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sanaaArábia Saudita - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] A crise no Iêmen avançou numa escala que tem feito a reação mundial levantar os alarmes.


Ataque aéreo da coalizão imperialista em Sanaa, em maio. Foto: Ibrahem Qasim (CC BY-SA 4.0)

Quando a Arábia Saudita avançou militarmente para invadir o país, há três meses, a propaganda da imprensa reacionária dizia que seria um passeio, que em apenas algumas semanas o país seria controlado, que os Houthis seriam varridos do mapa e o governo fantoche de Abd Rabbu Mansour Hadi, derrocado pelos Houthis em janeiro, seria recolocado no poder. Essa propaganda foi muito similar às que têm precedido todas as últimas invasões.

A invasão e controle do estratégico porto de Aden, localizado no sul do Iêmen, foi uma tarefa relativamente fácil. Cercados pela marinha saudita, pelas tropas da coalizão (que incluem o Egito, Marrocos, Catar e os Emirados Árabes Unidos), os Houthis e as tropas leais ao ex-presidente Saleh somente conseguiram resistir durante algumas semanas. O que a imprensa imperialista quase não divulgou é que a al-Qaeda no Iêmen e o recém criado Estado Islâmico no Iêmen atuaram do lado dos sauditas. Após a derrota dos Houthis em Aden, esses “rebeldes” controlaram parte da cidade, lado a lado, com as tropas da coalizão.

O avanço sobre as demais cidades do sul do país foi relativamente rápido, uma espécie de passeio pelas planícies. Os problemas começaram a escalar quando os sauditas prepararam uma grande ofensiva contra a capital do Iêmen, Sanaa, a partir da cidade de Marib. A resistência nas regiões montanhosas tem sido enorme. Os bombardeios indiscriminados têm deixado milhares de mortos e feridos civis, o que tem aumentado o apoio às forças da resistência.

Os "terroristas": meus amigos, meus inimigos

As monarquias árabes, a Turquia e os sionistas israelenses tentam chegar a um acordo com os russos e com a Administração Obama na Síria, em relação à contenção do Estado Islâmico e da al-Qaeda. Os russos tentam evitar a repetição do pântano do Afeganistão, em que a antiga União Soviética se meteu, buscando negociações para estabelecer uma saída “consensual”.

As potências regionais têm usado os vários grupos “rebeldes” para impor os próprios interesses. O interesse da Arábia Saudita, por exemplo, passa pela contenção da influência do Irã, o arqui-inimigo, e o fornecimento de gás à Europa, a partir do megacampo Pars (Catar), passando pela Síria e a Turquia.

A política que está colapsando na Síria é exatamente a mesma a que os sauditas estão aplicando no Iêmen e que os está colocando contra as cordas. A partir do mês de abril de 2015, o Estado Islâmico tem crescido sobre a cobertura, ou a falta de combate, dos sauditas, que têm se aliado com qualquer grupo que esteja disposto a combater os Houthis. A ofensiva no sul dependeu da aliança com o chamado “Movimento do Sudeste”, outro grupo “rebelde” anti-Houthi.

O financiamento do Estado Islâmico e da AQAP (al-Qaeda na Península Arábica) não conta com a comercialização do petróleo como acontece na Síria. É evidente que o grosso do financiamento tem como origem a própria Arábia Saudita. É brincando com fogo que aparecem as queimaduras.

"Batata quente" a la saudita: a minoria xiita

Os problemas da Arábia Saudita não acabam com os Houthis, que contam com o apoio do governo do Irã. As atrocidades cometidas estão movimentando a minoria xiita, contra os sauditas, tanto no Iêmen como na Província Oriental da Arábia Saudita, que pode fortalecer os Houthis e, ao mesmo tempo, aumentar a violência sectária com o Estado Islâmico e a al-Qaeda, que, apesar da aliança, mantêm ataques contra a coalizão, tanto no Iêmen como em território saudita.

Os Houthis têm promovido vários ataques contra bases militares sauditas dentro do território da Arábia Saudita.

A política saudita contra o Irã, o estado xiita, fracassou. A tentativa de estrangular a economia não somente não funcionou, mas, com o levantamento das sanções, a economia iraniana deverá melhorar. A política exterior anti-Irã, no Oriente Médio, também fracassou e a lápide é a aliança do Irã com o governo norte-americano na Síria e no Iraque. A Administração Obama “traiu” os sauditas e os sionistas ao não promover a “solução final” contra o regime dos aiatolás.

A queda abrupta dos preços do petróleo está aprofundando a crise da economia, razão pela qual os sauditas ofereceram à Federação Russa, que é um aliado próximo do Irã, a entrada na OPEP (Organização Mundial de Petróleo) como membro pleno. Outro rotundo fracasso, pois ao manter os altos níveis de produção de petróleo, os sauditas buscavam apertar o cerco contra os russos, como proxies (agentes) da política do imperialismo.

A desestabilização do Iêmen avança em direção à Arábia Saudita, que representa o coração do Oriente Médio.

A formação do Movimento Ahrar al-Najran mostra a dramaticidade da situação. Esse movimento agrupa várias tribos na região ocupada de Najran, desde 1934, e pede a independência em relação à Arábia Saudita. Esta região é uma das mais pobres do país e tem sido vítima dos ataques indiscriminados do exército saudita.

Na província de Qatif, ponto de partida da “primavera árabe” saudita em 2012 e majoritariamente xiita, cresce o movimento Ansarullah sobre o combustível da brutal repressão saudita que se acentuou justamente a partir dos protestos de 2012. Os enfrentamentos têm se tornado cada vez mais violentos, como o mostrou o recente acontecimento no povoado de Awamiyah. Os protestos de massas contra os massacres no Iêmen e a repressão policial não param de crescer, após terem estourado no mês de julho.

O vários movimentos contra a Casa dos Sauds não são centralizados nem atuam de maneira coordenada. Mas a tendência é à centralização. O domínio da monarquia absoluta, um dos pilares dos petrodólares norte-americanos, apresenta rachaduras que tende a implodi-lo por dentro.

Uma nova “primavera árabe” saudita aparece no horizonte.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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