Nos períodos de colheita muitas crianças iam para o trabalho no campo, deixando de frequentar a escola. Da mesma forma, outras crianças pobres a deixavam por alguns períodos para ajudarem seus pais no sustento da casa e da família. A escola era aberta para nenos e nenas, embora apenas cinco dos frequentadores fossem do sexo feminino. As faixas etárias variavam entre sete e treze anos. Estas crianças estavam sempre acompanhadas por adultos que trabalhavam na escola. As classes não eram organizadas por idades. As crianças eram divididas segundo aquilo que elas precisavam estudar. Dessa forma, as que estavam nas classes iniciantes estudavam as primeiras lições de aritmética, história sagrada e leitura e escrita. As crianças das classes mais avançadas estudavam leitura, redação, história sagrada, história da Rússia, desenho, desenho geométrico, canto, matemática, ciências naturais e instrução religiosa.
Os professores faziam registros sistemáticos da aprendizagem e planejavam semanalmente as atividades para os seus alunos, sempre muito flexíveis, pois se incorporava a eles a demanda das crianças ao longo da semana. Não havia lições de casa para que não houvesse a cobrança delas. As aulas aconteciam em diferentes lugares, as crianças sentavam-se nos bancos, mesas, batentes de janelas ou em qualquer outro lugar em que se sentissem confortáveis para a realização das suas atividades. Proibiam-se apenas as recriminações e os castigos. Pode-se dizer que a proposta pedagógica de Tolstoi foi movida por um sentimento de liberdade e respeito. O seu intuitoera desenvolver um ambiente escolar franco, em que se prezasse a liberdade, a felicidade das crianças e o seu bem-estar na escola.
Existem três grupos de entendimento da educação na sociedade: educação como redenção, educação como reprodução e educação como transformação. A pedagogia libertária, assim como as demais pedagogias progressistas, segue a tendência filosófico-política da educação como transformação da sociedade. A pedagogia libertária espera que a escola exerça uma transformação na personalidade dos alunos, num sentido libertário e autogestionário. Seguindo este modelo a escola institui, com base na participação dos grupos, mecanismos institucionais de mudança, através de assembleias, conselhos, eleições, reuniões e associações. Acho que, de forma muito acertada, a educadora brasileira Andréa B. Moruzzi, denominou as escolas que praticaram a pedagogia libertária como "Repúblicas escolares ou de crianças".
A generalização das mesmas, em clara oposição ao ensino tradicional, pretendeu reunir propostas educacionais que, apesar de se diferenciarem entre si, apresentavam caraterísticas comuns e caminhos para a renovação pedagógica. Falar em "Repúblicas de Crianças" significa abranger diversas propostas educativas, em diferentes contextos sociais, culturais ou históricos que foram caracterizadas, ao longo dos séculos, por diferentes denominações, tais como, escolas românticas (por associação a Jean-Jacques Rousseau), pedagogia centrada no aluno, escolas não diretivas, escolas livres, escolas democráticas, progressivas, ativas, novas, modernas, etc. As denominações de livres e democráticas são mais recorrentes, por serem mais abrangentes e por serem utilizadas pelos próprios educadores que propunham tais experiências.
Entre as escolas libertárias mais célebres, ademais das primeiras pequenas experiências do precursor galês Robert Owen (1771-1858), temos, junto com a considerada como a primeira de todas, a "Iasnaia Poliana" (1857-1910) de Leon Tolstoi, já citada e comentada, outras muito interessantes, entre as que destaco: "Orfanato Cempuis" (1880-1894) de Paul Robin; "Escola Moderna" e o seu movimento espalhado pela Europa (1901-1953), de Francisco Ferrer i Guarda, a que dediquei um artigo da série (ver: http://www.pglingua.org/opiniom/as-aulas-no-cinema/5180-a-escola-libertaria-de-ferrer-i-guardia-no-filme-qviva-a-escola-modernaq); "A Colmeia" (1904-1917), de Sébastien Faure; "Lar de Órfãos Dom Sierot" (1912-1942) de Varsóvia, criado por Janusz Korczak, ao qual também dediquei um artigo; e a "Escola de Summerhill" (1921-atual), de A.S. Neill, também com outro meu artigo.
