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140915 nato otanPrensa Latina - [Stella Calloni] O cinismo criminoso com que os meios de comunicação e governos europeus lidam com o tema da imigração, instalando a falsa ideia de que a Europa é a "vítima" desta situação, tem ultrapassado todos os limites e reforçado o fascismo com que hoje as grandes potências tratam suas "relações internacionais" e também internas.


Se os governos europeus, que afundaram seus próprios países em função da estratégica expansão global do império, dilapidando milhões de dólares para "pagar" as armas de destruição em massa que utiliza a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) querem uma solução, esta é retirar suas tropas dos países invadidos e ocupados no decorrer do século XXI.

Se ordenassem ao Exército Islâmico, constituído por mercenários de 80 países do mundo - que de islamitas só têm o nome - utilizados como uma nova estratégia para disfarçar a invasão de tropas terrestres e bombardeios contra a Síria, não precisariam levantar muros contra os imigrantes.

A imagem de um menino, recolhido em uma praia da Turquia após um naufrágio de dezenas que ocorrem ante a indiferença dos organismos internacionais e do mundo em geral, é só a ponta do iceberg da tragédia.

É necessário advertir neste caso, que foram apontadas suspeitas e alguns analistas europeus têm advertido sobre a não remota possibilidade de que isto seja - como ocorreu em outras situações similares - a utilização da tragédia para que a OTAN termine bombardeando o governo de Bashar Al-Assad, democraticamente eleito por seu povo.

Surpreende, por exemplo, que a Comissão de Investigação da ONU tenha publicado seu último relatório sobre violações dos direitos humanos na Síria, "após centenas de horas de investigações detalhadas". Assinala-se que novamente a investigação encontrou evidências de abusos e violações de direitos humanos na Síria, "em particular os do regime sírio".

Comentando sobre o relatório, Tobías Ellwood, ministro para o Oriente Médio de Relações Exteriores do Reino Unido, disse que "este último relatório da ONU descreve violações atrozes dos direitos humanos na Síria. O regime de Al-Assad é responsável pelos abusos em grande escala, com a continuação do uso indiscriminado de bombas de canhão, artilharia, armas químicas e detenção ilegal e tortura".

E acrescenta que "as ações do ISIL e outros grupos extremistas são brutais e desumanas, com abusos incluindo múltiplas execuções sumárias, a escravidão sexual de mulheres yazidi e recrutamento forçado de meninos soldados (...) O Reino Unido condena nos termos mais enérgicos todas as violações de direitos humanos que estão ocorrendo na Síria diariamente. Temos que deter os autores e temos que ver uma solução política para este conflito, livrar a Síria da ditadura, e ajudar a derrotar o flagelo do ISIL".

Podemos interpretar o que significa "livrar a Síria da ditadura". Será a justificativa para invadir abertamente a Síria? O espantoso é que neste mesmo momento apareça o relatório da ONU como se tivesse uma coordenação especial para justificar o que não puderam fazer até agora.

ALGO PARA RECORDAR

Precisamente, as verdadeiramente neutras personalidades que visitaram a Síria sabem de onde vêm as armas químicas, os bombardeios, os massacres terríveis e as violações. Freiras católicas sírias têm denunciado os mercenários e os invasores por estes crimes de lesa humanidade.

A pergunta é se mais uma vez, como fizeram na Líbia, a ONU aparecerá como cúmplice da "solução final", isto é, cumprir com o que desde o início adiantou a ex-secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton, advertindo que não interessava o diálogo nem as propostas do governo sírio, ao qual negam o direito a se defender. Sem nenhuma diplomacia a senhora Clinton afirmou que o que seu governo decidiu é que Bashar Al-Assad seja derrubado. Em nome do "humanitarismo" e da "democracia", logicamente.

São milhares e milhares as crianças assassinadas nos bombardeios da OTAN ou de forma hedionda pelos mercenários, que utilizam esta organização para encobrir a presença em ações terrestres de suas "forças especiais". É necessário que o mundo diga BASTA às guerras coloniais no Oriente Médio, África do Norte, Ásia, Europa, disfarçadas de supostas "guerras civis" como estamos vendo na Síria.

Chamar de guerra contra o terrorismo as guerras para usurpar territórios e controlar recursos em um projeto de expansão imperial global é um dos argumentos mais perversos na história do mundo.

A maior ação terrorista da atualidade são as invasões militares que a OTAN protagoniza com suas hordas mercenárias sobre países indefesos frente ao poder militar das potências. Estas utilizam novas tecnologias, as armas e os equipamentos mais sofisticados de todos os tempos.

E os meios de comunicação do poder hegemônico marcando agendas e pautas que se incluem nas notícias do mundo, controlados em 95% pelo Pentágono estadunidense e seus sócios da Europa, mantêm a guerra psicológica em atividade permanente, mediante o bem denominado "terrorismo midiático".

O jornalismo, seja de direita ou de alguma suposta esquerda perdida em labirintos e ambiguidades não pode continuar chamando de "guerra civil" o que ocorre na Síria. Nunca foi. Desde o início, em 2011, foi uma invasão imperial, disfarçada de exércitos "sírios livres", constituídos em Londres ou Paris, equiparáveis com o que foram os "contras" nicaraguenses nos anos 80, desde suas bases em Honduras contra a Nicarágua sandinista, e que o governo dos Estados Unidos chamava de "combatentes da liberdade".

