Em resumo, e agora me estenderei sobre os detalhes, os discursos foram diversos e interessantes, e alguns muito emotivos, algo lógico que costuma suceder quando o que se diz é produto da mais crua realidade, neste caso, do desastre produzido em Roménia durante estes últimos 20 anos. No entanto, e apesar do positivo que é que se recupere a palavra "comunista" como etiqueta de um partido atual, e que este acontecimento saia na televisão (ainda que com a clássica propaganda em sua contra), de programa se falou pouco e, sobretudo, de um programa realmente socialista, marxista-leninista, onde a luta de classes seja o motor da ação política e social, e a burguesia seja o inimigo a destruir.
A seguir e pequeno resumo:
A primeira impressão que levei foi a grande quantidade de assistentes, uns 400, muito superior ao que esperava, tendo em conta a má imagem que se construiu do comunismo pelos meios de comunicação desde o golpe de estado de dezembro de 1989. Também me chamou a atenção que não se tratava de uma reunião de "velhos nostálgicos", expressão com que se costuma definir os idosos que dizem a viva voz o que a maioria pensa: que dantes se vivia muito melhor que agora, não só do ponto de vista do respeito ao homem total (ao trabalhador, a seu lazer, a sua cultura, a seu desporto, a seu descanso, etc.), como também quanto a bem-estar material para a maioria dos cidadãos. No Congresso havia uma surpreendente quantidade de jovens, o que é uma boa notícia sem dúvida.
Entre os convidados, assistiram membros de outros partidos comunistas de Roménia, como Petre Ignatenco, secretário geral do Novo Partido Comunista Romeno (NPCR), atualmente em processo de refundação do Partido Comunista Romeno (no fim do Congresso tive a oportunidade de falar com ele sobre o significado da decisão do Congresso, como exporei mas adiante). Também assistiram os embaixadores da China, Coréia do Norte, Cuba e Venezuela.
O Congresso começou com a Internacional, um momento muito emocionante para alguns comunistas de toda a vida que, como reconheceram em alguns discursos, para tempo que não a tinham podido cantar desta forma, em grupo e a viva voz, e continuou com a apresentação do ordem do dia do Congresso, que só tinha um ponto: a mudança de nome do Partido Aliança Socialista pelo de Partido Comunista Romeno.
Constanti Rotaru, Presidente do P.A.S., fez uma introdução explicando as mudanças que se produziram em Roménia em 20 anos após o golpe de estado contra o povo romeno, levado a cabo pela oligarquia em dezembro de 1989, e que levou a um genocídio social no qual milhões de romenos se viram obrigados a sair do pais para poder ter um trabalho, ou milhões de pensionistas não chegam a fim de mês com suas pensões míseras.
Aproveitando esta descrição, apontei alguns dados citados por Rotaru, e extraídos do Instituto Nacional de Estatística, sobre a sociedade romena de 1989 e a do século XXI:
*Hoje há só 54% de hospitais comparado com os que habia em 1989.
*A extração de carvão é de 36% em relação a faz 20 anos.
*Hoje produz-se só 19% de aço do que se produzia na altura.
*Hoje só se produz 3% dos caminhões que saiam das fábricas socialistas.
*Quanto à produção de tractores, só se produz 18%.
*No século XXI capitalista Roménia produz 5% de maquinaria de transformação de metais das que se produziam na década dos 80 do século XX.
*Hoje só se produz 4.7% de fibra química em relação a 1989.
*A produção têxtil reduziu-se a 13%.
*Quanto a pecuária, hoje só existe 31% de gado bovino e 14% de carne.
E estes dados são só alguns de uma longa lista que mostram o deterioro da economia rumana, que se convirtio de produtora a importadora, de sociedade em desenvolvimento em colônia.
Constantin Rotaru também falou do "genocídio social" que causou o capitalismo em Roménia, a pobreza, a imigração, o saque dos serviços e empresas publicas, cometido com o asesoramiento do imperialismo e a complacencia dos antigos "burgueses comunistas", transformados em "burgueses capitalistas" por obra e graça de uma vez de estado e o assassinato de Nicolae Ceausescu (se algo há verdadeiro, e apesar de seus múltiplos defeitos, é que Ceausescu nunca tivesse aceitado a traição de suas "camaradas" sem luta). Neste sentido, num momento do Congresso guardo-se um minuto de silêncio pelas victimas do capitalismo em Roménia.
