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070812 jamJamaica - Gara - [Pablo Cabeza, tradução do Diário Liberdade] Jamaica foi primeiro colônia espanhola e depois inglesa, até que a 6 de agosto de 1962 conseguiu sua independência.


Nesse mesmo ano, o ská começou a tomar forma depois de fundir o jazz, o soul, o ritmo e blues, o mento e o calypso. Depois chegou o rocksteady e o reggae, estilo que, finalmente, sulcaria suas águas em todas as direções.

Não existe precedente: nenhum país tão pequeno pode alardear de ter influído musicalmente em tantas nações e grupos com um estilo musical (ska/reggae) criado em tão só 10.000 quilômetros quadrados, embora pudesse ser forçado ainda mais a singularidade se se centra a história em Kingston, a capital da Jamaica, cidade que em 2010 mal tinham mais de meio milhão de habitantes.

A primeira capital da Jamaica foi fundada pelo basco Francisco de Garay com o nome de Nossa Villa da Santísima Señora de la Vega ou Villa de la Vega, e foi capital da Jamaica até o século XIX. Tomada pelos ingleses, foi conhecida como Spanish Town. Garay foi Governador de 1514 a 1523. Segundo se leia a história em castelhano ou em inglês, Garay foi um nobre conquistador ou um genocida.

Port Royal foi fundada pelos britânicos em 1656, um ano após a ilha ter sido invadida, sem prévia declaração de guerra contra Espanha, por ordem de Oliver Cromwell. O local escolhido para a nova sede administrativa britânica foi o início de uma curva bem defendida por uma grande barreira de arena, situada a sul da grande Baía de Kingston. A base converteu-se logo em ninho de piratas, já que constituía um local estrategicamente situado entre as linhas marítimas que uniam a Espanha com o Panamá. Além disso, a baía em forma de um grande c achatado e ao revés tinha as dimensões idóneas para resguardar a um grande número de barcos. Desde Port Royal, Henry Morgan atacou o Panamá, Portobelo e Maracaibo.

Também se instalaram na cidade durante algum tempo piratas famosos como Bartholomew Roberts, Roche Brasiliano, John Davis e Edward Mansvelt. Os britânicos nunca se opuseram à chegada de piratas e corsários, já que eles não podiam despregar suficientes tropas na Jamaica como para resistir uma eventual invasão espanhola ou francesa.

Os bandidos do mar converteram-se, de fato, nos principais habitantes, defensores e governadores da colônia. Na década de 1660 a cidade era conhecida como a Sodoma do Novo Mundo. A grande maioria dos homens que a habitavam se dedicavam à pirataria e as mulheres à prostituição. O escritor Charles Leslie, em sua «História da Jamaica», descrevia assim os piratas: «O vinho e as mulheres minguavam sua riqueza a tal ponto... que alguns deles chegavam a ser reduzidos à mendicidade. Sabe-se que chegaram a gastar até 2 ou 3.000 peças da oito em uma noite; e um deu 500 a uma prostituta por poder vê-la nua.

Acostumavam a comprar um tonel de vinho, pôr em uma rua, e depois obrigar a todo aquele que passasse a beber».

Depois da nomeação de Henry Morgan como governador, na vida em Port Royal, os piratas já não foram necessários para defender a cidade. Os cidadãos das classes altas detestavam agora a reputação que adquiria a cidade, embora fosse pelas ações que, precisamente, os tinham convertido a eles em membros da alta sociedade.

Em 1687, a Jamaica começou a adotar medidas contra a pirataria, tornando o que até então era um paraíso para os corsários em um local comum para sua execução. Em 1722, chegaram a enforcar-se 41 piratas em menos de um mês. Charles Vane e Jack o Calicó encontrava seu final neste mesmo local dois anos antes.

No entanto, os britânicos não tinham problemas morais para se dedicar ao tráfico de escravos. A 7 de junho de 1692, a cidade foi sacudida por um terremoto que afundou a grande barreira de arena sobre a que se sustentava nas águas da Baía de Kingston. Os tsunamis subsiguientes erodiram ainda mais o terreno, submergindo para sempre até dois terços da cidade. Em parte, um grande número de edifícios ficaram intatos, mas submersos. A história e vida de Port Royal serviu, séculos depois, para os sucessivos guiões de «Piratas das Caraíbas», obviamente sem rigor histórico e sob o comando da aventura e o cromo.

