Kirsten van den Hul falará esta semana na assembleia geral da ONU sobre o que quer a mulher holandesa. Para averiguar quais são estes desejos, Van den Hul cruzou a Holanda de trem em todas as direções durante dois dias para conversar com mulheres. Uma reação que ela ouviu muito, principalmente de jovens foi: "Na verdade nunca penso sobre isso, não sei muito bem o que é importante".
"É impressionante ver como as mulheres holandesas pensam que as coisas vão bem, enquanto na realidade a situação é decepcionante", diz Van den Hul, que logo ilustra seu comentário com algumas cifras:
"Mais da metade das holandesas não tem independência financeira. Portanto, mais da metade depende de seu parceiro para a subsistência. Se você compara a isso a estatística de que 1 em cada 3 casamentos não dá certo, você pode imediatamente estimar que muitas mulheres correm o risco de acabar na pobreza."
Arrepios
Muitas jovens sentem arrepios só em ouvir palavras como 'emancipação' e 'feminismo', observa Van den Hul. "Talvez devamos usar o termo 'direitos iguais', que soa melhor", sugere uma interlocutora no trem.
Mesmo assim, quase todas têm uma experiência pessoal para contar – as jovens estudantes, as mães solteiras, musicistas ou donas de casa com quem Van den Hul conversou entre Amsterdã e Groningen, no norte da Holanda. Os comentários variavam de "eu trabalho como uma camela, mas ganho muito menos do que meus colegas homens" até "mães que têm que criar seus filhos sozinhas têm que ter uma carreira de sucesso, ser a amante perfeita e dar conta das crianças. Tenho várias amigas que começaram a beber porque não aguentaram a pressão".
Abaixo de Lesoto
É claro que a situação na Holanda hoje não é a mesma de 40 anos atrás, quando teve início a primeira onda feminista no país. Van den Hul, obviamente, tem consciência disso. "Mas no Global Gender Gap Report, do Fórum Econômico Mundial, a Holanda está, surpreendentemente, abaixo de países como Lesoto e Filipinas."
Falta independência econômica para as mulheres na Holanda. Além disso, as holandesas com frequência mencionam a baixa porcentagem de mulheres em altas posições políticas e na vida empresarial.
Violência doméstica
Violência doméstica também acontece com mais frequência na Holanda do que as pessoas imaginam, comenta Aleid van den Brink, do grupo Blijf, que também viajou com Van den Hul. Por isso ela quer que este tema também seja levado à assembleia da ONU em Nova York:
"Duzentas mil famílias sofrem com problemas de violência doméstica todos os anos na Holanda. A polícia recebe cerca de 60 mil queixas anuais. Não acho que isso seja normal, acho que é uma quantia enorme."
Quotas
Embora em princípio fosse contra a chamada 'discriminação positiva', Kirsten van den Hul agora acha que a Holanda tem que instituir uma quota obrigatória de mulheres tanto para o governo como para empresas. Após conversas com mulheres em altas posições e vendo estatísticas de países como a Noruega, ela mudou sua opinião a respeito do tema.
"Nós estamos ocupados em melhorar a posição das mulheres desde os anos 1960 e mesmo assim ainda temos só três ministras neste governo, assustadoramente poucas mulheres em conselhos e altas posições na vida empresarial e cerca de 10% de catedráticas. Ou seja, desta forma não estamos conseguindo, e os números comprovam que as quotas funcionam."
Banco de reservas
E as quotas não devem servir apenas para estimular o governo e empresas a empregar mulheres, mas principalmente para pôr as mulheres holandesas novamente em movimento. "Para falar em termos futebolísticos: nenhum técnico escalaria onze pontas esquerdas, mas é isso que de fato acontece", diz Van den Hul. "Alguns jogadores são esquecidos ou não são vistos pelo técnico, e outros acham secretamente confortável ficar no banco de reservas."