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negriFrança - UniNômade - Entrevista realizada por Dínamo Press ao filósofo italiano Antonio Negri, traduzida por UniNômade Brasil.


Quais são os contragolpes na França depois dos eventos começados no massacre de Charlie Hebdo chegando até a Marcha republicana de 11/1?

Negri: Os contragolpes ao ataque de 7/1 são aqueles que sucedem ataques "terroristas" do gênero. Já conhecemos a lição: hinos à segurança, apologia da polícia e serviços de segurança, ódio ao inimigo, unanimidade em denunciar o perigo etc. E, além disso, neste caso, a demonização do perigo islâmico. Os contragolpes à manifestação de 11/1, ao contrário, ainda não se sabem quais serão. Melhor dizendo: existem muitos que pensam que os quatro milhões de franceses de todas as cores e religiões que se manifestaram em nome da "fraternidade" seriam apenas iludidos que não sabem fazer valer a sua paixão democrática, diante da astúcia do poder e da força do racismo de estado. Pessoalmente, não acredito nisso. Penso, diversamente, que talvez essa manifestação seja o início de uma virada do quadro acima descrito e que possa bloquear — ou pelo menos comece a bloquear — o ciclo de crescimento da direita fascista e chauvinista na Europa. Havia uma boa atmosfera na manifestação. Não passava, realmente, a impressão da passeata de fascistas e católicos integralistas do último outono. A classe política parece ter sido superada por essa manifestação. Vejamos o que acontece. Vejamos se terá a força política (e o bom senso) para conseguir superar aquele aproveitamento descerebrado da crise, a partir do que se pode gerar fascismo e chauvinismo. Somente assim, o crescimento das forças nacionais de direita poderá ser bloqueado. A França precisa das periferias [banlieues] e a manifestação do 11/1 também as quer e disse isso — a quem quer ouvir.

Você pensa que nos encontramos em algum modo ante uma terceira guerra mundial, como sustentam muitos e não somente a direita islamófoba?

Negri: Não, não acredito numa guerra mundial. O ataque islamista de 7/1 não é uma nova Sarajevo nem os companheiros do Charlie Hebdo são o arquiduque Ferdinando. No mais, as guerras que até agora foram feitas a partir daquela parte do mundo não  parecem ter terminado muito bem. Os grandes problemas estão na realidade noutro lugar: no mar da China. Aquilo é o umbigo do mundo em que tudo pode acontecer — enquanto só Netanyahu quer a guerra com os árabes, inclusive contra a vontade dos EUA, ou então algum discípulo da fanática Fallaci [1]. Não, a guerra — aquela verdadeira, grande — não acontecerá ainda e, se a fizerem de qualquer jeito, os nossos senhores a perderão, antes de tudo a perderão no interior de suas próprias belas nações, e a seguir a perderão no exterior, no mundo globalizado. Mas não quero causar medo. Nesta situação, pensando no que podemos fazer, é preciso compreender que é urgente organizar-se politicamente, para da horizontalidade dos movimentos fazer emergir uma política vertical que saiba exprimir força e programas políticos. É urgente, se não quisermos ter ainda mais medo e sentirmos (como muitos sentiram na manifestação de 11/1) que a nossa pobreza e fraternidade podem vencer.

Nota dos tradutores:

[1]Oriana Fallaci (1929-2006), jornalista italiana anti-Islã.

 

Original em: http://www.dinamopress.it/news/da-charlie-hebdo-alla-guerra-globale-due-domande-a-toni-negri 


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