Previamente tinha-se filmado «Captain blood» (1933), com o galã Errol Flynn como protagonista.
Depois do desastre de Port Royal, os britânicos fundariam Kingston em 1693. Cidade que também padeceria terremotos, furacões, sucessivos incêndios, cólera... Não obstante, segue sendo a capital da Jamaica, mais sugerente por sua costa, sua história e sua música que pela própria cidade, escassamente atraente.

Com uma história marcada pelas colonizações, os desastres naturais e uma forte mistura de etnias, com os arawak e os tainos (principalmente) como seus primeiros povoadores, entre 1.000 e 400 anos a.d.n.e, a história de Jamaica é um cruzamento de culturas e crenças.

Tempo de ska

Deixando atrás no tempo a política e as diversas e longas lutas, em ocasiões dramáticas, o ska nasceu em Kingston a princípios dos anos 50. A gente reunia-se nas praças, onde os sound systems colocavam as últimas novidades estadunidenses de jazz, soul e ritmo e blues. Os sound system eram estações de trabalho móveis. Os dj's adequavam uma carrinha ou caminhão com um gerador, um giradiscos e altofalantes gigantes para fazer festas na rua. Se a autogestão absoluta não começou aqui, simultaneamente que o trabalho inteligente dos dj's, algo se nos despista pelo caminho. A cena de sound systems está considerada como um dos elementos cruciais no desenvolvimento da música jamaicana moderna, e foi de vital importância para o surgimiento de estilos como o ska, rocksteady, reggae, dub, dancehall, raggamufin e demais variações. As duas principais forças foram Trojan, de Duke Reid, e Sir Coxsone Downbeat, de Clement «Coxsone» Dodd, aos que mais tarde se lhes uniria Cecil Bustamante, conhecido como Prince Buster. Nos sound systems se punha música de EEUU, já que a indústria musical jamaicana ainda era quase inexistente, a exceção de alguma fita de mento e calypso. Muitos discos traziam-se de Miami ou de Nova Orleans e os dj's eliminavam as etiquetas para que os rivais não soubessem o que se punha.

O catalisador que iniciou a carreira musical jamaicana foi o futuro primeiro-ministro Edward Seaga, que em 1958 fundou West Indian Records, produzindo música de artistas locais, reinterpretando ritmos estadounidenses. Nesse mesmo ano, Chris Blackwell produziu uma gravação do ainda desconhecido Loureiro Aitken (quem nos visitou em mais de uma ocasião, falecido em 2005), Duke Reid e Clement Coxsone, vendo a possibilidade de ter gravações exclusivas para suas sound systems, fundaram seus próprios selos, Treasure Isle e Studio One, respetivamente.

A origem do nome ska é complicado e segundo o musicólogo implicado inclina-se por uma ou outra teoria. Os integrantes da banda Skatalites afirmam que esse nome se tomou do baixista Cluet Johnson, que usava como saudação a expressão love skavoovie. Outros artistas, no entanto, defendiam que era a onomatopeia do som que fazia a guitarra (ska, ska, ska). O próprio Johnson usava ska como uma forma fonética de explicar o som desta música. Contudo, não são as únicas teorias. A Skatalites outorga-se-lhes a deferencia de ser considerada a primeira banda de ska. Val Douglas, de Skatalites, comentava a Ane Arruti (GARA) no ano passado: «Esta música foi criada por gente jovem em seu momento. Essa atitude nunca mudou. Acho que aqueles jovens que criamos estes ritmos e os jovens de agora, basicamente têm a mesma atitude, uma atitude rebelde que ainda é relevante».

Em meados dos sessenta surge em Kingston o rocksteady, precursor da música que mais notoriedade ia dar à ilha, o reggae. O fenômeno dos rude boys foi contemporâneo do período ska, mas ganhou mais força durante era-a do rocksteady e aglutinava a um bom número de jovens díscolos que não encontraram seu sítio depois da independência da ilha. Depois de um curto período de pujança do rocksteady nasceu o reggae, que se carateriza rítmicamente por um tipo de acentuación do off-beat, conhecida como skank. O tempo do reggae é mais lento que o do ska e o rocksteady, além de incorporar outros instrumentos. O termo reggae apareceu tanto em Desmond Dekker (famoso por seu «Israelitas») como no hit rocksteady de 1968 «Do the reggay», de The Maytals. No entanto, as teorias sobre o nome são tão diversas como curiosas.
Os primeiros discos de reggae genuíno lançam-se em 1968: «Nanny goat», de Larry Marshall, e «Não more heartaches», de The Beltones. The Wailers ( Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer, três posteriores asse indiscutíveis, com o primeiro como grande compositor e impulsor do estilo e filosofia de vida rastafari) é talvez o grupo mais conhecido que realizou a transição das três etapas da primeira música popular jamaiquina: ska, rocksteady e reggae. Outros pioneiros reggae incluem a Prince Buster, Desmond Dekker e Jackie Mittoo.

