Entre outros, quero destacar os de: “Desertos e desertificação” (Argélia, 2006), “O grave problema do desgelo” (Noruega, 2007), “Por uma economia baixa em carbono” (Nova Zelanda, 2008), “A necessidade de combater as mudanças climáticas” (México, 2009) e “Muitas espécies, um planeta, um futuro” (Ruanda, 2010). Já em 2004 e 2005 os temas foram os mares e os oceanos e as cidades verdes para um planeamento adequado do Planeta. No ano 2011, não sei se por ser o “Ano de Tagore”, por decisão do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), foi a Índia o país encarregado das comemorações. Explicando porque é uma das economias mundiais que mais investe em crescimento verde. O lema foi o de “Florestas: a Natureza a seu Serviço”, que coincidia também com o facto de ser este ano o Ano internacional das Florestas da ONU. Certamente existe uma conexão intrínseca entre qualidade de vida e saúde dos ecossistemas florestais. A Índia é um país com perto de mil duzentos milhões de pessoas e boa parte delas exerce forte pressão sobre as florestas. Isso ocorre principalmente nas áreas densamente povoadas, onde as pessoas cultivam nas margens dos bosques e onde as áreas de pastagem contribuem para a desertificação. Tendo em vista a grande demanda socioeconómica sobre as fragas, o governo indiano encontrou algumas soluções de como estabelecer um sistema de plantio de árvores para combater a degradação dos solos e a desertificação.
No processo de conservação do seu ecossistema, a Índia introduziu com êxito projetos de monitoramento de plantas, animais, água e de outros recursos naturais do país. Lançou, ainda, um programa de arborização cujos benefícios compensatórios são usados para melhorar o manejo florestal, a proteção de áreas verdes e fontes e mananciais. Ademais este país que tanto amo, onde na sua Bengala passo vários meses ao ano, está levando a cabo a implementação do Fundo de Energia Limpa no seu orçamento nacional. Ele fornece subsídios para a tecnologia verde, base para o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, que estabelece metas específicas sobre questões como a eficiência energética e o fortalecimento de um ecossistema sustentável. A Índia está atualmente desenvolvendo um dos maiores projetos de energia verde no mundo, que vai gerar cerca de 20 mil megawatts a partir da energia solar e 3.000 megawatts a partir de moinhos eólicos. A primeira fase do projeto de mais de 40 bilhões de euros deu começo no ano 2012. Ano em que o dia mundial esteve dedicado ao lema “Economia Verde: Ela te inclui?” e teve como sede esse grande país que é o Brasil. No atual ano de 2013 a Mongólia acolhe a celebração principal sob o lema de "Pensar, comer e conservar. Diga não ao desperdício!".
A juntança de 1972, citada ao princípio, foi o acontecimento que representou uma primeira reflexão conjunta dos poderes públicos a nível mundial sobre os problemas ambientais provocados pela nossa sociedade, e a respeito da necessidade de impulsionar políticas ambientais superadoras dos quadros nacionais. Isto está afetando também os países em desenvolvimento nas últimas décadas. Sobre o particular, ademais do já reconhecido por muitos como mudança climática, temos como temas enormemente preocupantes para o futuro do planeta Terra e seus moradores, o efeito de estufa, pelo aumento impressionante do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, o cada vez mais impuro ar que temos que respirar, a lixeira planetária, o aquecimento da atmosfera, a perda de camada de ozono em muitos lugares, a deflorestação de bosques tropicais, os incêndios periódicos de florestas e fragas, o excessivo gasto de energia em muitos lugares ou a falta de sensibilidade ecológica de muitos cidadãos de países industrializados, em desenvolvimento ou do chamado terceiro mundo.
