marxismo (Rosa Luxemburg, 1986) e, como nom, também a II Guerra mundial, onde podemos ver perspetivas distintas sobre os factos históricos, como por exemplo em Ich War Neunzehn (1968), onde advertimos umha atípica situaçom deslocalizada com respeito à capital, Berlim, e conhecemos um novo ponto de vista ou foco sobre o tema. Também se oferece umha perspetiva distinta sobre os gettos judeus em Jakob, der Lügner (1975), onde podemos ver como se vivia através de umha interessante mistura de denúncia e comédia.

Um apontamento apenas anedótico é que Fritz Lang quijo utilizar o título O Assassino Está Entre Nós para M., O Vampiro de Düsseldorf (1931). Será este filme em parte umha pequena homenagem ao genial realizador através do título e do personagem do Sr. Timm que tanto recorda o Cornelius do Testamento do Dr. Mabuse? Se quadra nom é umha tontície, o Lang para além de ser homenageável por toda a parte estava contra a doutrina nacional-socialista, auto-exilou-se primeiro a França e depois aos EUA, quando Goebbels o queria contratar para dirigir a UFA (Universum Film AG), todo encaixaria.

Parece, portanto, que depende das e dos amantes do cinema mais político e do potencial da internet o conhecimento destas e outras jóias, como as que há sobretodo no cinema soviético, cinema, que pola sua idiossincrasia nom nos vam facilitar nem as distintas televisons, distribuidoras ou governos que poda haver no Estado para as televisons públicas. Também nom é previsível um ciclo deste cinema nas televisons privadas que padecemos.

Em todo o caso, é tarefa das e dos amantes deste tipo de cinema achegar-se a este legado e assim conhecer essas obras que continuam a viver como os relógios das e dos soldados mortos na II Guerra Mundial.

Lóbios e Corunha, abril de 2011

Notas

[1] Nom vai ser aqui que nom se reconheça o valor estético de Andrei Tarkovski, porém e ainda que nom vamos desenvolver neste texto a tese, vamos exclui-lo da lista de realizadores soviéticos, entendéndomos o termo "soviético" no sentido estrito da palabra, cheio, portanto, do seu conteúdo político em plenitude.


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