No desenvolvimento que levou o ska para o rocksteady e posteriormente ao reggae, foi fundamental a contribuição de vários produtores locais. Entre os mais importantes estiveram Coxsone Dodd, Lee «Scratch» Perry, Leslie Kong, Duke Reid, Joe Gibbs e King Tubby. Chris Blackwell, que fundou o selo Island Records na Jamaica em 1960, para mudar a Inglaterra em 1962, foi um dos maiores impulsores do som reggae. Blackwell aliou-se a Trojan Records, fundado por Lee Gopthal em 1968.

O sucesso econômico para o selo chegou com a publicação de música oferecida por produtores como Duke Reid, Byron Lê e Leslie Kong, em uma série de compilações de preço popular. A música foi especialmente popular entre diferentes culturas de jovens britânicos como os mods ou os skinheads. Trojan publicou numerosos discos de artistas jamaicanos em Grã-Bretanha até 1974.

Em 1972, o filme «The harder they come», com Jimmy Cliff como protagonista, gerou um considerável interesse pela música da ilha. O filme retrata com realismo tanto a situação econômica como musical, com os rude boys em primeira fila. A versão de Eric Clapton em 1974 do tema de Bob Marley «I shot the sheriff» ajudou a levar o reggae ao ouvinte médio. Até Led Zeppelin tiveram seu reggae, «D'yer Mak'er». De fato, o ska e o reggae calaram forte em Grã-Bretanha, pelo que sua projeção internacional resultou espetacular, incluída Euskal Herria.

Rastafaris

O rastafarismo surge de proclama-as de Marcus Garvey, editor, jornalista e empresário jamaiquino fundador da Associação Universal para a Melhoria do Homem Negro (UNIA). Considera-se que a religião rastafari é, ao menos em parte, consequência de suas ideias. Garvey é Juan o Bautista, ao ter anunciado a chegada de um rei, o imperador de Etiópia, Haile Selassie I. Garvey não cria na violência e exortava seus seguidores a respeitarem a constituição e a não provocarem altercados, algo complexo em um país onde a corrução, o caciquismo e a perseguição foram norma de atuação geral.

Os seguidores do rastafari, conhecidos como rastas, achavam que Haile Selassie I libertaria a gente de ascendência africana do mundo (Babilônia) conduzindo para uma terra prometida cheia de emancipação e justiça divina, chamada Monte Zion. Os rastafaris acham que os negros são descendentes dos antigos israelitas. A sua é uma religião abrahámica fortemente sincrética. Muitos rastas acham que Jah, forma abreviada de Yahveh nas escrituras hebreias, tinha três encarnações: Melquisedec, Jesus Cristo, e, finalmente, Haile Selassie. A marijoana é usada pelos rastafaris como algo sagrado, já que sustentam que foi encontrada no local do túmulo do rei Salomão, depois de o enterrar.

O movimento rastafari deve seu nome a Ras (príncipe) Tafari Makonnen (nome/sobrenome). Na coroação como imperador de Haile Selassie I de Etiópia, (1930) esta foi vista como a culminação da profecia de Marcus Garvey de uma década antes: «Olhem a África, um rei negro será coroado, no dia da libertação está perto».

Haile Selassie I (nascido como Tafari Makonnen, 1892-1975) foi o último imperador da Etiópia. Em 1931 subiu ao trono, estabelecendo um regime absolutista, que se postergaria com a invasão italiana em 1936, para voltar a tomar o poder em 1952 e finalizar em 1974 com a revolução socialista (apoiada pela URSS) que o derrocou. Morreu aos 83 anos em circunstâncias não esclarecidas, deixando depois de de si demasiadas sombras como para ser um ente divino: regime ditatorial, corrução, aniquilação de toda oposição, falência do país, fome...

Complexo entender a salada mental rastafari e que tanto defendeu o genial Bob Marley, mas, finalmente, sim parece que há algo que une a Jamaica e a Etiópia, à margem das empadas religiosas e o verde, o vermelho e o amarelo: seus grandes corredores.


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