Essa estratégia foi posta em ação desde que os EUA venceram o confronto com a União Soviética e se autodesignaram "o único estado com poder, alcance e influência realmente globais em todas as dimensões – política, econômica e militar", com proposta para "conter todas as potências que pudessem aspirar à dominação regional – Europa Ocidental, Leste da Ásia, União Soviética e Sudeste Asiático – cujos recursos fossem suficientes para gerar poder global."
Para essa finalidade, os EUA reorientaram sua estratégia a partir de 1991 e em comum acordo com as potências europeias, reunidas na OTAN. Desde então, os EUA-OTAN já desintegraram ou demoliram por guerra (aberta e clandestina), um depois do outro, todos os estados que consideraram obstáculo para o plano de dominação global; dentre eles Iraque, Iugoslávia, Afeganistão, Líbia, Síria, Ucrânia e outros – e mais alguns (inclusive o Irã) já estão sendo atacados.
As guerras dos EUA já fizeram milhões de vítimas, destruíram sociedades inteiras, criaram massa descomunal de pessoas desesperadas, cujas frustração e revolta levam, por um lado, a uma resistência real, mas, por outro, estão sendo exploradas pela CIA e outros serviços de inteligência (incluindo os franceses) para produzir combatentes de uma "jihad," que, de fato, promove a estratégia de EUA-OTAN. Assim se chegou à formação de um exército fantasma de grupos islamistas (não raras vezes competindo entre eles), que foi usado para destruir o estado líbio de dentro para fora, enquanto a OTAN atacava; depois, foi usado também em operação similar na Síria e no Iraque.
Disso tudo nasceu o ISIS, no qual "combatentes estrangeiros" reúnem-se a agentes dos serviços secretos, e que receberam bilhões de dólares e armamento moderno da Arábia Saudita e de outras monarquias árabes, aliadas aos EUA e, particularmente, à França.
Essa estratégia nada tem de novidade: há cerca de 35 anos, para atrair a União Soviética para aquela "armadilha afegã", dezenas de milhares de mujahadin foram recrutados pela CIA, de mais de 40 países. Entre esses recrutados estava o rico cidadão saudita de nome Osama bin Laden, que chegou ao Afeganistão com 4 mil homens, a mesma pessoa que, depois que fundou a Al-Qaeda, foi convertido em "inimigo número 1" dos EUA.
Washington não é qualquer aprendiz de feiticeiro, incapaz de controlar as forças que põe em ação. É a força motriz de uma estratégia para destruir estados inteiros, causando uma caótica reação em cadeia de divisão e conflitos a ser usada conforme o velho método de "dividir e governar".
O ataque terrorista em Paris, consumado por um trabalhador não qualificado convencido a atacar o odiado ocidente, aconteceu em perfeito timing: exatamente quando a Rússia, mediante intervenção militar, já bloqueara o plano de EUA/OTAN para destruir o estado sírio e anunciou contramedidas militares para impedir a crescente expansão da OTAN para o oriente.
O ataque terrorista, criando um clima de Europa sitiada, "justifica" um acelerado crescimento militar nos países europeus que formam a OTAN, que inclui aumentar os gastos de defesa de cada um, como os EUA pediram, e abre o caminho para mais guerras sob comando dos EUA. A França, que até aqui "só bombardeara comedidamente dentro da Síria" contra o ISIS, bombardeou a cidade síria de Raqqa no domingo à noite [15 de novembro], o ataque mais agressivo contra o Estado Islâmico, atingindo alvos apontados pelos EUA. Dentre esses alvos, como funcionários do governo dos EUA já especificaram, "algumas clínicas e um museu".
Original em: http://ilmanifesto.info/la-strategia-del-caos/
Tradução do coletivo Vila Vudu