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aentrevisyaCoreia do Norte - Teorizando - [Jones Manoel] A Sony produziu um filme chamado "A Entrevista". O filme conta a história de dois jornalistas que criam um plano para matar Kim Jong Um [1]. A película ridiculariza o povo norte coreano, seus costumes, sua história e sua sociedade. Segundo o FBI - fonte nada confiável - hackers norte-coreanos atacaram a Sony para impedir o lançamento do filme [2].


Depois disso, a Sony (pagando de vítima) anunciou o cancelamento da estréia do filme. Obama em um clássico discurso viril e arrogante defendeu o lançamento do filme e afirmou que qualquer ataque à Sony seria considerado uma agressão direto aos Estados Unidos. Bem, de toda essa celeuma eu gostaria de comentar alguns pontos:

Leia mais: Viva os hackers da Coreia do Norte!

A) É imperdoável para qualquer marxista depois de Gramsci e Althusser achar que existe "arte neutra" ou que "é apenas um filme". Sabemos bem, do ponto de vista teórico, qual é a importância, configuração e função da ideologia na luta de classe. Do ponto de vista histórico, depois dos trabalhos de Edward W. Said (O Orientalismo e Cultura e Imperialismo) e Domenico Losurdo (todas as obras dele), qualquer marxista com o mínimo de formação não pode ignorar a função da cultura e da ideologia no imperialismo, na guerra, na opressão de um povo [3]. Então pessoas que estão dizendo que é "apenas um filme" e "arte é arte", parem com isso, ou, deixem de se afirmar marxistas.

B) O Filme é uma peça de desumanização e inferiorização cultural do povo da Coréia do Norte. Mostra o povo do país de forma grotesca, estereotipada, preconceituosa, bizarra. Conhecemos bem essa estratégia: cria-se uma idéia de um povo como bárbaro, incivilizado, inferior culturalmente e a partir daí justificasse invasões, ocupação militar, colonialismo, etc. Um exemplo perfeito disso é o documentário "Filmes ruins, árabes malvados" [4] que mostra como a indústria cinematográfica de Hollywood inferioriza, desumaniza e humilha o povo e a cultura árabe há anos (isso justifica, é claro, as agressões militares).

C) É necessário reconhecer a nossa ignorância sobre a história, os costumes, o sistema político, a economia e o dia-dia do povo da Coréia do Norte. A maioria das notícias que os monopólios de mídia divulgam vem da Coréia do Sul. A Coréia do Sul tem uma lei de segurança nacional que proibi a vinculação de qualquer notícia considerada positiva sobre a Coréia do Norte. Poucos dias atrás um sujeito foi preso e pode pegar sete anos de cadeia por postar um twitter elogiando a Coréia do Norte [5]. Além disso, não temos muitos trabalhos acadêmicos, livros, documentários, etc., de boa qualidade sobre o país. O idioma, à distância, as diferenças culturais, o bloqueio do imperialismo (o embaixador britânico da Coréia do Norte falou bem do país no seu blog e foi exonerado do cargo) impedem a disseminação de boas informações. De vez em quando temos acesso a bons textos em blogs, matérias de boa qualidade em revistas internacionais (como o Le Monde Diplomatique) e depoimentos de viajantes. Mas nada muito sistemático. Então qualquer pessoa de bom senso deveria começar assumindo que: não temos material satisfatório para conhecermos como se deve o país em sua totalidade.

D) Por fim, concordando ou não com a ideologia, o sistema político e econômico da Coréia do Norte, é dever de todo marxista e pessoa de esquerda tomar uma postura anti-imperialista. Defender que o povo do país é que deve definir seu destino, decidir se quer continuar como está ou mudar sua situação política. Os Estados Unidos têm mais de 20 mil soldados e armas atômicas na Coréia do Sul, patrocina um bloqueio econômico brutal contra o país e tem bases militares em todos os países vizinhos da Coréia (menos China). Em uma conjuntura como essa alguém se preocupar mais em denunciar as "supostas violações dos direitos humanos" ou o "regime stalinista" do que as agressões do imperialismo estadunidense é objetivamente fazer o jogo do imperialismo, se comportar como um imbecil guiado pela ideologia dominante.

Notas:

[1] - http://tecnologia.terra.com.br/filme-a-entrevista-e-assistido-online.

[2] - http://www.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/408-direitos-nacionais-e-imperialismo/53265-viva-os-hackers-da-coreia-do-norte.html.

[3] – Documentário História do Racismo (mostra, dentre outras coisas, o papel da ideologia na dominação da África): https://www.youtube.com/watch?v=0NQz2mbaAnc.

[4] – Documentário Filmes ruins, árabes malvados: https://www.youtube.com/watch?v=Im5qQ9s-ohA.

[5] - http://tecnologia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2012/02/02/sul-coreano-e-preso.

Jones Manoel é graduando em História pela Universidade Federal do Pernambuco/Brasil e militante da UJC/PCB.


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