Seguindo o modelo das escolas libertárias antes citadas, foram criadas na década de setenta, em duas localidades da Estremadura espanhola, na província de Badajoz, duas escolas, que, por sorte, depois de diversas vicissitudes, ainda funcionam hoje, e são um verdadeiro e exemplar modelo pedagógico alternativo de educação livre e libertária. Estou-me a referir à "Escuela Viva" ("Escola Viva"), criada pelo mestre Francisco Fernández Cortés em 1970 na vila de Orellana la Vieja, e à"Paidéia-Escuela Libre" ("Paideia-Escola livre"), criada pelas educadoras Concha Castaño Casaseca, Mª Jesus Checa Simó e Josefa Martín Luengo, na vila de Fregenal de la Sierra, em janeiro de 1978. Sobre ambas foram realizados dous documentários, que servem para o comentário do presente artigo de "As Aulas no Cinema".
Fichas técnicas dos filmes:
1.- Título original: Escuela Viva (Escola Viva).
Diretor: Julián Pavón (Espanha, 2002, 85 min., a cores, longa-metragem e documentário).
Roteiro: Irene Cardona e Julián Pavón. Fotografia: Miguel Llorens. Câmara:Javier Burra.
Som: Carlos Crespo. Montador de Som: Santiago Pavón. Montagem: Roberto Lázaro.
Estudos de montagem: La Espiral Digital. Ajudante de direção: Irene Cardona.
Produtoras: Tragaluz Estudio de Artes Escénicas, S.L. e Dexiderius Producciones Audiovisuales, S.L.
Lugares de rodagem: Orellana la Vieja, Badajoz, Mérida, Fregenal de la Sierra, Los Santos de Maimona e Don Benito, todos na província de Badajoz, na Estremadura espanhola.
Argumento: Francisco Fernández é um mestre que em 1970 iniciou uma experiência pedagógica revolucionária: durante seis anos utilizaram as aulas da escola pública de Orellana la Vieja (Badajoz), para autogerir a escola e procurar um ensino alternativo que servisse aos seus interesses e não aos do regime franquista e ao sistema económico que sustentava essa ditadura. Vinte e cinco anos depois, o mestre criador e os seus antigos alunos, hoje com mais de quarenta anos, lembram o importante que foi a escola nas suas vidas. Também se amostra Paideia, a escola libertária criada perto de Mérida há mais de 35 anos. Uma das suas fundadoras, Josefa Martín Luengo, lembra aqueles tempos difíceis, e o seu compromisso permanente por uma pedagogia alternativa.
2.- Título original: Paidéia, Escuela Libre: 15 años de educación antiautoritaria (Paidéia, Escola livre: 15 anos de educação antiautoritária).
Realização: Trabalho coletivo do "Colectivo Paidéia" (Espanha, 1993, 56 min., a cores, documentário).
Argumento: Vídeo editado pela escola livre "Paidéia" no ano de 1993, nas comemorações de seu décimo quinto aniversário, narrando as suas experiências e métodos de ensino durante estes primeiros anos. Paidéia começou a funcionar em janeiro de 1978 em Mérida (Badajoz). As suas origens encontram-se em Fregenal de la Sierra e em seu início de Escola em Liberdade encerrada pela Administração franquista. A sua iniciativa veio da mão de três educadoras exemplares: Concha Castaño Casaseca, Maria Jesús Checa Simó e Josefa Martín Luengo. Desde 1978 até a atualidade, a Escola Livre mantém a mesma ideologia e as mesmas finalidades.
Uma escola que educa em valores (Solidariedade, Tolerância, Cooperação, Liberdade, Igualdade...):
No verão de 2012 falecia o mestre Francisco Fernández Cortés, criador de "Escola Viva", movimento pedagógico prático que se desenvolveu na localidade estremenha de Orellana la Vieja e que obteve uma grande repercussão internacional, ajudada pelas publicações arredor dos seus métodos e estratégias didáticas a princípios dos anos setenta, a finais da ditadura franquista. Nos atuais tempos a sua figura íntegra cobra relevância, ao saber conjugar nas suas aulas os aspetos académicos com a educação cívica e a conscientização pela liberação dos seres humanos pessoal e socialmente, enfrentando-se à problemática do dia-a-dia. Inspirado nas ideias da Escola Nova, das escolas libertárias e na pedagogia libertadora latino-americana, este grande educador criou o seu peculiar, sereno, reflexivo, democrático, participativo e assembleário sistema de ensino. Um modelo educativo baseado nos princípios de criatividade, investigação e crítica, em contraposição ao memorismo e alienação dominantes.
