Mas não só os manifestantes têm consciência disso, pois essa é a realidade apontada por uma pesquisa científica sobre as espécies animais, publicada na capa de uma edição especial da revista Science – uma das mais respeitadas do mundo –, que teve a participação do pesquisador brasileiro Mauro Galetti, professor do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).
Essa pesquisa traz novas visões sobre o Antropoceno, ou seja, a atual etapa geológica vivida pela Terra, caracterizada pela intensa ação humana que produziu mudanças significativas no clima, na biodiversidade, na atmosfera e nos oceanos. Os impactos da atividade humana sobre a natureza estão sendo capazes de alterar até mesmo as rochas, que demoram milhares ou milhões de anos para sofrerem alterações, mas que poderão ser identificadas no futuro como pertencentes à época atual.
Sabemos que esses impactos não são positivos e que a destruição da natureza pelo homem é uma certeza que não pode ser negada; só resta a dúvida sobre quando ela começou. Alguns pesquisadores entendem que foi há 100 mil anos, quando nossos ancestrais saíram da África para povoar o resto do mundo, outros defendem a hipótese de que foi com a invenção da agricultura, há 10 mil anos, e outros dizem que foi com a Revolução Industrial, há cerca de 200 anos.
A forma devastadora como o ser humano explora a natureza é, atualmente, a principal causa da extinção de espécies. Não à toa, mesmo que espécies estejam desaparecendo há 12 mil anos, os pesquisadores definiram o ano de 1500 como o início do extermínio de outras espécies pela ação humana. É só lembrarmos que o ano de 1500 marcou o início da expansão do capitalismo mercantilista com a descoberta da América e a devastação deste continente junto com a África e a Ásia. Desde então, 322 espécies de vertebrados foram extintas, como o tigre-da-tasmânia, o rinoceronte-negro e o dodô (uma ave que não conseguia voar, assim como a galinha).
A principal causa da matança dos animais ainda é a caça para alimentação, seja por necessidade, como na África, ou por diversão, como nas caçadas que envolvem reis e milionários mundo a fora. A segunda causa é a destruição do habitat (moradia), provocada pelo desmatamento. Hoje, a ganância do lucro no campo tem causado o desmatamento em regiões como a Floresta Amazônica para atender a interesses do agronegócio. A introdução de espécies invasoras também ajuda na extinção. Por exemplo: com a chegada dos europeus ao Brasil, cães e gatos passaram a disputar alimentos ou a atacar os animais nativos do Brasil, como pássaros, macacos, tatus e cotias. Isso acontece ainda hoje em parques que viraram morada de cães e gatos abandonados.
As extinções não são novidade para o nosso planeta. A Terra já passou por cinco delas nos últimos 500 milhões de anos, sendo a mais famosa a do período Cretáceo, que eliminou os dinossauros. A diferença fundamental é que as outras cinco foram causadas por acontecimentos naturais, como mudanças na temperatura global, ação de vulcões ou a queda de asteroides. Já o Antropoceno é a única delas causada por uma única espécie: o homem.
Se contarmos as espécies em risco de extinção, os dados mostram que a população animal vem caindo porque elas não têm tempo de se reproduzirem antes de serem mortas. Somente nos últimos 40 anos, a população animal caiu 28%, ou seja, para cada 100 animais que existiam em 1970, hoje só temos 72.
Mas a extinção de espécies animais não causa problemas apenas para a fauna (nome dado à diversidade de animais em uma região), mas também para a flora (diversidade de plantas). Animais como pássaros, macacos, roedores e abelhas são responsáveis por carregar e espalhar as sementes ou o pólen de flores, que darão origem a novas árvores e florestas. Hoje existem várias "florestas vazias", que são aquelas que possuem árvores e plantas, mas não possuem animais. Essas florestas são pobres e improdutivas. A Mata Atlântica não possui nenhum dos principais animais semeadores em 88% do seu território, e a Serra do Mar, no Estado de São Paulo, possui apenas pássaros.
Por isso, o "capitalismo verde" não soluciona o problema ecológico. Plantar eucaliptos não é reconstruir uma floresta.
A solução imediata para evitar um desastre ainda maior para os seres vivos é o fim da exploração desenfreada das florestas e do extermínio de animais; a segurança de áreas protegidas como parques e reservas naturais contra caçadores e o repovoamento com espécies nativas, que podem ser recuperadas das mãos de traficantes; e obrigar os donos de grandes fazendas a fazer não apenas o reflorestamento, mas também o refaunamento, povoando as florestas replantadas com animais semeadores para que estas se mantenham de pé.
Como disse o pesquisador Galetti: "Essa pesquisa rebate o discurso de que o dinheiro usado para salvar o mico-leão-dourado poderia ser empregado para construir hospitais e escolas. Acontece que não estamos preocupados com o mico-leão porque ele é bonitinho, mas sim porque ele dispersa mais de 100 espécies de plantas, que ajudam a controlar o clima e melhorar a qualidade da água. Os animais são essenciais em processos ecológicos chave para a própria sobrevivência dos seres humanos".
Mas a solução real para o equilíbrio da vida humana na natureza se dará apenas em uma sociedade socialista, na qual os recursos naturais serão usados para garantir uma vida de qualidade para o ser humano, mas com respeito aos outros seres vivos e à natureza.
Lucas Marcelino é diretor da União Nacional dos Estudantes/Brasil.