Educação ambiental:
A ecologia e a preocupação pela conservação do planeta nos últimos tempos já não é uma moda passageira, senão uma preocupação que partilham organismos internacionais e grupos de toda a classe. O aumento da população, a exploração indiscriminada dos recursos naturais, a degradação produzida pelos resíduos industriais não reciclados e o uso abusivo de detergentes, pesticidas e outras substâncias, têm criado um grave problema. E a humanidade, pela primeira vez na sua história, está-se a tornar consciente do risco que representa para a espécie humana e outras espécies a utilização incontrolada dos recursos que ela cria. Começou já uma nova ciência da pedagogia: a educação ambiental. Não se trata de uma disciplina nova, mas da necessidade de repensar todo o currículo escolar do ponto de vista da ecologia. Esse há de ser um reto fundamental do presente século. O objetivo principal deste dia não é só transmitir conhecimentos, mas o de criar atitudes de respeito e amor pela natureza. Porque a amar se aprende. As aprendizagens apreciativas, relacionadas com a afetividade e os sentimentos, que temos tão esquecidas, são muito importantes, e no tema do apreço pelo meio natural e social mais ainda. Estas aprendizagens temos que consegui-las primeiro desde a escola maternal ou familiar (não esqueçamos que a primeira escola que há é a família), também desde a terceira escola que são os meios de comunicação social, escritos e icónicos. E, por claro está, desde a segunda escola representada pelos estabelecimentos de ensino dos diferentes níveis.
A comemoração deste dia mundial tem que servir para sensibilizar os cidadãos do mundo sobre o importante que é cuidar o ambiente. Para isso, tal como vimos de comentar antes, entidades ecológicas, associações de todo o tipo, estabelecimentos de ensino de todos os níveis e os meios de comunicação social, deveriam organizar atividades lúdicas e artísticas para sensibilizar sobre tão importante tema, desenvolvendo programas inovadores, que na presente edição de 2013 teriam que estar centrados no importante que é não desperdiçar a comida e os alimentos. Sem deixar de perceber que um dos temas centrais da ecologia é a importância que têm as fragas, as florestas e as árvores e a sua biodiversidade biológica, para todos os seres vivos, no qual se centrou a comemoração do ano 2011. Sobre este tema vem a calhar o pensamento ecológico que tinha Robindronath Tagore. Que levou à prática nas suas instituições educativas de Santiniketon, Visva-Bharoti e Sriniketon (quinta pedagógica tagoreana). Ele foi um grande educador e ecologista, dirigindo a sua escola e universidade num imenso bosque com numerosas árvores, com plantas, jardins e flores variadíssimas de todas as cores, em que crianças e jovens, em hortos escolares e jardins, desenvolvem atividades práticas de cuidado de plantas e animais. E onde as aulas dão-se ao ar livre debaixo das árvores.
Por tudo isto, eu quero que fale Tagore, com essa sua sensibilidade poética e profunda, tendo como centro de todo a vida, a natureza, o amor e a alegria. Robindronath dizia aquilo tão formoso: “Não leveis as árvores à aula, mas transportai a aula para baixo das árvores. É, sem dúvida confortável ter um tronco de árvore na sala de aula, isto permite dividi-lo em lâminas; mas estas estão mortas; não há de ser no interior de uma sala onde uma árvore produza flores e frutos” (De uma sua conferência em Genebra, 1921). No seu lindo livro de aforismos titulado Pássaros Perdidos, há muitas frases de tipo ecológico e de amor à natureza. Entre eles escolhi: “O chão recebe insultos e devolve flores”, “A folha, quando ama, torna-se flor. A flor, quando adora, torna-se fruto”, “As raízes debaixo da terra não pedem recompensa por encherem de frutos os ramos”, “Não colherás a beleza da flor arrancando as suas pétalas” e “Vivemos neste mundo quando o amamos”. Existem muitas estratégias didáticas para trabalhar com os estudantes o tema da ecologia e o respeito pelo meio. Também há muitos e interessantes filmes de tipo ecológico para apoiar as aprendizagens antes citadas nas nossas aulas. Esta vez escolhi para o meu artigo da série o que considero o filme de maior sensibilidade para este tema, uma verdadeira obra-mestra, que depois de o ver não deixa indiferente ninguém. Trata-se de“Dersu Uzala” (A águia da estepe), realizado em 1974 por esse magistral diretor nipónico que foi Akira Kurosawa.
