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Raphael Tsavkko Garcia

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Defenderei a casa de meu pai

Turquia e Espanha, irmãs na repressão

Raphael Tsavkko Garcia - Publicado: Sábado, 23 Abril 2011 00:06

Raphael Tsavkko

Poucas pessoas poderiam olhar para países aparentemente tão diferentes - e distantes - como a Espanha e a Turquia e notar o quão semelhante são.


Uma muçulmana, aparentemente laica, outra católica, também aparentemente laica. Mas em ambos os casos fortemente influenciadas por suas tradições e pressões religiosas.

Ambas um caldeirão de nações, algo muito distante da imagem internacional que tentam passar de homogeneidade. Bascos, Catalães, Galegos, Andaluzes, Aragoneses, Asturianos, Leoneses, dentre outros, habitam o Estado Espanhol em clara inferioridade frente aos Castelhanos.

Armênios, Curdos, Circassianos, Assírios, dentre outros, habitam a Turquia e, em mutios casos, são discriminados. Obviamente a Turquia se apresenta como um país mais homogêneo que a Espanha, mas ainda assim, suas minorias pagam um alto preço.

Semelhante à Espanha Franquista, a Turquia dita democrática, governada por um partido muçulmano moderado (em oposição à tradição laica de Ataturk), continua a proibir o ensino e em muito casos, o uso da língua Curda (ou das línguas curdas). A repressão à minoria curda encontra amplo paralelo com a repressão franquista aos bascos e catalães. A diferença crucial, porem, é que a Turquia é considerada uma democracia moderna.

A Espanha ainda prende, tortura e mata lutadores bascos, mas ao menos faz esforços para fingir que todos são membros da ETA (o que, segundo eles, deveria legitimar a tortura), criminosos e etc. A Turquia não se preocupa com tais atitudes.

Em 2003 o partido nacionalista basco Batasuna (Unidade) foi ilegalizado pela justiça (sic) espanhola por supostamente ser o braço político da ETA - o que na verdade pouco importa, dado que sempre foi notório ser o Sinn Fein braço do IRA, o que acabou facilitando negociações de paz -, assim como todos os partidos nacionalistas que viriam posteriormente a surgir.

Em 2009 (dezembro), o partido nacionalista curdo DTP (Partido da Sociedade Democrática) foi banido pela justiça (sic) turca. As acusações eram a de ter conexões com organizações terroristas, ou seja, com o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) de Abdullah Öcalan, atualmente na cadeia.

Notem a tremenda e indiscutível semelhança entre os casos. Aliás, já que falamos em Öcalan, tracemos um paralelo com Arnaldo Otegi. Ambos fizeram parte do PKK e ETA respectivamente e embora o primeiro tenha sido preso ainda na liderança do grupo enquanto Otegi já era líder do Batasuna na legalidade e posterior ilegalidade, ambos convergiram para posições críticas ao uso da violência, abrindo o caminho para negociações e para a diminuição de animosidades.

Ambos estão presos. Öcalan por toda sua vida e Otegi por "enaltecimento ao terrorismo", o dispositivo legal favorito dos espanhóis para prender todo basco que tem orgulho de seus lutadores.

Assim como os bascos, divididos entre Espanha e França e com uma imensa população na diáspora, os curdos são divididos pela Turquia, Síria, Irã e Iraque e também compõem uma enorme diáspora.

São povos antigos, oprimidos, brutalmente reprimidos em seus direitos mais básicos.

Mas as semelhanças continuam. Recentemente o partido nacionalista basco Sortu (Nascer), a mais nova tentativa dos abertzales de representar seu povo, foi ilegalizado. A coalizão eleitoral Bildu (Unir) foi então formada, da união de dois partidos legais, Eusko Alkartasuna e Alternatiba com centenas de independentes, em meio à proibição de perto de 40 mil bascos serem proibidos de concorrer às eleições por já terem, em algum momento de suas vidas, participado de qualquer partido remotamente ligado ao Batasuna.

Trata-se da mais cruel forma de censura política, a de impedir que pessoas possam se eleger por terem militado na esquerda nacionalista, mesmo que nos anos 80, 90, quando o Batasuna (ou o Herri Batasuna ou o Euskal Herritarrok) era legal.

Na Turquia, a história se repete.

12 candidatos independentes, dentre eles 7 curdos foram proibidos de concorrer nas eleições vindouras para o Parlamento. A isto soma-se a barreira eleitoral turca, feita na medida para tentar impedir a presença de curdos no parlamento, de 10% dos votos nacionais. enquanto na Europa raramente esta barreira passa dos 5%, na Turquia ela dobra e praticamente inviabiliza a chegada de qualquer curdo ao parlamento.

As razões são simples, compondo centre 15 e 20% da população, praticamente todos os adultos deveriam votar num mesmo partido, sem levar em conta qualquer tipo de impedimento ideológico. Eleitores de esquerda e direita deveriam votar no mesmo partido e, se brincar, ainda contar com votos turcos para conseguir, finalmente, superar a barreira.

Democrático, não?

As exigências de ambos os povos, curdo e basco, também é semelhante. Querem ter o direito à liberdade, a decidir seu próprio futuro. E mais:

The demands call for the right for Kurds to be educated in their own language and the freedom to use it in the political arena; the immediate cessation of military operations against Kurds by the Turkish Army; the release of all political prisoners, including Abdullah Öcalan, the leader of the Kurds' illegal military wing, the P.K.K.; and the removal of the controversial 10 percent electoral threshold that bars any party that cannot attract that share of the national vote from gaining seats in Parliament.

O direito de serem educados em curdo/basco e a liberdade de usar suas línguas na arena política. O fim das operações militares contra curdos e bascos (uso de armamento pesado e bombardeios no Curdistão e ações policiais repressivas no País Basco), a libertação dos prisioneiros políticos (dentre eles Öcalan e Otegi) e o fim da barreira de 10% no Curdistão/Turquia e do banimento de partidos no País Basco/Espanha.

Dois povos tão distantes, tão distintos, mas que compartilham de histórias semelhantes de repressão e abusos.


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