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IMG 1249França - Diário Liberdade - Houzan Mahmoud é uma reconhecida lutadora pelos direitos de mulheres curdas e ativista anti-guerra nascida no Curdistão iraquiano.


Foto de Nicod (CC by-sa/3.0/) - Houzan Mahmoud em Paris.

Houzan Mahmoud soma a sua voz às que denunciam a hipocrisia ociental antes, durante e após os atentados que na passada semana deixaram 129 pessoas mortas em Paris:

Saudações, queridos amigos,

A 31 de outubro de 2015, participei numa grande conferência de paz na cidade de Ypres, na Bélgica, por ocasião do centenário da primeira guerra mundial (1914-1918). Falei sobre o perigo do ISIS, em particular, e sobre a ideologia islamita em geral. O meu ponto era "já  ninguém está seguro, mesmo nós nesta sala”. Senti que o público pode ter pensado que estava a exagerar. Devo dizer que o que eu e outros ativistas do Médio Oriente vêm dizendo há mais de uma década é agora mais visível do que nunca.

O que aconteceu em 13 de novembro no coração de Paris é desumano e condeno-o. Manifesto profundas condolências e resoluta solidariedade para com todo o povo francês por ter sido alvo de tais ataques bárbaros e perder entes queridos.

Ontem e nos dias anteriores, o Líbano, o Afeganistão, Bagdad, a Síria e muitos outros lugares foram transformados pelos islamistas em palcos de terror. Activistas como eu, do Médio Oriente, vítimas da intolerância religiosa, da misoginia e das ditaduras vêm alertando o Ocidente para as consequências do seu apoio interminável aos grupos islamitas, tanto na Europa como no Médio Oriente. Somos civis comuns transformados em "alvos fáceis" dos islâmicos em toda a parte.

Estando totalmente solidaria com as vítimas dos ataques terroristas islâmicos em Paris, não posso aderir ao slogan "somos todos franceses ou de Paris". O facto de ser curda do Iraque e uma mulher que se opõe à tirania, ao nacionalismo, ao islamismo, ao sexismo e a todas as formas de segregação capitalista dos seres humanos impede-me de dizer que sou "francesa", mesmo que de uma forma simbólica ou momentânea.

Milhares de pessoas são mortas, violadas, vendidas como escravas, decapitadas, executadas e oprimidas há décadas e quase não vemos os governos ocidentais lamentar os mortos iraquianos, sírios, libaneses, afegãos ou curdos. Somente quando o horror é levado às suas casas é que a brutalidade cometida por esses grupos terroristas se vos torna real. E, de repente, começa o jogo enganoso do nós, os "civilizados", e do eles, os "primitivos".

Aceitar esta lógica é fomentar a divisão e o racismo latentes e não é propício à nossa luta, que se opõe a todas as formas de discriminação. Isto divide ainda mais a sociedade entre dois campos e não é realista.

É preciso lembrar que milhões de muçulmanos, em todo o Médio Oriente, são vítimas do terrorismo islâmico. Foi o apoio do Ocidente a ditadores na Líbia, Síria, Irão, Iraque, Egipto e outros lugares, que alimentou a ideologia islâmica sob o pretexto de esta “seria autêntica” interpretação dos anseios populares, embora própria de primitivos.

Milhares de pessoas na nossa região recusam curvar-se diante destes grupos e estados terroristas islâmicos, ditos “autênticos”. Veja-se a resistência de homens e mulheres, velhos e jovens do Curdistão, que estão em pé de guerra contra esses grupos.

O que temos de fazer, como progressistas, é mantermo-nos firmes contra esses ataques horríveis, mas, ao mesmo tempo, ficar atentos e opormo-nos à divisão capitalista das nossas sociedades. O que, a acontecer, irá criar um terreno ainda mais fértil para que grupos terroristas como o ISIS, Boko Haram, Al-Qaida e muitos outros florescerem. Precisamos de unidade, mas na base dos nossos próprios termos, baseados na igualdade entre todas as pessoas.

Amor e solidariedade

Houzan Mahmoud

Houzan Mahmoud (1973- ) é uma reconhecida lutadora pelos direitos de mulheres curdas e ativista anti-guerra nascida no Curdistão iraquiano. Foi a principal oradora na reunião anti-guerra de Março de 2003, em Londres, e co-fundadora da Coligação das Mulheres Iraquianas pelos Direitos. Conduziu uma campanha internacional contra as leis da Sharia (legislação fundada no Islão) e a opressão de mulheres no Iraque. Tem artigos foram publicados nos jornais britânicos The Guardian e The Independent.


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