A decisão da mudança de nome foi practicamente por unanimidade, salvo duas abstenções, e deu passo ao discurso de outros delegados do partido, e de alguns convidados, como o da atriz Doina Ghitescu, que, despues de saudar com emoção a recuperação do nome do partido que construo uma Roménia livre e orgulhosa, recitó a famosa poesia do poeta nacional, Mihai Eminescu, "Imperador e proletario".
Também subiu à tribuna o deputado do Partido dos Comunistas de Republica Moldova, Iure Stoicov, recordando que seu partido saco a seu pais de uma situação desastrosa quando chego ao governo, em 2001, e que espera que o PCR possa fazer o mesmo em Roménia cedo. Também transmitio uma mensagem de apoio do ex-presidente de Rep. Moldova, Vladimir Voronin.
Stoicov afirmo que, em relação à tentativa inesperadamente de estado que sufrio o governo de Chisinau em abril de 2009, depois de ganhar o PCRM as eleições por mayoria absoluta, que este falhanço porque Vladimir Voronin conociá já as intenções da oposição de tentar chegar ao poder mediante a violência.
Por verdadeiro que, depois de finalizar seu intervencion, um dos assistentes grito ao convidado o seguinte "Queremos a união com Republica Moldova", sem que ninguém apoiasse sua reinvindicacion. Rotaru interveio imediatamente para assegurar que os comunistas Romenos estan do lado dos comunistas moldavos.
Outro dos personagens conhecidos que subiu à tribuna foi o historiador Romeno Marin Badea, membro do Partido Aliança Socialista, que saudou o regresso do PCR à cena politica por ser um ar fresco entre o resto de partido oligárquicos, contra os quais tem de se enfrentar. Para Badea, o PCR deve trazer de volta a democracia autêntica e lutar contra o mais selvagem dos sistemas, o capitalismo.
Também falaram representantes dos jovens do partido, os delegados de Suceava e Pitesti, e o presidente da Federação de Pensionistas de Bacau. Os primeiros, mas nervosos, quiseram deixar claro que não todos os jovens Romenos são hostis ao comunismo, e apostaram na luta politica como forma de mudar os desastres que produz o capitalismo, e o último, asseguro que a luta é a unica forma de conseguir benefícios, e que o povo Romeno não pode seguir dormido e submisso às agressões.
O melhor discurso, do meu ponto de vista, foi o de Silviu Somacu, que foi o único que reivindicou a figura de Lenine, ainda que só fosse referindo-se à importância da qualidade em frente à quantidade nos partidos comunistas, ademas de repetir a seguinte verdade de perogrullo que, no entanto, a propaganda e manipulação mediatica se encarrega de que passe desapercibida: ser anticomunista significa estar do lado do fascismo. Igualmente exigio a saída de Roménia da OTAN, e afirmou que em Roménia não faz falta nenhum escudo antimíssil, e sim pão e bem-estar. Por último, enfrentou à ideia da globalização imperialista, ao serviço dos interesses das multinacionais, a de internacionalismo socialista, baseada na solidariedade entre os povos.
Por último, Marian Costea, em seu discurso sobre o que para ele foi o roubo da propriedade socialista, de todos os romenos, nos escandalosos processos de privatização depois do golpe de estado de dezembro de 1989, anunciou que o partido criaria uma Asociação das vítimas do golpe de estado, com o fim de lutar pelos direitos dos Romenos à riqueza coletiva, não respeitados pelos governos capitalistas.
O anterior só é um pequeno resumo, e seguramente ficarão coisas dignas de interesse. No entanto, também foram interessantes as conversas ao finalizar o congresso, especialmente com Petre Ignatenco e com Gheorghita Zbaganu, ambos membros do Novo Partido Comunista Romeno, atualmente em processo de refundação do Partido Comunista Romeno (processo interrompido pela decisão do PAS), e o email que encontrei ao chegar a casa de presidente do Partido Comunista Nepecerista (PCN), onde me informava de sua opinião sobre a mudança de denominação do Partido Aliança Socialista.
