Foi Inxalá a que apareceu junto a outros títulos da literatura universal, entre os que se encontravam alguns de autores clássicos como Dostoievsky, Eça de Queirós, Tolstoi, Oscar Wilde, Machado de Assis, Victor Hugo, Poe ou Borjes. Calcula-se que a tiragem atingiu cento e vinte mil exemplares.
Inxalá, que ganhara o XV Prémio Carvalho Calero em 2005, foi editado o ano seguinte por Laiovento, e em 2008 pola editorial portuguesa QuidNovi para a sua comercializaçom além do Minho, com o título acrescentado: Inxalá, espero por ti na Abissínia.
Duas perguntas nos interrogam desde a capa dessa ediçom: Quem nunca pensou em largar tudo de repente e partir para longe? Quem nunca amou perdidamente uma vez na vida? Com efeito, esta é umha história sobre umha fugida, e também umha história de amor. É a história dum médico galego a trabalhar em Lisboa, da sua fugida e da dívida contraída com a mulher amada, pagada em forma de carta, este livro. De linguagem poética e hermética a primeira parte é umha descriçom dos territórios onde mora, no corno de África, na Etiópia. Paisagens geográficas e humanas entre as que introduz algumhas dicas sobre a mulher a quem fala, sobre a fugida, sobre a sua vida em Lisboa. É nas suas recordaçons sobre esta cidade nas que, na segunda parte, começam a despejar-se as incógnitas.
Trata-se dum livro para ler devagar, de narraçom cuidada e densa, meticulosa. Nom apto para quem quiger umha história vibrante à que se enganchar, mas para quem tenha a paciência de procurar respostas entre linhas, para quem desfrutar das subtilezas da leitura, para quem quer fazer o esforço de imaginar.
Num mundo onde as urgências diárias se acumulam, essa sensaçom pode acabar por nos possuir, até o ponto de detonar umha fugida que resulta irreversível. Este é o leit motiv dum livro que é muito mais que a história que conta.
Assim o devérom considerar na editorial QuidNovi e na Biblioteca de Verao para ter apostado nele.
Comentam também no PGL as poucas modificaçons que sofreu o texto na sua ediçom portuguesa, em geral aquelas derivadas de adaptar o padrom da AGAL ao standard português. Mas também algumhas que pretendem acomodar caraterísticas das falas galegas a dito standard. Fica apontado o debate de se esta revisom linguística é pertinente, dada a correçom com a que maneja o idioma o autor. Se calhar bastaria com umha aclaraçom prévia ou um pequeno dicionário para termos próprios, que é o modelo adotado para escritores e escritoras da lusofonia nom portuguesa. Acho que, do ponto de vista identitário, isto ajudaria à projeçom internacional do galego como umha variante lusófona mais.
Mas longe de ficar no anedótico, o caso é que há um escritor galego, que aposta no reintegracionismo, incluído com todo merecimento numha coleçom de clássicos que atingiu mais de cem mil pessoas em Portugal. E isso é para se felicitar.
Dizia o Carlos Quiroga quando lhe foi concedido o Prémio Carvalho Calero que "o único galego que cabe e fica é o da resistência reintegracionista". Quiroga ganhou o único prémio ao que podia optar na Galiza, porque é o único que permite liberdade normativa. No resto, isso no que escreve, isso no que escrevemos, nom é galego. Porque só é galego quando se escrever com a ortografia ILG, suspeitosamente semelhante à espanhola.
Mas no começo do artigo eu só queria recomendar um bom livro, e isso é o que é Inxalá. Que gostedes!