São muitíssimas as leituras que devemos e podemos fazer. Deixamos @s basc@s de ser o umbigo do mundo? Mas será que alguma vez fomos?
Talvez o que dá morbo e portanto minutos em televisão, atenção jornalística ou entradas neste tipo de sites sejam imagens de cargas policiais, ou de conflitos que implicam sangue? É essa a razão?
Quem isto escreve conhece a Irlanda do Norte, desculpem, o norte da Irlanda, que não é o mesmo, a zona ocupada pelos britânicos e na verdade já não é capa informativa salvo em contadas ocasiões. Talvez melhor para as pessoas que moram em Belfast que, quando eu estive naquela cidade, eram capa diária. Estavam já cheios de sofrer e de morrer ou de ver morrer. Pressionados de ver seus filhos envelhecerem no cárcere, ou seus netos crescerem sem a proximidade de seus pais, nos anos que eles são mais importantes. Eram o centro das capas, mas a sociedade irlandesa se desangrava num eterno conflito em que não enxergava nem vencedores nem vencidos, ao menos militarmente.
Agora a Grécia, França, Itália deslocaram Euskal Herria das notícias mas lídas em certas paginas de contra informação... O segredo? O fato de as notícias desses locais oferecem polícias carregando, manifestantes atirando coquetéis molotov e se dá a contagem de feridos, detidos e dados desse gênero. É isso que atrai as pessoas a esse tipo de notícias e a prova são as notícias sem fotos, em chave de análse, têm muitíssimas menos entradas.
Pelos vistos, gostamos disso, mas de maneira muito sui generis, no sofá de casa e vendo como sofrem outr@s e depois de ver imagens de cargas e confrontos optamos por ir à geladeira, fazer um sanduíche e tomar uma Coca-Cola, apesar do boicote contra essa multinacional.
A paz é revolucionária, mas também aborrecida para quem segue os conflitos por TV ou meios de comunicação, a paz é o maior ânsia de quem todos os dias põe em jogo sua vida na luta, a sacrifica no exílio ou a entrega no cárcere, mas quem não da nada é precisamente quem reagem com mais beligerância contra este ou outro processo de paz, que este ainda não pode ser chamado assim.
Hoje em dia, e isso deve se explicar claramente a quem participa e acompanha a vida política basca de fora, se Euskal Herria quer aceder à sua independência só é possível em condições de ausência de violência por todas as partes, nas quais o povo organizado gere as dinâmicas que forcem o Estado a consentir um processo de autodeterminação. Isto dentro de uma estratégia soberanista, em aliança com outras forças abertzales e uma vez conseguida a autodeterminação, o socialismo terá que ver as condições objetivas do momento em que se situe essa luta. Nem se renuncia à independência nem ao socialismo, nem se integra a esquerda abertzale em nenhuma sociedade burguesa. Segue sendo o motor de Euskal Herria, em prol da sua soberania socialista e na preceptiva da construção de um Estado socialista basco.
E isso o faremos nós mesmos, ou dito em gaélico Sinn Fein.
O Estado sabe perfeitamente todo isto e por isso vai tratar de situar o confronto não em chaves políticas, mas nas que se sente mais cômodo e com a matilha mediática aclamando, segura de que a opinião publica apoia medidas fortes. Essa é a estratégia do Estado e a essa estratégia vai tocar fazer frente e de fato a única expressão violenta que sofre Euskal Herria é a violência estatal, que se traduz em intimações judiciais, detenções, cargas etc. E esperemos que fique por aí.
Esse é outro indicador que nos tem que fazer refletir a tod@s, o fato de que se o Estado quer jogar com essa estratégia é porque aí é que se vê ganhador... nessa estratégia somos perdedores...
E por fim um outro indicador. A crise capitalista vai se agudizar na Europa, levando muitos países a uns níveis de confronto social tremendos, a outros talvez à beira do fascismo com medidas a cada vez mas antidemocráticas...Temos que ser a referência anticapitalista e socialista em Euskal Herria, recuperar outras tradições de luta na esquerda abertzale, conjugá-lo tudo e pôr em cima da mesa o debate de que a dependência de Espanha e de França nos empobrece, mas que a soberania socialista nos interessa. Interessa-nos em termos econômicos, como classe e como povo.
O momento é de fiar fino... ainda que muitos digam o contrário... Podemos ganhar a soberania e o socialismo se soubermos dar nas chaves, se não... olhem a pouca graça que fez ao estado e a seus lacaios as notícias que vinham de Euskal Herria o passado fim-de-semana.