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José Borralho

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Desassossegar

Estamos em crise?

José Borralho - Publicado: Quinta, 18 Março 2010 09:55

José Borralho

O lucro do capital, apesar de usufruir de uma menor taxa, continua a poder propiciar um paraíso terreno aos seus melhores servidores. 


Parece que as elites ainda mal deram pela crise. Falamos aqui das elites intelectuais, das elites empresariais e de todo o séquito que as rodeia e serve. Não admira que queiram fintar a crise. O seu mundo está distante dos mesquinhos problemas das massas, circunscritos ao emprego, ao salário para sobreviver e à luta pelas mais elementares condições de subsistência. Estas, não têm de forma nenhuma as preocupações civilizacionais da dimensão histórica europeia nem os seus padrões culturais. A atitude das elites face à crise, revela o comportamento normal de quem sempre esteve afastado da realidade da vida do povo. Mas, não vão as coisas complicar-se, nos últimos dois anos pareceram aves de rapina na corrida aos altos salários e prémios por “mérito,”saltando das cadeiras de deputados, ou de ex-ministros, directamente para as administrações das empresas. Ignorando a crise, e ao mesmo tempo exigindo medidas duras contra os trabalhadores, - economistas e juristas do sistema, magistrados, militares de topo, políticos de carreira e os seus filhos e colegas de partido, presidentes de bancos e de empresas públicas envoltos em escândalos de corrupção a que a justiça não responde, - toda a fina flor da sociedade burguesa, assumem a atitude dúplice de quem quer estar sempre na parte superior da podre sociedade que os alimenta. Fingindo ser os últimos a saber que existe realmente uma profunda crise do sistema, mantêm-se a viver na doce ilusão de que são os guardiões dos chamados valores e padrões de vida ocidentais, dando o espectáculo degradante de abutres à espera do cadáver. 

Crise! Os hotéis de cinco estrelas, os restaurantes de luxo, as estâncias e os SPAs, as tertúlias num parlamento com luxuosas, modernas, e renovadas condições, as passereles, os chás de beneficência e a ostentação dos mais ricos na revista Forbes com as suas descomunais fortunas. Os brutais lucros, salários, privilégios e mordomias de que gozam estas minorias, coloca-os à distância da crise.

O lucro do capital, apesar de usufruir de uma menor taxa, continua a poder propiciar um paraíso terreno aos seus melhores servidores. A existência de uma crise não significa, -acto-contínuo,- a passagem imediata das classes burguesas para a sua proletarização. Essa situação acontece com os trabalhadores por conta propria, com algumas micro e pequenas empresas dependentes do trabalho das grandes empresas, e que são apanhados na teia das reorganizações do capital.

Mas será real a crise de que tanto se fala por todo o mundo?

Marx está  vivo e mais actual do que nunca, tanto na análise dos processos que conduzem o capital às inevitáveis crises, como e principalmente na perspectiva de saída do impasse e retrocesso a que o capitalismo chegou, com a produção de um cada vez maior e permanente exército de mão de obra excedentária. A saída de Marx é, como todos sabemos, a revolução proletária e a socialização dos meios de produção a caminho de uma sociedade igualitária.

Mas, dizem os intelectuais burgueses, o sistema tem um escape com a entrada em cena das novas economias dos chamados países emergentes: a India, a China, o Brazil e mais alguns países Africanos.

Podem de facto manter negócios e exportar capitais para estes países, mas fazem-no cada vez mais numa situação de menoridade, do náufrago que se agarra ao salva-vidas no desespero provocado pela tempestade. Estes países irão presumívelmente passar por processos de desenvolvimento acirrado de luta de classes, em particular na China e na India onde os direitos dos trabalhadores valem pouco mais que zero. Aí, o crescimento do proletariado às centenas de milhões poderá tornar-se numa fonte de conflitos com o capital local, trocando as voltas aos desejos de exploração tranquila do capital mundial em crise. 

Com as fontes de matérias-primas tradicionais profundamente delapidadas e cada vez mais esgotadas, a destruíção acelerada do meio ambiente e dos valores ecológicos, a redução da necessidade de mão-de-obra por via da introdução das novas tecnologias, o abandono das terras de cultivo e a sua desertificação humana e esterelidade produtiva, o desemprego permanente de muitos milhões de trabalhadores, a sistemática redução da taxa de lucro do capital e o recurso à financeirização da economia, resultam num quadro de fim de ciclo. O sistema está maduro para ser substituído. Por muitas reformas e remendos que a pequena burguesia de esquerda invente para conter a luta de classes num quadro aceite por todas as classes, a roda da história não pára. Deixá-los demonstrar a sua mansidão face aos burgueses no seu local preferido: o parlamento.

A guerra que o imperialismo americano com o seu braço armado cada vez mais reforçado, NATO, e os seus lacaios europeus e israelitas desenvolvem contra os Povos afegão, iraquiano e palestino, as guerras que preparam contra o povo iraniano, e a sua ação reaccionária face aos povos da América Latina e de Cuba, que levantam barreiras aos seus desígnios violentos, são a evidência de que o capital não vai recuar perante os seus adversários à medida que a crise internacional se agravar.

Fazem falta como do pão para a boca, ao proletariado e às massas trabalhadoras, tácticas ágeis e revolucionárias, fazem falta formas de luta mais prolongadas e combativas, que dêem ânimo e perspectiva de que é possível um mundo sem exploradores. Faz falta um sindicalismo combativo que una o proletariado e as massas à escala continental, e faz falta tornar perceptível o grande ideal marxista. 

Podemos usar tácticas que não caiam nem no reformismo, nem na impotência das pequenas seitas? Pensamos que sim.


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