Ficha técnica do filme:
Título original: Dersu Uzala (A águia da estepe / O caçador).
Diretor: Akira Kurosawa (Japão-Rússia, 1974, 145 min., a cores).
Roteiro: A. Kurosawa e Yuri Nagibin, baseado no livro de viagens de Vladimir Arseniev.
Fotografia: Asazaku Nakai, Yuri Gantman e Fyodor Dobronravov.
Música: Isaak Swarts. Produtoras: Mosfilm e Atelier 41 (filmado em 70 mm., estéreo e 6 pistas).
Prémios: Óscar para o melhor filme estrangeiro (1975), Grande Prémio do Festival de Moscovo (1975), prémio da FIPRESCI do mesmo ano e David de Donatello para o melhor diretor em 1977.
Atores: Maksim Munzuk (Dersu Uzala), Yuri Solomin (capitão Vladimir Arseniev), Svetlana Danilchenko (esposa de Arseniev), Dmitri Korshikov (Vova, filho de Arseniev), Suimenkul Chokmorov (Jan Bao), Vladimir Kremena (Turtwigin), Aleksandr Pyatkov (Olenin) e outros.
Argumento: A ação de Dersu Uzala decorre em 1902. Uma unidade militar, comandada pelo capitão Vladimir Arseniev, realiza estudos topográficos na floresta de Ussuri, situada na Sibéria, junto à costa russa do Pacífico. Arseniev encontra Dersu Uzala, um velho e extraordinário caçador mongol, que conhece profundamente a região. Dersu tem uma relação perfeita com a Natureza e conduz o destacamento de Arseniev através de regiões desconhecidas. Inicialmente, Arseniev diverte-se com a relação panteísta que Dersu estabelece com a floresta, mas a eficácia do caçador acaba por conquistá-lo. Nasce entre os dous uma amizade sólida, sobretudo depois de Dersu salvar a vida de Arseniev, quando os dous se perdem numa região gelada. Quando Arseniev termina a sua missão, convida Uzala a partir com ele para Vladivostok. Sem sucesso. Arseniev regressa em 1907 à mesma região. Descobre, então, que Uzala está a perder a vista, o que põe em perigo a sua sobrevivência na floresta.
O próprio Dersu convence-se de que o seu infortúnio se deve à ofensa a Kanga, o espírito da floresta, por ter abatido um tigre. Arseniev convence-o a vir com ele para a cidade. Todavia, apesar de bem acolhido pela mulher e pelo filho de Arseniev, Dersu sente-se terrivelmente infeliz com o modo de vida citadino a que não consegue adaptar-se. Arseniev, compreendendo a profunda infelicidade de Dersu, acede a deixá-lo voltar para a floresta. Dá-lhe de presente uma espingarda fácil de manejar, para que se possa defender melhor, compensando a falta de vista. Pouco tempo depois, Arseniev é convocado para identificar o corpo de um mongol encontrado morto na floresta e que trazia consigo um cartão de visita seu. É, evidentemente, Dersu Uzala, abatido por alguém que lhe quis roubar a espingarda. Arseniev enterra-o em plena floresta. Três anos depois, regressa à região e descobre, aterrado, que um grande projeto de construção levou ao abate das árvores e à destruição da floresta.
Amizade, "natureza pura" e "civilização" num filme imensamente belo:
O que fundamentalmente interessou a Kurosawa com este tão belo filme foi a possibilidade de filmar uma "viagem interior", pressupondo uma iniciação e uma maturação do espírito humano que o levam a entender a existência de uma relação íntima entre o equilíbrio com a natureza e o equilíbrio do indivíduo consigo mesmo. Mais ainda, essa "viagem interior" só pode ser a tomada de consciência da impossibilidade absoluta desses equilíbrios. É essa a viagem de Arseniev e é por isso que, em última análise, Arseniev pode ser visto como a personagem central desta história. Ou seja, Dersu Uzala não é apenas o guia topográfico de Arseniev sem o saber, ele é também o guia espiritual do capitão, o guia de uma metamorfose que o faz aceder à "sabedoria modesta" de que Kurosawa fez o elogio, em entrevista sobre o filme: "A civilização moderna fez progredir as cousas a uma velocidade vertiginosa e não estou certo que não estejamos a orientar-nos numa direção nociva. Todos os homens devem fazer prova de uma grande modéstia e viver em comunhão com uma natureza à qual não são superiores. É preciso pensar um pouco à maneira de Dersu e não querer dominar sistematicamente essa natureza."