Muito próximo ao modelo da Escola de Barbiana de Lourenço Milani (ao qual também dediquei um artigo desta série), o movimento pioneiro italiano libertador e autogestionário, parente da educação conscientizadora do austríaco Iván Illich, da pedagogia do oprimido do brasileiro Paulo Freire, com raízes fundidas na Escola Moderna do francês Cèlestin Freinet e das colónias pedagógicas do russo Antão Makarenko, o mestre de Orelhana criou a sua própria forma de educar, com tolerância, inquietação científica e compromisso humano, por meio do conhecimento, a dialética permanente e a explicação das circunstâncias do meio, do imediato e próximo até o mais afastado, sem baixar a guarda perante a crítica e a autocrítica.
As suas "assembleias na escola" eram um foro do saber, de confrontar, de refletir, por meio da palavra, o sentido de todos os problemas diários da vida, chegando à conscientização mais firme e comprometida com a sociedade, depois de conhecer os factos, baseados na investigação profunda, contrastada, sistematizada e comprometida. Todos os que viveram em direto a vida das suas aulas, concordam no prazer que era ver os alunos analisarem a realidade e oferecerem alternativas perante os problemas da vida diária, perante a carga opressiva dum povo condenado à emigração interna e externa, a penúria e a pobreza dominantes nos lugares em que moravam.
O criador da "Escola Viva" favoreceu muito a divulgação da sua experiência pedagógica ao publicar vários livros sobre a mesma. Com o título de Orellana: Asamblea en la Escuela, na editora alternativa Zero de Madrid, sacou a lume em 1977 o seu segundo livro verdadeiramente formoso, que todos os docentes deveriam ler. Do mesmo tiro alguns treitos para este meu comentário. Ao falar sobre o objetivo da sua escola diz:
"Não se pode amar o que não se conhece em profundidade e nada pode conhecer-se se não se olha. Ter os olhos abertos e ver vai-se convertendo em privilégio dos que escapam dos "ópios" que o nosso "mundo feliz" nos brinda. Olhar e ver além do que querem que vejamos é tarefa de "videntes". Quebrar a barreira que separa o homem da sua realidade e da sua vida foi tarefa da nossa escola e esta barreira só se podia quebrar se se sabia que existia. As pessoas veem os obstáculos, a nossa escola deveria "fazer pessoas", este foi o objetivo de "Escola Viva", aceite, já que tinha sido proposto entre todos. Para ser pessoas deveriam ter-se conseguido as cousas seguintes: Ser livres; respeitar e ser respeitado; ter opinião própria; pensar; ser sincero; amar e ser amado; lutar pela promoção da pessoa; criar-se uma consciência; falar; ser justo; possuir uma verdadeira cultura; atuar; trabalhar; utilizar a vontade; ver a realidade; ser igual que o outro; ser alegres e sentir a alegria de viver; e ajudar e ser ajudado. A listagem foi elaborada de forma pessoal e depois se pôs em comum na aula, eliminando as que se repetiam ou tinham um senso ambíguo. E tudo isto tinha que conquistar-se, pois não caia do céu. O que não era impossível, pois algumas já faziam parte da vida, e não foram conseguidas assim como assim".
Pedro Crucera, colaborador de Paco F. Cortés, no mesmo livro, ao falar do mestre que pode atingir os objetivos antes citados, escreve:
"Não é mestre. Não pode ser mestre quem não compreende a democracia, nem aquele a que sobram as palavras e as desperdiça falando de cousas vazias. Não é mestre quem converte o esperto em rico, nem quem impõe a autoridade que lhe impõem. Não é mestre quem rouba a liberdade e mente sem saber ou sabendo. Não é mestre quem acredita que um aluno é um objeto para seu uso particular. Não é mestre quem não entende a relação entre a vida e a escola, nem quem pensa que a sua aula é uma fábrica de borregos conformes e submissos. Não é mestre quem desveste os pobres de seus homens mais inteligentes e eficazes, nem quem valoriza mais a carreira que o trabalho, nem quem é incapaz de sentir o problema de cada aluno. Não é mestre quem se cansa de explicar aos menos hábeis, nem quem dá graxa aos ricos, nem quem recebe, além do seu salário, um pouco do suor dos demais. Não é mestre quem não ama o povo, nem quem contabiliza os minutos que ensina, nem quem não sabe o que deve dizer ao escravo para que se liberte. Não é mestre quem converte os seus alunos em seres que se movem a impulsos do dinheiro e das cousas e ficam parados quando as pessoas sofrem. Não é mestre quem não aprende quando ensina, nem quem acredita que tudo está escrito e que sabe tudo".