Petre Ignatenco compartiu minhas suspeitas de que o Congresso tinha sido interessante, ainda que de programa se falasse pouco. Ademais, mostrando-me o programa do novo partido, em seu definição não diz nada de marxismo, nem muito menos de marxismo-leninismo: simplesmente declara-se um "partido de esquerda que defende o socialismo democrático", e que por suposto busca o melhor para o povo Romeno, mas sem definir com exatidão qual será o caminho para o conseguir. Ignatenco pensa que a mudança de nome precisamente agora, de repente, é uma estratégia eleitoralista do presidente do PAS, Constantin Rotaru, fazendo realidade um desejo de muitos dos membros deste partido desde faz tempo, ao que ele sempre se habia oposto.
Todo o contrário que o NPCR, que leva reivindicando este nome desde há anos, e trabalhando na luta contra o anticomunismo praticamente desde faz 20 anos, e com um programa claro onde se reivindica o marximo-leninismo, e por isso criticados por outros partidos comunistas-nacionalistas. Da proposta de mudança de nome não gostaram muito os membros do NPCR, porque supõe calcar o trabalho que levam realizando durante anos, sobretudo agora que estavam imersos na reconstrução do Partido Comunista de Roménia. No entanto, estão à espera do que decide o Registro de Partidos Politicos.
Parece que é possível que, como veio sucedendo até agora, o registro não aceite a denominação de Partido Comunista, devido à lei 60/1991 diz em sua articulo 9 que: "Estão proibidas as manifestações publicas nas quais se persiga, a) a propaganda de ideias totalitárias de natureza fascista, comunista, racista, ou qualquer organização terrorista, a difamação do país, a dignidade do sentimento, a incitação à discriminação, a violência publica e as manifestações obscenas contra a moral pública; b) a organização de uma vez de estado e outras ações contra a segurança nacional"
Por meio desta lei foi recusada de qualquer partido com o nome "comunista" desde há 20 anos. Precisamente, foi G. Ungureanu, presidente do Partido Comunista nepecerista, quem consiguiu, levando a proibição de seu partido ao tribunal de direitos humanos da UE, que se aceitasse sua solicitação no registro, ainda que até agora não se tenha a efeito totalmente.
Portanto, o NPCR espera acontecimentos. Se o registro recusar a nova denominação do PAS como Partido Comunista Romeno, continuarão seu próprio caminho de refundação como até agora; se for aceita, integrassem-se nele, se houver mudanças e algumas concessões no programa politico.
Quanto ao PCN de Ungureanu, sua opinião não é muito diferente da de Ignatenco. Em seu email, e numa entrada em seu blog, http://www.pentrusocialism.blogspot.com/, felicitou o PAS pela mudança de siglas, mas afirmou que não supõe uma mudança real, e que o novo partido seguirá fazendo parte dos partidos oligárquicos que saíram do PCR depois do golpe de estado de 1989. Ungureanu é muito mas duro, afirmando que o "PAS se define como um partido em essência anticomunista, idêntico a todos os partidos peceristas pós-dezembristas" e que aceita o inaceitável, como "o imperialismo da União Européia e a OTAN" (ainda que em alguns discursos do congresso se criticasse a participação de Roménia nesta última). Ungureanu assegurou que publicará em breve uma critica ao programa do PAS-PCR.
O outro partido comunista constituído em forma de associação, a União de Trabalhadores, de Daniel Dediu e Ciprian Pop, ainda não tem uma opinião oficial sobre a mudança de nome do PAS.
Em definitivo, a "refundação" do Partido Comunista Romeno com vimes novos é, sem dúvida, uma boa notícia, ainda que só seja sob a chuvada mediática do anticomunismo. Quanto ao programa, as coisas ainda não estão muito claras, e o novo partido terá que fazer um novo esforço para aprovar um programa novo onde se deixe mais claro que "comunismo" é o que querem construir e como. Não obstante, no panorama político-social da Roménia atual, um partido que lute contra o capitalismo e suas desastrosas consequências não pode ser mas que bem-vindo (em princípio).
Já agora, a televisão romena, junto com jornalistas de alguns outros meios, estiveram no Congresso, mas nas crônicas sobre ele não destacaram nada positivo. Limitaram-se a entrevistar um ou outro personagem estrambótico, para ridicularizar todos os participantes, e a fazer qüestão do adjetivo "nostálgicos", sem referir para nada a participação de grande quantidade de jovens que estão já fartos dos crimes do capitalismo, e que não se deixam enganar pelas mentiras da propaganda dos meios ao serviço do capital. Isto é, nada de novo por parte dos mercenários da imprensa: nem objetividade nem decência profissional.