A planificação do filme, utilizando múltiplos planos para cada cena, é tanto mais interessante, quanto supõe opções técnicas novas ao realizador, como ele próprio afirmou: "Para captar a natureza, para representar a sua grandeza, precisava de um formato grandioso. Escolhi por isso filmar em 70 milímetros. Ao mesmo tempo, para registar o som da natureza em seis pistas estereofónicas, isso dá efeitos que o cinemascope não pode dar. Com os formatos reduzidos em 35 mm, é-se obrigado a ampliar consideravelmente a imagem em projeção, e perde-se em qualidade. É um problema que não se tem com os 70 milímetros". Para além das dificuldades técnicas decorrentes da filmagem em 70 milímetros, deve dizer-se que as condições logísticas da rodagem assumiram caraterísticas verdadeiramente lendárias. A escolha dos locais de filmagem foi demorada, implicando a visita a diversos cenários nas diferentes estações do ano. O mesmo valeu, de forma ainda mais premente, para o período de realização propriamente dita, como diz Kurosawa: "Filmei durante nove meses, repartidos por várias estações. Comecei depois da Primavera. O tempo de filmagem foi entrecortado, às vezes, por tempestades e pela chuva. Foi necessário mais um ano e três meses de montagem, sincronização e de misturas. É muito difícil manter durante nove meses o nível de concentração de uma rodagem. Como a natureza não se curvava à nossa vontade, foi preciso muito tempo."
É por isto que estamos diante de um filme repleto de reverência pela natureza e pelo homem que vive em harmonia com ela. Esta é uma poética obra-prima imbuída de um grande sentido de humanismo e respeito, como é caraterístico da maior parte da obra do cineasta japonês. Um dos seus planos mais belos e famosos inclui os dous companheiros a contemplarem em simultâneo um Sol poente e uma Lua nascente. Uma das cenas também mais marcante do filme, é quando o mongol e o russo se perdem num lago congelado, e, de súbito, uma nevasca os atinge. Com a noite chegando, no frio siberiano (que pode atingir até 60ºC negativos), o russo deixa-se abater e se entrega à morte para ele, certa. Dersu, obstinado, coloca em prática o seu espírito criativo. Convence Arseniev a recolher arbustos na estepe que circunda o lago. O capitão aquiesce. Cambaleante, e mesmo sem entender direito o significado do ato, faz o que Dersu lhe pede, até o esgotamento. Imagina que o companheiro terá uma solução para aquela situação desesperadora. Dersu, então, continua recolhendo a vegetação rala, que mais tarde se transformará numa pequena cabana, cavada na terra. Uma situação em que prevalece a criatividade e o espírito improvisador de um homem acostumado a viver na natureza selvagem.
