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121214 catO Diário - São mais de 25.000 pessoas que com canto, instrumentos e baile avançam nas ruas de Iruñea ou Pamplona como dizem os espanhóis, a capital da Comunidade Foral de Navarra.


Celebram o Aberri Eguna ou, em castelhano, o Dia da Pátria Basca. Foi criado em 1932 pelo Partido Nacionalista Basco, PNV mas que pouco a pouco se tornou um dia muito mais amplo, onde a Esquerda Abertzale, a esquerda patriótica basca, tem um papel cada vez mais importante.

Após uns breves discursos no centro, as festividades continuam na Cidade Antiga de Pamplona onde as tabernas nesse domingo estão cheias de gente.

Nunca é justo comparar as diversas nacionalidades do Estado espanhol, mas sem dúvida os Bascos têm estado numa luta permanente e dura que teve até o seu factor político armado durante os últimos 50 anos. O PNV foi criado em 1895 mas dele saíram várias correntes. Em 1958 foi fundado o Euskadi ta Askatasuna, em espanhol «Pelo país basco e liberdade», mais conhecido como ETA.

Enquanto o PNV é um partido de centro-direita com uma base social relativamente ampla com o apoio de uma burguesia nacionalista, um PNV que governou no Parlamento da Comunidade Autónoma basca com apoio tanto do PSOE como do PP, a Esquerda Diversificada Basca cresceu consideravelmente desde 2012, e consolidou-se como uma força da esquerda basca.

A política de vingança de Madrid

A cada iniciativa e proposta de paz que a ETA fez ao governo de Madrid a administração de Rajoy respondeu com arrogância, com prisões, aplicando a legislação antiterrorista. Quando Rajoy isola ou envia para a Andaluzia presos políticos bascos, 1230.000 compatriotas seus saem às ruas de Bilbau para exigir que Rajoy respeite os direitos universais dos presos e pare com a dispersão dos 492 presos políticos, dos quais só seis se encontram em prisões bascas.

É assim com a nitidez de um fio de navalha que a esquerda tem de actuar consciente de que cada palavra pode ser o pretexto para Madrid ilegalizar e neutralizar a oposição política basca.
No dia da celebração da Aberri Eguna entrevistamos TxuTxi Arriznabarreta. É porta-voz da Rede Independentista que convocou o evento deste ano em Iruñea.

Como vê o futuro para a tarefa de criar essa ampla rede para a independência do País Basco e que carácter terá esse estado?

Aberri Eguna foi um dos mais fortes dos últimos anos e mostra que os bascos querem criar o seu próprio futuro mas em liberdade. Nesse sentido Aberri Eguna é o termómetro do movimento independentista basco e pensamos que este ano o termómetro deu muito bons resultados. Estamos a viver tempos muito importantes no Euskal Herria. Faltava um Aberri à altura do tempo e esteve à altura do tempo, afirma rindo-se com satisfação.

Conhecimento mínimo do País Basco

A Rede Independentista é uma rede ao lado dos partidos políticos bascos. Quem quiser trabalhar para um estado basco no futuro pode integrá-la. TxuTxi garante que a independência será moderna e progressista de acordo com o Século XXI e respondera à variedade da sociedade basca.
Afirma que a palavra democracia é constantemente maltratada, que a democracia da sociedade é uma busca permanente. Porque amadureceram os factores objectivos para criar um estado basco moderno com uma democracia avançada.

A imensa maioria dos povos fora das fronteiras do estado espanhol, mas também dentro do estado, tem um conhecimento do País Basco que é mínimo. E com a ignorância crescem os preconceitos. A imagem com a qual temos sido bombardeados nos últimos cinquenta anos é a da ETA e atentados de carros-bomba. A mesma maioria descomunal dos meios de comunicação e suas publicações sobre o País Basco generaliza e manipula a luta basca por um estado independente, afirma TxuTxi Arriznabarreta.

A estratégia da Transição

A Magna Carta no seu momento de transição (1978, e depois da morte de Franco em Novembro de 1975) votou por um estado de autonomias. Foi uma espécie de autonomias obrigatórias para todas as regiões do estado espanhol que não tinham uma vontade autónoma. Mas obrigava-as a um tipo de «Café para todos», para de alguma forma marcar a mesmo medida a toda a gente. Há algumas regiões com mais economia que outras, com mais autonomia que outras como a Catalunha e o País Basco. Mesmo o País Basco divide-se territorialmente em dois por estratégia política, por um lado as três províncias no País Basco, Alava, Guipúscoa e Biscaia e por outro lado a Comunidade Foral de Navarra. Com isso, pretendia-se cortar, pensavam, a raiz de toda a pretensão independentista sobretudo na Catalunha, Baskal Herria e Galiza.

