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Alexandre Haubrich

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Espelhismos

Por que espelhismos

Alexandre Haubrich - Publicado: Quinta, 20 Janeiro 2011 15:44

Alexandre Haubrich

O calor extremo dos desertos cria uma camada de ar quente logo acima da areia. Por causa do baixo índice de refração dessa camada, dependendo do ângulo de visão o observador pode enxergar o reflexo do céu na areia. O mesmo fenômeno acontece em ambientes com temperaturas extremamente baixas. Isso é o que se costuma chamar de miragem, ou espelhismo.


Espelhismos são, portanto, imagens que não podem ser observadas em qualquer lugar, a qualquer momento. Requerem condições específicas. Essa é uma proposta desta coluna: enxergar além do comumente visto. As miragens são erroneamente entendidas como a falsa visão de imagens a partir de desejos irrealizáveis. Na verdade, a visão existe, sim. O entendimento é que está desviado: muitas vezes vê-se um lago onde está o céu. É nesse engano que não queremos cair.

O primeiro sentido de espelhismo aqui é, então, a tentativa de enxergar o raramente visto. Porém, em vez de enxergar o irreal, queremos, a partir dos textos aqui publicados, tornar essa coluna um pequeno grão de areia no caminho de inversão da realidade existente, de transformação do deserto em mar.

Ao mesmo tempo em que reordena e transforma a realidade, a ideia de espelhismo cabe também como a apresentação de um reflexo, o enxergar a si mesmo, enxergar a sociedade como uma imagem que não pode ser separada do individuo. No entanto, novamente uma visão avessa.

Se a percepção comum e altamente reproduzida mostra a direita, vamos enxergar a esquerda como nova possibilidade hegemônica. Se a ideologia dominante alimenta o individualismo egoísta, o espelho alimenta a noção de coletivo, de pertencimento a uma sociedade, e a solidariedade. Se as obviedades criadas historicamente reportam à ditadura do capital, no espelho é o humano e seu trabalho quem ganha relevância, quem se sobrepõe. Se pela lógica do discurso dominante a América Latina é um quintal mal cuidado, aqui o continente será visto como o percebeu Torres García, aqui o norte será o Sul. E não digo apenas geograficamente. O avesso, o relegado, o desprezado. O Sul conotativo como norte.

Esta coluna é escrita a partir do Rio Grande do Sul, estado brasileiro caracterizado por seus extremismos. Esportivamente, culturalmente, politicamente, por aqui os meios termos são poucos. O clima também é assim. Ou muito quente ou muito frio, temperaturas quase propícias aos espelhismos. Esse é o terceiro sentido da escolha do nome da coluna. Nada de acomodações, de conciliações, de jeitinhos. Nada de mediações, de meias palavras. Mais do que palavras inteiras. Entenda cada letra aqui escrita como um grito.


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