“Dersu Uzala” é um filme riquíssimo na mensagem, na narrativa, naquilo de que talvez o cinema mais precisa hoje em dia: verdade. Essa verdade é-nos dada através de Dersu, personagem que dá título ao filme, um homem de idade avançada e de estatura diminuta que vive da e para a natureza, que se movimenta como se da própria estrutura elementar da mesma fizesse parte, o que na realidade até faz. Todo o ser humano é parte integrante e insignificante de um todo, em perfeita comunhão com o primitivo e selvagem. Dersu é por isso uma personificação de um estado antigo, de uma vivência pré-temporal nostálgica, sábia e experienciada. Tal como ele próprio, com a sua humildade, está constantemente a evidenciar perante a arrogância e ignorância do exército russo e do seu oficial, recém chegados. Facto que este último acaba por perceber passando de imediato a admirar, contrariando assim a tendência, ao ponto de erguer uma amizade sem precedentes e começá-lo a seguir cegamente pelos meandros do desconhecido e da aventura. Trata-se, pois, de um exercício narrativo e didático tremendo e muito bem escrito. Kurosawa, num estilo mais poético do que o habitual, conta-nos uma história de amizade, de partilha e de bom-senso, mas acima de tudo, remete-nos para o valor unitário do ser humano inserido numa escala desmesuradamente superior. É neste contexto que o cineasta também nos conduz para o significado do tempo e da vida, tão efémera quanto a memória dos que cá ficam, dos que se lembram. Valores estes que depois são (re)tratados na sua maioria à distância, em magníficos planos gerais perfeitamente enquadrados sempre com as duas personagens (humanas e naturais), como se nunca tirasse partido apenas de um detalhe, ou da folha da árvore ou do rosto do homem, antes nos mostrando (e não sensibilizando) os acontecimentos, única e exclusivamente.
Toda essa imponência fílmica e narrativa nunca é, nessa medida, desviada, nunca se desvirtua, porque invariavelmente aponta ao essencial e logo à profundidade que temas deste calibre requerem. Soberba ainda a fotografia que completa o quadro e nos brinda com contrastes e luminosidades de paisagens absolutamente deslumbrantes. E se por um lado se pode dizer que este é um filme sobre a natureza, sobre a dualidade entre o natural e o artificial e sobre a noção de escala entre o Homem e o ambiente, por outro, é acima de tudo um filme que nos transporta para a autenticidade e para a amizade na relação entre os seres humanos, no caso de duas pessoas tão diferentes social e culturalmente, o que é extraordinário e simplesmente maravilhoso. A relação de Dersu com a natureza é quase simbiótica. Ele trata o ambiente com respeito, pois sabe que o homem jamais poderá controlá-lo, e usa de todos os meios ao seu redor para sobreviver, demonstrando uma humildade além do normal encontrada na sociedade, apesar da sua grande sabedoria empírica. Ao contrário da maioria, jamais se gaba de suas façanhas ou pede algo em troca, mesmo estas sendo dignas de nota. O filme também pende para uma leve reflexão acerca do que o homem perdeu ao conviver numa sociedade essencialmente urbana, contrastando o homem selvagem, que vive ao ar livre, com o homem urbano, vivendo preso em sua "caixa", como ele mesmo disse.
Durante o desenrolar da história vamos apaixonando-nos pelo pequeno mongol, que aos poucos mostra como é realmente. Aparece um homem simples, que vive livre na natureza, com pleno conhecimento do ambiente que o cerca. Mas, ao mesmo tempo, um ser temeroso das forças naturais, que não as compreende plenamente. Trata-se, na forma descritiva do diretor, do eterno embate entre o mito e a ciência, ou da razão esclarecida, já tão bem estudada pelos filósofos. Dersu movimenta-se de acordo com as suas tradições e o conhecimento adquirido na sua vivência diária. Arseniev orienta-se pelos seus livros e pelo que lhe foi transmitido nos bancos escolares e no exército. Dersu respeita o conhecimento do seu amigo, e o capitão se surpreende ao ver naquele homem atributos de alto valor de dignidade, honradez, solidariedade, coragem e determinação, aliados à sua extrema simplicidade. São qualidades cada vez mais esquecidas no mundo civilizado. Opera-se então um equilíbrio entre os dous mundos e se abre, numa perspetiva russeauniana, a tensão entre o “homem natural” e a “civilização”. Desenvolvido por Jean-Jacques Rousseau, em especial no seu Discurso sobre a Origem e Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, mas presente também nas investigações de filósofos pós-modernos, o tema é de enorme atualidade. Contribui com a reflexão dos que procuram libertar o homem contemporâneo das cadeias impostas pelo reino da mercadoria, onde prevalece o desequilíbrio imposto por uma forma de ser que choca com a nossa condição de ser integrado na natureza.
