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maduroVenezuela - Diário Liberdade - [Eduardo Vasco] A Venezuela vive um clima de tensão pré-eleições legislativas, que acontecerão no começo de dezembro. A direita golpista, como é de costume, já está chorando e esbravejando pela possível derrota, que seria a 19ª em 20 eleições desde que o “chavismo” chegou ao poder, há 16 anos.


Presidente venezuelano Nicolás Maduro. Foto: PSUV

São recorrentes as tentativas de desacreditar o sistema eleitoral venezuelano por parte da oposição. Ela mantém uma campanha suja contra o CNE (Conselho Nacional Eleitoral), e dá mostras de que não irá aceitar, uma vez mais, a possível derrota para os candidatos bolivarianos.

Mas o acusado de não aceitar o resultado das eleições é... o presidente Nicolás Maduro. O autor de tal imbecilidade, porém, não é um político da MUD (Mesa de Unidade Democrática) e muito menos um terrorista financiado por Washington para desestabilizar o governo venezuelano. Jean Wyllys, uma das mais destacadas figuras do PSOL, considerado o melhor deputado federal em 2012 e um dos candidatos mais populares do Rio de Janeiro nas últimas eleições, distorceu em boa medida a realidade social e política da Venezuela, em um texto publicado em sua página do facebook.

“Maduro expressa seu desprezo pela democracia e pelas liberdades democráticas”, afirmou o ex-BBB, ao citar uma fala do presidente venezuelano na televisão estatal daquele país. Ao que parece, Wyllys, apesar de seu desempenho ativo no parlamento brasileiro, demonstra total incapacidade interpretativa do contexto da declaração ou de discernimento entre o Legislativo e o Executivo venezuelano.

A frase de Maduro foi exatamente a seguinte: “Se sucedesse esse cenário hipotético (da vitória da oposição) negado, negado e trasmutado, eu governaria com o povo, sempre com o povo, e com união cívico-militar. Se ocorrer esse cenário, negado e trasmutado, a Venezuela entraria em uma das mais turvas e comovedoras etapas de sua vida política, e nós defenderíamos a revolução, não entregaríamos a revolução, e a revolução passaria a uma nova etapa (...) a revolução não será entregue jamais (...) com a Constituição nas mãos, levaremos adiante a independência da Venezuela, custe o que custar e como for”.

O presidente se referia ao cenário de golpismo institucionalizado que, não é difícil de imaginar, a direita impulsionaria a partir de seus parlamentares, tendo maioria. Obviamente, é fundamental para a direita venezuelana reconquistar os aparelhos de Estado, tanto o Legislativo como o Judiciário (atualmente governistas) para chegar ao poder. E isso implicaria, como é habitual da direita, em uma campanha de desestabilização elevada a um grau sem precedentes para o “chavismo”. A oposição, que daria motivos para um aumento extraordinário do financiamento estadunidense, tornaria a governabilidade impossível para Maduro, que só poderia então recorrer ao apoio popular para permanecer à frente da nação e não ser derrubado por um iminente golpe de Estado.

Esse é o contexto da declaração do presidente venezuelano. Mas Jean Wyllys acredita que isso seja uma “ameaça velada” de Maduro ao seu povo. O “socialista” apresenta os problemas da Venezuela como sendo provocados somente pela má gestão administrativa do presidente, que, segundo ele, deixou para trás os avanços sociais conquistados durante os mandatos de Chávez, e esquece que a burguesia venezuelana está diretamente envolvida nisso. Primeiro, porque parte dela se incorporou ao governo bolivariano, que mantém ligações com setores abastados, apesar de ser apoiado nas massas, o que mostra o caráter de conciliação de classes do “chavismo”, que não rompe totalmente com a burguesia, mas que é vítima do imperialismo. Segundo, porque os setores mais reacionários da burguesia levam adiante uma guerra econômica terrorista, o que ocasiona no desabastecimento (com retenção, especulação e contrabando de produtos de primeira necessidade) e na alta inflação. Apesar disso, o governo busca compensar esses danos com constantes aumentos salariais, inclusive acima da inflação.

Wyllys, que considera o governo bolivariano uma espécie de regime totalitário, chama de “retórica anti-imperialista” as declarações de Maduro, ao mesmo tempo em que o acusa de ameaçar expulsar do país repórteres da CNN e cancelar as licensas da emissora, legítima porta-voz do imperialismo em território soberano como é a Venezuela. Isso seria censura à imprensa, apesar de 80% dos meios de comunicação do país serem controlados pela oposição e os canais estatais não superarem 10% da audiência.

O pacifista (para os interesses da burguesia) do PSOL critica os trabalhadores venezuelanos por se armarem em milícias de bairros com ajuda do governo, mas outra contradição aparece quando, logo em seguida, fala da “repressão aos estudantes” (sacrossantos, intocáveis, todos bem intencionados), prisão de dirigentes da oposição, perseguição política, autoritarismo, ameaça a oposicionistas, difamação a opositores desse mesmo governo. Ora, por que um governo armaria suas vítimas? Há um esquecimento do que frequentemente ocorre por lá. Na tentativa de golpe de Estado em 2002, a oposição, com amplo apoio da imprensa e dos EUA, deixou vários mortos e repetiu o banho de sangue em 2014, com protestos nos bairros nobres de Caracas. Uma figura presente nos dois episódios foi Henrique Capriles, tradicional opositor do “chavismo”, que incitou a violência direitista e o caos, mas protegido de Wyllys.

Aliás, ele diz que o governo reprime violentamente manifestações. O mesmo discurso da direita mais feroz e raivosa, venezuelana, brasileira e latino-americana. “Tanques na rua, gás lacrimogêneo, grupos armados e manifestantes mortos é uma violação aos direitos humanos”, mais uma manipulação cínica do deputado. Ao colocar isso na mesma frase, passa intencionalmente a impressão de que as mortes nas manifestações de 2014 foram causadas pelo governo, sendo que ao menos metade delas era de chavistas, e a direita contava inclusive com grupos de franco-atiradores para atacar os apoiadores do governo que saíam às ruas para rechaçar o golpismo. Aliás, o governo tanto viola os direitos humanos, que a Venezuela foi reeleita esta semana como membro da Comissão de Direitos Humanos da ONU.

O clima de polarização política estremece de medo o parlamentar pequeno-burguês. O povo armado e organizado e a consciência de quem é o inimigo principal a ser combatido não são vistos com bons olhos por Jean Wyllys.

Progressista em relação às liberdades individuais, um liberal de esquerda, mas anticomunista, Wyllys acredita em um socialismo nos marcos da democracia burguesa, por isso é tolerado pelos capitalistas. Esse tipo de socialismo faz o jogo da burguesia.

Os limites do processo bolivariano encabeçado por Maduro são evidentes. O governo também é gerido nos marcos da democracia burguesa. Mas, e Chávez já tinha plena noção disso, o povo venezuelano é o motor desse processo, que tem o potencial de se radicalizar e superar a fase de democracia participativa bolivariana.

As massas ainda mantém fortes laços com seu líder histórico, e também com Maduro. Apenas o apoio do povo poderá suportar seu presidente diante de uma possível vitória opositora nas eleições legislativas. Esse cenário tende a ser de um aprofundamento da luta de classes e organização da classe trabalhadora venezuelana, tanto para impedir o golpe como para radicalizar o processo revolucionário e ser ela mesma o único agente de sua emancipação.

Mas em sua análise, Wyllys defende a “democracia e a liberdade”. Esse é exatamente o discurso da direita que quer derrubar Maduro.


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