Paideia, um modelo de escola libertária:
Paideia começou a funcionar em janeiro de 1978 em Mérida (Badajoz). As suas origens encontram-se em Fregenal de la Sierra e no seu desejo da "Escola em Liberdade" abortado pela Administração franquista. Desde 1978 até hoje, 35 anos depois, a Escola Livre mantém a mesma ideologia e as mesmas finalidades, embora passasse em alguma etapa por pequenos problemas dentro da sua cooperativa de docentes e pais/mães.
Na atualidade caracteriza-se por uma volta ao projeto inicial. A autogestão voltou a ser a estrutura fundamental da dinâmica vivencial e educativa da escola. As assembleias são novamente o órgão consultivo e decisório de tudo o que se faz. Os valores da anarquia voltarão a ser a base da educação focada para a liberdade. Realizam-se novos projetos integrando a eles experiências adquiridas. Ampliam-se as etapas educativas. Em relação aos pequenos, começam a admitir crianças de 18 meses até os 16 anos.
Começam as campanhas autogeridas para pessoas jovens, para terem experiência de liberdade com os estudantes da escola e crianças de outras comunidades, cujos pais e mães têm ideologia libertária, com a colaboração das Mulheres Livres de Madrid. A cada ano mais pessoas começam a ajudar à realização das práticas da escola. São feitos muitos trabalhos sobre o projeto Paideia. Publicam-se em várias revistas do país e estrangeiras a dinâmica de funcionamento e as bases ideológico-pedagógicas. As visitas à escola ampliam-se de tal maneira que precisam ser reguladas para que não interfiram na dinâmica normal.
As mães e os pais que deixaram as suas filhas e filhos na escola colaboram mais do que nunca com o projeto libertário, isso reflete-se profundamente nas personalidades dos estudantes, na sua maior conscientização ideológica e social, na sua maturidade social e prática dos valores éticos da anarquia. A assembleia recuperou o seu carácter consultivo e decisório. A autogestão acontece com a participação de todos os que formam o coletivo. O mesmo acontece com o Coletivo Educativo. A cooperativa deixou de ter participação na Escola. O Coletivo é a base ideológica e o órgão decisivo e de discussão. A liberdade não é somente individual, mas também coletiva. Sai a primeira turma da Secundária, que se incorpora ao terceiro ou quarto ano da ESO, nos Institutos ou Liceus. As suas características pessoais indicam claramente que receberam um tipo de educação diferente. Caracterizam-se por: sentimento de responsabilidade; defesa da liberdade e da justiça; tolerância e diálogo; defesa dos valores da anarquia; transmissão da ideologia nos seus trabalhos de aula e crítica social ao sistema de educação tradicional.
Os 35 anos de educação livre da Escola Paideia:
Em Mérida (Badajoz) há 35 anos que uma escola utiliza os valores e as metodologias anarquistas na educação de crianças e jovens: educar de forma assembleária, substituir a competição dos exames pelo conhecimento partilhado e fomentar o desejo de aprender. É a Escola Livre Paideia, que não se trata de um colégio como os demais. Na Escola Livre Paideia não existem nem se reproduzem hierarquias nem se utilizam os castigos e punições como nas outras escolas. Nem muito menos existem exames, nem tão pouco a obrigação de repetir mecanicamente a matéria e o programa de cada nível educativo. Todas estas regras e rotinas, típicas do sistema educativo oficial, foram aqui postas de lado desde o dia 9 de janeiro de 1978. Escolheram-se outras formas de ensinar e aprender. Na verdade, a Escola livre Paideia tem sido, desde a sua criação, o estabelecimento educativo que mais empenho e persistência tem mostrado em seguir e aplicar as ideias anarquistas sobre igualdade, cooperação e não-autoridade. A sua prática educativa baseia-se fundamentalmente na iniciativa pessoal e nas inquietações pessoais de cada estudante. Considera-se mesmo que as escolas tradicionais impedem e obstaculizam as capacidades que as pessoas revelam ao longo da sua infância. Daí que na Paideia não se sigam programas predefinidos mas, antes pelo contrário, são os próprios alunos que decidem o que querem aprender.
Para isso os professores dedicam-se às tarefas de orientação. Enquanto docentes a sua função consiste em estimular o desejo de conhecimento e saber e em transmitir valores e assegurar a convivência entre todos. A importância e o valor que se dá à liberdade é, nesse sentido, a principal motivação. «Quem critica a escola confunde liberdade com não estudar ou com perda de tempo. Mas não é assim», explica uma das responsáveis pela escola, Josefa Martín Luengo, recentemente desaparecida. E acrescenta: «O valor que ensinamos é o da liberdade responsável, ensinamos-lhes que há que conquistar a liberdade.»
