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210712 kurzAlemanha - Porta de Tudo - Morreu nesta quarta-feira (18), aos 68 anos, o filósofo alemão Robert Kurz, um crítico radical e contundente do "moderno sistema produtor de mercadorias", um pensador ímpar em nossos dias que propunha uma nova leitura de Karl Marx, destacadamente recolocando no centro das discussões o conceito de fetichismo da mercadoria na obra do autor de "O capital". Agudo, Kurz não poupava nem mesmo o pensamento de uma esquerda esclerosada e sub-repticiamente defensora do status quo e de valores pequeno burgueses.


Foi autor de muitos livros entre eles, provavelmente o mais famoso, "O colapso da modernização" que foi prefaciado no Brasil por seu xará e entusiasta Robert Schwarz. Neste livro, escrito pós queda do muro de Berlim, Kurz defende, entre outras teses, que a derrocada do dito socialismo na URSS não significava apenas o fracasso de um regime totalitário imposto como forma do que alcunhou de "modernização recuperadora" (já que na essência tanto o socialismo soviético como o capitalismo ocidental eram mais similares que antagônicos, sendo o primeiro uma espécie de fase mercantilista num momento avançado da história da acumulação do capital) como também anunciava – sem ser apocalíptico porque via a derrocada como um processo e não uma ruptura imediata – um prognóstico marcado por crises para o capitalismo ocidental nos anos vindouros.

Autor também de inúmeros artigos e ensaios, Kurz dirigia toda sua crítica ao capitalismo sempre com um escrita elegante e coerente onde, a partir de exemplos ricos e diálogo com outros filósofos, concatenava com bastante organicidade – apesar de algum hermetismo – seu raciocínio perspicaz, contundente e radical (raiz).

Acredito que a morte de Kurz é uma perda inestimável para o pensamento e os pensadores comprometidos com a emancipação do ser humano numa sociedade já extremamente dilacerada pelo atomismo dos indivíduos que não conseguem mais tomar seus destinos em suas mãos sem abrir mão da autenticidade, da espontaneidade e de uma verdadeira alegria de viver que jamais poderá ser comprada em supermercados ou ser vivenciada por aqueles que acreditam na concorrência como forma de felicidade.

Kurz era o filósofo vivo que li com mais dedicação e também o que mais me influenciou nos últimos anos a refletir sobre o atual "modo de reprodução social" que vivemos. Acompanhava com atenção todos os seus textos sem que, no entanto, subscrevesse de todas as suas ideias, mas sua crítica radical e inegociável sempre me fascinaram num mundo onde as transformações precisam também da coragem daqueles que não fazem concessões por conveniência.

Vou deixar aqui quatro sugestões de artigos e um ensaio de Kurz para quem se interessar. Quase tudo que ele escreveu pode ser conferido no site da Exit cujo o link está aí do lado. Não poderia deixar de citar que Kurz foi membro do grupo Krisis, sendo um dos redatores do imprescindível "Manifesto contra o trabalho".


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