O capitão Arseniev fala de seu amigo Dersu:
Considero muito importantes as primeiras impressões do topógrafo e capitão russo Arseniev, quando conheceu pela primeira vez Dersu. Para entender ainda melhor este filme tão formoso. Arseniev escreveu no seu Diário: “Esse homem interessou-me. Algo nele era especial, original. Ele soava simples, paciente, mantendo-se modesto, sem insinuações. Conversamos juntos. Ele contou várias cousas sobre a sua vida, e quanto mais me contava, mais inclinava a minha simpatia. Eu via diante de mim um caçador primitivo, que durante a vida inteira viajou na taiga e estava livre desses vícios que a civilização das cidades traz. Pelas suas palavras eu soube que ele obtinha os seus fundos para viver com a sua arma, trocando objetos de caça por tabaco, munição e pólvora. Obteve o seu rifle por herança do pai. Contou ter agora 53 anos; nunca teve uma casa, e viveu sempre sob o céu aberto, apenas montando no inverno abrigos temporários de cascas e palha. Os primeiros clarões de suas memórias de infância eram: um rio, uma cabana rústica e o fogo, o pai, a mãe, e uma pequena irmã."Todo o mundo morreu tempos atrás", ele terminou o relato e perdeu-se em pensamento. Permaneceu brevemente silencioso e continuou: "Antes eu também tive uma esposa, um filho e uma filha. A varíola terminou com todos. Agora permaneço sozinho…" A sua face entristeceu-se pela lembrança dos sofrimentos. Tentei confortá-lo, mas que era o meu consolo para esse homem sozinho, de quem a morte levou a família, a única consolação na velhice? Ele não reagiu e apenas baixou um pouco mais a cabeça. Eu tentava de algum modo expressar a minha simpatia, fazer algo, mas não sabia exatamente o que fazer. Finalmente pensei em algo: ofereci-lhe trocar a sua velha arma por uma nova. Mas ele recusou, dizendo ser a berdanka prezada por evocar a memória do pai, que ele a usava e ela ainda atirava muito bem. Alcançou-a escorada na árvore, e começou a acariciá-la.”
Temas para fazer, debater e refletir:
Utilizando a técnica de dinâmica de grupos do Cinema-fórum, depois de ver o filme, analisar e debater sobre os seus aspetos formais, a linguagem fílmica utilizada por Kurosawa, as excelentes música e fotografia, o meio natural que se observa, as atitudes das personagens, a amizade entre os seres humanos, a controvérsia meio rural-meio urbano e qual deve ser o respeito para o meio natural por parte dos cidadãos.
Fazer um plano de atividades didáticas, lúdicas, literárias, científicas e artísticas (plástica, música, teatro, poesia, cinema), a desenvolver nos estabelecimentos de ensino de todos os níveis, para organizar ao redor dos dias mundiais, que ao longo do ano se celebram em relação com o meio natural. Ademais do Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho), estão outros importantes dias: Dia da Terra (22 de abril), Dia da Árvore (21 de março), Dia da proteção dos animais (4 de outubro), Dia do Mar (17 de março), Dia meteorológico mundial (23 de maio) e Dia Europeu das Aves (24 de maio).
Elaborar uma monografia por parte dos estudantes ao redor da importância de amar e respeitar o nosso meio natural e a ecologia. Depois pode ser policopiada. Terá que incluir retalhos alusivos da imprensa, textos livres dos rapazes, fotos e entrevistas. Também esquemas sobre os problemas ecológicos principais no planeta, propostas alternativas, listagem de livros de leitura recomendada sobre o tema, tanto ensaios como de ficção (romances, contos, teatro, poemas), listagem de filmes sobre ecologia (ademais de Dersu Uzala, A selva esmeralda, Quando o vento sopra, A missão, etc.). Seguindo a técnica didática da “Biblioteca do Trabalho” de Freinet, por grupos, os rapazes podem elaborar roteiros sobre animais e árvores concretos (a vaca, o cavalo, a águia, o castanheiro, o carvalho, os peixes de rio e mar, as flores, o nosso monte, etc.).
(*) Académico da AGLP, Didata e Pedagogo Tagoreano.