Ou já se esqueceram dos hediondos crimes nas aldeias nicaraguenses próximas à fronteira com Honduras? É tão fácil esquecer o horror? É tão difícil não reconhecer o rosto do fascismo em tudo o que está acontecendo?

Quando os Estados Unidos anuncia o envio de armas aos "dissidentes" sírios, do que está falando? Quando os invasores se encontram como "amigos do povo sírio" para reunir fundos milionários destinados a pagar os salários dos mercenários e comprar mais armas, como dizem abertamente, pode se tratar de uma guerra civil?

Líbia foi um poderoso ensaio do uso das fronteiras para semear um cenário de supostos "dissidentes", na realidade mercenários sob controle de forças especiais.

Em novembro de 2010, o próprio presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, admitiu ter enviado à zona fronteiriça da Líbia, a CIA e as Forças Especiais, especialistas em contrainsurgência e guerras sujas.

E se algo faltar é necessário recordar aquela declaração do general norte-americano (já na reserva) Wesley Clark, que relatou à jornalista Amy Goodman, do Democracy Now em março de 2007, que assustado tomou conhecimento de que a administração de (George W.) Bush pensava invadir e ocupar sete países em cinco anos: Iraque, Síria, Líbano, Líbia, Somália, Sudão e Irã.

Nos últimos dias, ante a tragédia dos imigrantes, Pablo Iglesias, dirigente do "Podemos" na Espanha, denunciou à rádio espanhola "Cadena Ser" que as políticas "militaristas da União Europeia e Estados Unidos avivaram as chamas da guerra e criaram o terrorismo no Oriente Médio".

E mais ainda, afirmou que "o que trazem os governos mais conservadores dos EUA é destruição, instabilidade e terrorismo, porque os que estão por trás do surgimento de grupos como ISIL (Exército Islâmico) são aqueles que ativaram com gasolina o fogo dos conflitos".

É necessário recordar que a direção da Al-Qaeda, uma organização surgida pelas mãos dos Estados Unidos no Afeganistão (os talibãs) para lutar contra a União Soviética nesse país, eram inimigos ferrenhos de Saddam Hussein no Iraque. Como ingressaram nesse país?

Simplesmente pelas mãos da OTAN, quando já haviam ocupado o Iraque e se transformaram na força mercenária de elite em todas as operações de guerra suja, que tanto os EUA como a UE e Israel realizaram até agora contra os Estados não alinhados da região.

E o que dizer do surgimento de um dia para o outro do Exército Islâmico, armado até os dentes, não com velhos fuzis, mas com frotas de veículos novos, tanques, mísseis, armas químicas, helicópteros e aviões? Além disso, contam com estúdios de TV e a indispensável ajuda da Arábia Saudita, os traidores e entreguistas de seus irmãos árabes. Os supostos "fundamentalistas islâmicos" que enviam vídeos do horror, com degolamentos filmados e também práticas de torturas - que raros mas honestos jornalistas europeus denunciaram - e que têm produzido matanças de uma crueldade inimaginável, agora também se dedicam a fazer "desaparecer" todos os lugares Patrimônios da Humanidade, como fizeram no Iraque, na Líbia, e agora na Síria, destruindo a maravilhosa cidade-relíquia de Palmira.

Esta é a evidência mais clara, de que por trás da criação do ISIL - que assustadoramente "não podem deter" todas as forças militares das potências envolvidas no local - há setores de inteligência para impor um desenho de recolonização e domínio que obedece a um projeto muito superior ao que podem ter como objetivo os brutais mercenários.

Nada menos que destruir, tornar em pedaços a memória, a identidade dos povos, as impressões mantidas durante séculos, o que também significa implodir a memória da humanidade.

A destruição de ruínas históricas, de cidades como Palmira na Síria, o roubo dos tesouros da Biblioteca de Alexandria e o desmonte de tantos lugares históricos, não pode ser um objetivo de brutais "homens de palha" do mercenarismo.

Que diríamos nós, se entrassem em nossos países fazendo voar pelos ares as pirâmides no México, o Cuzco, as lembranças culturais de nosso continente? Diríamos que vêm com tudo, apagando toda a marca cultural, para que a colonização seja perdurável.

Seria o grande sonho do governo de Israel o "Oriente Médio Ampliado", ocupado, despovoado graças ao mercenarismo e às bombas, e sem um resquício da memória cultural que faz a identidade dos povos e seus projetos de libertação.

Se os governos europeus querem uma solução humanitária, esta não é "repartir refugiados" ou afundar barcos que tentem transportá-los quando fogem da guerra. Devem escolher entre "a solução final" que parece ser o projeto destas cruéis invasões ou a solução humanitária real que significaria abandonar a ilegal ocupação colonial nessa região e deter a matança de povos agredidos e a assustadora destruição desses países.

Enquanto a Europa continuar avançando atrás das necessidades geoestratégicas de um império em decadência, que propõe uma ditadura global, ou dos sonhos fascistas do governo israelense de se estender sobre todo o Oriente Médio, o que supõe novos genocídios na região, as vítimas continuarão chegando em massa exigindo proteção aos responsáveis por sua tragédia. E não terá muro que resista.


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