Na prática isso traduz-se em compromissos de trabalho. Na Escola Paideia aproveita-se a curiosidade inata dos estudantes para que sejam estes, no início de cada semana, que indiquem e proponham atingir certos e determinados objetivos. O compromisso pode ir desde um trabalho sobre certa matéria, fazer exercícios e preencher o caderno de Matemáticas ou de uma Língua até realizar uma investigação sobre um tema de história ou uma composição sobre valores e convivência. A sua não realização não implica a aplicação de qualquer sanção ou castigo. «O alunos – explica Luengo – demonstram, ao ser-lhes aplicado uma sanção, que são responsáveis, habituando-se a receber ordens e em segui-las. Ora não é isso que eles gostam. Por isso é que procuram cumprir com os seus compromissos a fim de poder continuar a ser pessoas livres». Desde os primeiros momentos a aprendizagem é identificada com liberdade. «É fácil demonstrar que o poder, os poderes e os sistemas autoritários sempre se basearam na ignorância, no fanatismo e nas religiões para se perpetuarem», argumentam os elementos da Escola Paideia que sempre defendeu que um dos seus principais desafios é dotar os seus estudantes de amplos conhecimentos, devidamente acompanhados com um apurado sentido crítico.
Apesar de tudo, o mais frequente é que os compromissos assumidos sejam levados a cabo sem excessivas dificuldades. Tratam-se de atividades livremente escolhidas por cada estudante que, por sua opção, se decide e assume a realizá-las. A que acresce a satisfação em explicar aos demais o que se aprendeu no decurso das reuniões assembleárias. Com efeito, uma vez por mês, cada um expõe a todos os outros elementos da escola o que aprendeu ao longo do período mensal anterior, respondendo igualmente às perguntas e questões que lhe são apresentadas pelos seus companheiros, o que lhes permite dar conta do que lhes falta, ou não, ainda aprender. A cultura assembleária é a cultura característica da Escola Paideia. Cada assembleia aglutina todos os elementos da escola, estando presentes desde a professora mais veterana até às crianças de 5 e 6 anos. É durante essas assembleias que se organiza a autogestão da escola, se decidem os objetivos de cada curso e de cada nível educativo, assim como se resolvem os conflitos que tenham, porventura, aparecido. Não por acaso a ausência de violência é um dos traços mais marcantes do funcionamento interno da escola. Grupos de estudantes atuam, quando necessário, como pacificadores. E quando se desencadeiam conflitos reúnem-se as duas partes até que ambas cheguem a um acordo. Se a divergência se mantiver então cabe à Assembleia decidir. Através do diálogo razoável a escola livre Paideia resolve os problemas que hoje em dia assolam o sistema oficial de ensino, como é o caso da violência, o cansaço e as frustrações dos professores, ou então a falta de interesse dos alunos.
Nota: Para conhecer melhor a história e as diferentes etapas da Paideia pode consultar-se este web.
Temas para refletir e elaborar:
Depois de ver os dous documentários, um dos quais pode ver-se aqui, organizar um debate-papo ou tertúlia, sobre os diferentes aspetos que sobre os dous modelos de escolas libertárias aparecem nos mesmos. Refletir sobre o pensamento educativo libertário, dando alternativas concretas, sobre como se poderiam pôr em prática hoje nas nossas escolas as suas estratégias didáticas. Poderia pesquisar-se também na Internet sobre as experiências realizadas em diferentes escolas seguindo estas ideias, tanto na atualidade, como em momentos históricos anteriores.
Elaborar uma monografia, procurando informações em livros e na Internet, sobre as ideias educativas libertárias e as suas técnicas didáticas mais importantes. Com fotos, textos, cartazes, retalhos de imprensa e materiais elaborados, poderia organizar-se nas escolas uma magna exposição sobre os modelos pedagógicos históricos (Owen,Tolstoi, Ferrer, Korczak, Neill) e os atuais.
Comprometer-se entre todos a ler as duas obras básicas dos criadores da Escola Viva e de Paideia, Paco F. Cortés e Pepa Martín Luengo, Orellana: Asamblea en la Escuela e Fregenal de la Sierra. Depois de lidas, organizar um "Livro-fórum" para comentá-las e debater sobre as palavras, ideias educativas e propostas práticas que os seus autores e educadores fazem nas mesmas.
José Paz Rodrigues Académico da AGLP, Didata e Pedagogo Tagoreano.