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hassanIrão - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Quais são as contradições entre as principais potências regionais do Oriente Médio?


Presidente iraniano Hassan Houhani. Foto: Kremlin/Wikimedia Commons (CC BY 3.0)

O acordo nuclear com o Irã foi impulsionado pela Administração Obama perante a necessidade colocar em pé uma frente única que conseguisse conter a crescente desestabilização do Oriente Médio.

O levantamento das sanções permitiu a imediata inclusão do Irã na OCX (Organização de Cooperação de Xangai), impulsionada pela China e pela Rússia.

Os monopólios petrolíferos estão de olho no Irã. A italiana ENI, a britânica BP e a Shell já encaminharam negociações. Esta última tem uma dívida de US$ 2 bilhões com a Companhia Nacional de Petróleo do Irã que não tinha sido paga por causa das sanções.

O Irã possui mais de 30 milhões de barris de petróleo armazenados, o que representa a capacidade de influenciar uma queda ainda maior dos preços. No mesmo sentido, o Irã tem a capacidade de aumentar as exportações, que hoje se encontram em um milhão de barris diários, em 500 mil a um milhão adicionais. Com investimentos na infraestrutura esses números podem aumentar sensivelmente.

O mesmo acontece em relação ao gás. A partir do mega campo de Pars, que compartilha com o Catar, as exportações devem aumentar em 50%, a partir de 800 milhões de metros cúbicos diários, em cinco anos. Mas para isso acontecer são necessários maciços investimentos.

Grandes negócios apareceram no horizonte. Os sócios preferencias da OCX, principalmente a China e a Rússia estão entre os primeiros na fila, mas entram na disputa os monopólios imperialistas.

A Turquia e o Irã

Enquanto a Arábia Saudita é o principal rival do Irã no Oriente Médio, a Turquia possui relações contraditórias. Uma quarta parte do consumo da Turquia depende do petróleo iraniano. Em termos políticos, ambos governos se opõem à autodeterminação dos curdos.

Já no início do governo liderado pelo aiatolá Khamenei, uma forte repressão sufocou as tendências separatistas no Curdistão iraniano, onde vivem em torno de sete milhões de curdos. O grupo guerrilheiro ligado ao PKK turco acabou sendo derrotado e se retirando do Irã. Ao mesmo tempo, ambos governos usam os grupos curdos na tentativa de obter vantagens sobre o outro.

Em relação ao Estado Islâmico, o governo Erdogan tem adotado uma posição de semi neutralidade com o objetivo de usá-lo para desestabilizar o governo de al-Assad, que é um aliado do Irã, e o governo do Iraque, que também é um aliado do Irã. Somente, mais recentemente o governo turco tem se envolvido na luta contra os curdos conforme a atividade do grupo começou a ficar fora de controle, inclusive com ações no território turco, e a pressão do governo norte-americano tem aumentado. Mas a atuação é contraditória, pois os curdos fazem parte da frente contra o Estado Islâmico e inclusive são a força mais forte no campo de batalha. A tentativa de criar uma área de exclusão aérea, ao estilo do que foi feito na Líbia, tem como objetivo atingir o controle curdo das regiões do nordeste da Síria e do sul da Turquia, na Província de Anatólia Oriental.

A Arábia Saudita e o Irã

As contradições entre a monarquia saudita e o regime dos aiatolás iranianos é muito maior que as contradições existentes com a Turquia. O wahabismo saudita é muito próximo à ideologia salafista do Estado Islâmico.

Os xiitas compõem em torno a 15% da população da Arábia Saudita, habitando principalmente a Província onde se encontram localizadas as principais reservas de petróleo. Em 2011 e 2012, a repressão contra os xiitas sauditas foi intensa.

Em 2011, a repressão contra os xiitas no Bahrein foi feroz. E agora a mesma política agressiva se repete no Iêmen.

A tentativa de desestabilizar a situação na Síria e de derrubar o governo de al-Assad passa, em grande medida, pela contenção da influência do Irã no país e dificultar o suprimento do Hizbollah, a milícia libanesa. Os sauditas também tentaram se valer do Estado Islâmico com estes objetivo durante um período e somente abandonaram esta política quando a situação começou a escapar de controle. O apoio à al-Nusra, a al-Qaeda na Síria, teria diminuído. Mas os sauditas, assim como a Turquia, a Jordânia e os Emirados Árabes Unidos financiam uma miríade de grupos guerrilheiros e tribos, de maneira contraditória.

Em relação aos curdos a tendência dos sauditas é a de manter certo apoio tanto com o objetivo de eventualmente usá-los, por exemplo apoiando um Curdistão autônomo na Síria, para desestabilizar o Irã assim como para conter as pretensões de potência regional da própria Turquia.

Após o fracasso da política de força, abertamente golpista, que a Arábia Saudita tentou impor no Oriente Médio por meio do chefe dos serviços de inteligência Bin Sultan, o ex-embaixador nos Estados Unidos durante 20 anos, houve, em 2014, a tentativa de uma aproximação diplomática com o Irã. Essa tentativa foi abortada por causa da explosão da crise no Iêmen, onde os Houthis, apoiados pelo Irã, capturaram a capital do país, Sanaa, e quase capturaram o principal porto do país, Aden.

Enquanto a situação política tem evoluído para o acordo com o Irã na Síria e no Iraque, no Iêmen o conflito tem escalado.

O Egito e o Irã

O Egito tem representado um dos principais componentes do controle do Oriente Médio pelo imperialismo norte-americano a partir dos acordos de paz com Israel de 1979.

O governo golpista do general al-Sisi, imposto pela Arábia Saudita, contra o governo da Irmandade Muçulmana, encabeçado por Mohammed Morsi, criou alguns constrangimentos iniciais para a política da Administração Obama, mas as relações se encontram a todo vapor novamente. A ajuda militar de US$ 1,5 bilhões anuais foi retomada com a desculpa de que é importante para enfrentar o Estado Islâmico.

A relação do Egito com o Irã é contraditória. Ao mesmo tempo que participa da coalisão contra os Houthis no Iêmen e mantém acordo com os sionistas, tem se aproximado do governo russo na tentativa de coordenar ações contra o Estado Islâmico, que avança no Egito e de estabilizar a situação na Síria.

O vácuo de poder criado em vários lugares a partir das revoluções árabes de 2011 continuará impulsionando relações contraditórias entre as potências regionais e o imperialismo, com novos componentes na situação política que ainda deverão se tornar mais voláteis no próximo período conforme a crise capitalista se aprofundar.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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