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040215 ctaiboEstado espanhol - Portal Anarquista - [Carlos Taibo] "A deriva de 'Podemos' é a de um partido guarda-chuva (*) que não duvida em defender as forças armadas enquanto garante da soberania, assume um discurso nacional-patriótico e evita as definições ideológicas, da mesma maneira que o fez o PSOE em 1982.". 


Há umas semanas, numa rádio alternativa, perguntaram-me se não era verdade que o municipalismo tem uma profunda raiz libertária. Respondi com uma evidência: o municipalismo libertário tem uma profunda raiz libertária, mas aplicar este adjectivo a qualquer proposta municipalista é um erro. O que sempre se defendeu no mundo libertário é o município livre, autogestionado e descentralizado. Tal proposta, que é a nossa, muito dificilmente pode confundir-se com a dos projectos que acatam a lógica das instituições e das suas escolhas, como é o caso da maioria dos que têm proliferado nos últimos meses. Não será de mais acrescentar que estes projectos municipalistas de que vos falo assumem a presença de forças políticas que não têm qualquer característica libertária. Para que, por fim, nada lhes falte, nem sequer se pode invocar a discussão que a CUP (**) catalã colocou quando decidiu concorrer a eleições municipais em pequenos núcleos populacionais nos quais, pelo menos no papel, era imaginável a utilização de formas de democracia directa. Obviamente não é este o horizonte que invocam 'Guanyem' (***), em Barcelona, ou 'Ganemos' (***), em Madrid e a maioria dos 'Ganemos' que conhecemos.

Hoje mesmo, noutra rádio, perguntaram-me o que é que existe de libertário na proposta do 'Podemos'. Com toda a evidência, absolutamente nada: os responsáveis de 'Podemos' não partilham, nem sequer retoricamente, com nenhum horizonte libertário. E, em primeiro lugar, não o fazem porque as suas apostas de curto prazo não rompem, de forma premeditada, a vulgata socialdemocrata, nem colocam qualquer horizonte de superação do capitalismo e não prestam atenção à corrosão terminal que ele atravessa e ao colapso que se avizinha. A deriva de 'Podemos' é a de um partido guarda-chuva que não duvida em defender as forças armadas enquanto garante da soberania, assume um discurso nacional-patriótico e evita as definições ideológicas, da mesma maneira que o fez o PSOE em 1982.

O projecto correspondente, dirigido por uma cúpula hierarquizada, assenta no que mais parece uma ficção de participação assembleária, bem adaptada à condição de muitos simpatizantes – não todos, claro – que são, apenas, activistas de Facebook e é consequente também com a submissão às misérias vinculadas com eleições, partidos e instituições. O panorama completa-se quando se verifica que a esperança que 'Podemos' provocou em muita gente se confronta com um cenário de inquietante desmobilização social e laboral. Ainda que a responsabilidade por isto estar a acontecer não seja exclusiva da nova força política, não deixa de surpreender que os seus dirigentes pareçam não estar minimamente preocupados com isso. Essa proximidade às instituições e esse desdém pela mobilização e pela luta talvez se devam ao facto de 'Podemos' considerar os movimentos sociais como meros utensílios ao serviço de um projecto ditado por uma vanguarda omnisciente, num cenário que não pode estar mais afastado do retratado pela palavra autogestão. Por fim, temo muito que os dirigentes de Podemos, que acreditam estarem a encabeçar um projecto sob o seu controlo, possam estar realmente a serem reféns de um projecto concebido por outros.

(tradução Portal Anarquista)

(*) Partido atrapalotodo, em castelhano. Partido em que todos cabem, em que cabe lá tudo, sem grande definição ideológica ou de classe. (N.d.T.)

(**) CUP – Candidatura d'Unitat Popular, surgida na Catalunha, de características assembleárias, que protagonizou várias listas a pequenos municípios. (N.d.T.)

(***) Candidaturas municipais a Barcelona e Madrid, a partir de movimentos sociais, que estão a ser organizadas para as próximas eleições autárquicas no Estado Espanhol, seguindo de muito perto o modelo de 'Podemos'. (N.d.T.)


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