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319px Fernwärmeleitung Dü StPö mit Kraftwerk DürnrohrCubadebate - [Marie-Ange Patrizio] Enquanto Thierry Meyssan entende a retomada das negociações entre Ancara e Moscou sobre o comércio de gás como a resposta turca à denúncia russa do apoio de Ancara ao Estado Islâmico, o analista italiano Manilo Dinucci vê nela uma decisão séria da Turquia que desafia a vontade de Washington.


Foto de Ulrichulrich (CC by-sa/3.0/)

Manilo Dinucci interpreta a derrubada do Su-24 russo como uma sabotagem de Washington contra as relações russo-turcas. Por outro lado, Thierry Meyssan vê nessa operação uma tentativa turca para empurrar a Rússia fora da área onde a Turquia pretende criar um pseudo-Curdistão. As duas hipóteses são dignas de serem consideradas.

O míssil Aim-120 Amraam que um F-16 da Turquia (ambos made in USA) que na semana passada lançou contra um russo Su-24 não foi dirigida apenas contra esse bombardeio tático, mas contra um objetivo muito mais importante: o projeto de gasoduto Turkish Stream que deveria trazer o gás russo para a Turquia e, em seguida, para a Grécia e outros países da União Europeia.

O projeto Turkish Stream é a resposta de Moscou à sabotagem dos EUA contra o South Stream, gasoduto que - sem passar pela Ucrânia - deveria levar gás russo até Tarvisio (na província italiana de Udine) e daí para o resto da União Europeia, que deve render retornos elevados para Itália, incluindo geração de empregos. [1]

Esse projeto, iniciado pela russa Gazprom e pela italiana Eni, contou posteriormente com a incorporação da alemã Wintershall e a francesa EDF e já havia alcançado um estágio avançado de conclusão (Saipem, empresa do gurpo Eni, já tinha um contrato de 2 milhões de euros para a construção do trecho através do Mar Negro), quando - depois de ter provocado a crise ucraniana -, Washington se compreendia no que o New York Times definiu como “uma estratégia agressiva para reduzir o fornecimento de gás russo para a Europa.”

Sob pressão dos EUA, a Bulgária bloqueava - em dezembro de 2014 - os trabalhos do South Stream, enterrando assim o projeto. [2]

Porém enquanto, apesar do antagonismo entre Moscou e Ancara sobre a Síria e o Estado Islâmico, Gazprom assinou com a empresa turca Botas um acordo preliminar para a construção de um gasoduto gêmeo entre a Rússia e a Turquia através do Mar Negro.

Em 19 de junho, Moscou e Atenas assinaram um acordo preliminar sobre a extensão do Turkish Stream (com um custo de 2 bilhões* de dólares que assumiria a Rússia) para a Grécia, com a finalidade de converter esse último país como uma porta de entrada do novo gasoduto para a União Europeia [3].

Em 22 de lho, o presidente dos EUA, Barack Obama telefonou para seu homólogo turco Recep Tayyip Erdogan, exigindo que a Turquia se retirasse do projeto [4].

No dia 16 de novembro, entretanto, Moscou e Ancara anunciavam as próximas reuniões dos governos para dar inicio ao projeto Turkish Stream, com alcance superior ao do maior gasoduto existente através da Ucrânia. Oito dias depois, a derrubada do bombardeiro tático russo, no norte da Síria, bloqueou a possibilidade de tais encontros, isso senão anular o projeto em si.

Em Washington, certamente houve um brinde para celebrar o novo sucesso. Turquia, que importava 55% do gás e 30% do petróleo que consome da Rússia, vê-se, de fato, duramente afetada pelas sanções russas e corre o risco de que caia por terra o tremendo negócio do Turkish Stream.

Então, quem poderia ter, na Turquia, interesse em derrubar voluntariamente um avião russo sabendo das consequências que poderia ter esse ato? A frase de Erdogan: “não queríamos que isso acontecesse. Mas aconteceu. Espero que algo como isso não se repita” mais uma vez implica na existência de um cenário mais complexo do que o oficial. Na Turquia, existem centros de comando importantes, estações de radas e bases da OTAN, sob comando dos EUA: a ordem para abater aeronaves russas foi dado nesse âmbito.

Qual é, nesse momento, a situação na “guerra dos gasodutos”? Estados Unidos e OTAN controlam o território ucraniano por onde passam os gasodutos que conectam a Rússia com a União Europeia. Mas a Rússia não se sente na obrigação de contar com tais gasodutos (o volume de gás transportado que antes chegava a 90% caíram para 40% das exportações de gás russo para a Europa) por duas rotas alternativas:

O gasoduto North Stream no norte da Ucrânia, que transporta o gás russo para a Alemanha: Gazprom tem intenções de adicionar uma segunda linha, mas o projeto está sendo bloqueado - dentro da União Europeia - pelos governos da Polônia e de outros países da Europa Oriental, países esses mais obedientes ante as autoridades de Washington e Bruxelas.

O gasoduto Blue Stream, que é administrado conjuntamente pela Gazprom e pela [empresa italiana] Eni. Blue Stream passa pela Turquia, o que envolve algum risco para Rússia.

A União Europeia poderia importar gás barato do Irã através de um gasoduto já projetado que passaria pelo Iraque e pela Síria. Mas esse projeto está atualmente está bloqueado - não coincidentemente - pela guerra desencadeada nesses países devido estratégias dos Estados Unidos e da OTAN.

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* Em escala curta. 2 mil milhões em escala longa.

Traduzido do espanhol por José Diogo Castro de Red Voltaire. Texto original em francês de Marie-Ange Patrizio.

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[1] «De cómo Vladimir Putin invirtió la estrategia de la OTAN», por Thierry Meyssan, Оdnako(Rusia), Red Voltaire, 8 de diciembre de 2014.

[2] «Sabotaje al gasoducto South Stream», por Manlio Dinucci, Tommaso di Francesco,Il Manifesto (Italia), Red Voltaire, 12 de junio de 2014.

[3] “Greece to invest $2 bn in Turkish Stream, will sign memorandum asap – Energy Minister”, Russia Today, 1º de junio de 2015.

[4] “Obama’s Call with Turkish President Erdoğan”, The White House, 22 de julio de 2015. Ndlr.


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