Prontamente, a administração xiita do Irã reagiu com veemência contra a execução do clérigo, e na madrugada do dia 2 para o dia 3 centenas de pessoas atacaram a embaixada da Arábia Saudita em Teerã com paus, pedras e coquetéis molotov. Uma das alas do prédio foi incendiada. Houve um violento ataque também contra o consulado saudita na cidade iraniana de Mashhad.
Imediatamente, a Arábia Saudita retirou às pressas seu corpo diplomático do Irã, anunciou o rompimento das relações diplomáticas com o governo de Teerã e suspendeu todos os voos que partiriam dos seus aeroportos para o território iraniano. O “presidente” do Irã, por seu turno, acusou a Arábia Saudita de ter lançado mão de todas essas medidas para “encobrir seu crime de ter decapitado um líder religioso em seu país”.
As decisões de Riad levaram a uma reação em cadeia entre os países da África e do Oriente Médio gerenciados por grupos sunitas: Sudão, Bahrein, Kuwait e Emirados Árabes também retiraram seus embaixadores de Teerã. O Bahrein foi além e deu 48 horas para os diplomatas iranianos deixarem seu território.
Ao contrário do que o monopólio da imprensa burguesa tenta fazer crer, esta sucessão de episódios não se balizam apenas pela rivalidade histórica entre sunitas e xiitas, mas também, e sobretudo, não pode ser compreendido em sua totalidade senão à luz da geopolítica, ou seja, das contendas entre o blocos de poder encabeçados pelo USA, de um lado (que abarca a Arábia Saudita), e pela Rússia, do outro (que abarca o Irã); da escalada das tensões e provocações entre esses blocos; das vésperas da conflagração de um conflito de maiores proporções no Oriente Médio; e, afinal, do odioso manejo político, geopolítico, por parte das potências internacionais justamente das explosivas diferenças religiosas historicamente nutridas entre sunitas e xiitas.
No início de janeiro, em outra frente das provocações de guerra do imperialismo, a contrapropaganda do USA e dos seus sócios da União Europeia se esforçou para fazer cair como uma bomba, quase que literalmente, a notícia de que a Coreia do Norte levou a cabo mais um teste com armas nucleares, este supostamente com uma bomba de hidrogênio. Dias depois da notícia, o USA fez um bombardeio B52 das suas forças armadas sobrevoar a fronteira entre as Coreias e anunciou o envio de mais armamentos para seu enclave Coreia do Sul, subindo o tom das provocações dirigidas a Pyongyang.
A Coreia do Norte, evidentemente, está longe de ser um Estado popular, mas é um Estado soberano e tem o direito de se defender, sobretudo se é alvo constante de provocações por parte das potências. Vejam como opera a demagogia neste assunto: uma “jornalista” do monopólio da imprensa no Brasil, comentando o caso, disse: “em se tratando de Coreia do Norte, temos que ficar todos atentos”.
Como se fosse a Coreia do Norte um país imperialista ora em franca beligerância mundo afora; como se atuasse para além de suas fronteiras como atua o maior desses países imperialistas, e justamente o que tem o maior arsenal atômico do mundo: invadindo, provocando, destruindo, sabotando e subjugando países e regiões inteiras do planeta, e ameaçando o mundo, afinal, com a deflagração de uma contenda nuclear com seu antagonista maior nestes violentos e correntes esforços pela partilha do mundo, a Rússia.
Ou seja: como se a Coreia do Norte fosse o USA, cujo chefe de turno, Obama, costuma receber atenção do monopólio, sim, mas para bajulação e para a “crônica jornalística” de conivência com seus bárbaros crimes contra os povos do mundo.