A Transição, como era lógico, foi um fracasso, sobretudo nas três regiões mencionadas. Estamos nessa crise de transição e o que se pede é uma revisão de um novo planeamento. No País Basco e na Catalunha há uma força muito grande donde uma parte da população acha que deve haver outro estatuto político. Mas não vale o estatuto anterior com algumas emendas. O novo estatuto que se delineia é estados independentes dentro da Europa, uma forma de estar no mundo. Isso não é uma ruptura com os povos de Espanha. Pelo contrário. Penso que o espaço da Península Ibérica tem interesses geopolíticos e económicos com que se deve continuar a cooperar. Mas estamos numa situação onde o estado espanhol se fecha totalmente a qualquer tipo de reconhecimento. Isso não aconteceu no caso da Escócia onde o Reino Unido num exemplo espectacular declarou que a Escócia decidiria e que aceitaria as regras do jogo.

De 50 a 200 estados no mundo

Afirma que há um chauvinismo e um centralismo impressionante não só do estado espanhol, mas também do estado francês e ri-se quando afirma que se sentem todos os alarmes vermelhos quando se fala de novos estados.

Dizem que isso é do século XVIII, que é andar para trás. Mas acontece que ao longo do século XX passámos de 50 estados no princípio do século para 200 no final do século e 70 estados depois da II Guerra Mundial. Acontece tudo ao contrário do que pregavam. Os grandes estados e impérios só apoiam a criação de novos estados quando lhes interessa, quando estão de acordo com os seus interesses próprios. Mas há uma oportunidade de fazer algo de novo.

A diversidade nacional

TxuTxi sublinha que o País Basco é um estado com mais diversidade que qualquer estado europeu, talvez à excepção do Luxemburgo, que é sem dúvida um estado especial para todos os europeus que escapam ao fisco dos seus países. O tenista sueco Bjorn Borg era um deles.

Mas no País Basco a imigração espanhola de mão-de-obra barata desde a década de 50 era muito grande, portanto calcula-se que metade da população basca é na realidade espanhola ou tem as suas raízes noutras regiões de Espanha. Outra coisa é aqueles que nasceram de pais emigrantes espanhóis e se sentem bascos. Muitos dirigentes populares, da Esquerda Aberta ou da própria ETA têm descendência espanhola.

Um País Basco sem pobres

Na luta contra a ditadura de Franco não havia diferença se era basco ou espanhol. Era uma luta comum. TuTxi refere que no trabalho da criação de um estado basco deve haver a mesma amplitude.

Nem o estado espanhol nem o francês respeitaram essa diversidade do futuro. Nós precisamos de construir esse estado basco sobre essa diversidade. Nessa diversidade está a identidade que é muito plural. Há pessoas de muitos lugares do mundo, até há pessoas aqui que se sentem apenas e só bascas. Outras basco-espanholas, basco-francesas e ainda uma vasta lista de países representados em pessoas. Esse futuro basco há que o construir com essa pluralidade identitária, de cultura e língua e assim a outra forma de respeitar a diversidade está no plano económico e social. Mas como esta diversidade e os elementos sociais e políticos estão totalmente relacionados, assim será um futuro para todas e todos. O País Basco, com a capacidade de geração de riqueza que tem neste momento, com um planeamento assim, será um País Basco sem pobres. Está nas nossas mãos criar um País Basco sem pobres. Isso deve ser um objectivo.

Na Rede Independentista há pessoas que são simultaneamente membros do Partido PNV, embora, como diz TxuTxi, a direcção tenha uma posição ambígua em relação à Rede, devido às pressões dos sectores do poder económico no País Basco. Não é a primeira vez que se expressa essa ambiguidade o que levou o PNV a apoiar-se noutras épocas no Partido Popular e noutras no Partido Socialista espanhol em vez de procurar a aliança com a Esquerda Aberta. A filosofia da oligarquia basca é: melhor que mandem em Madrid, achando que o mercado melhora a partir dali. Mas a rede, segundo TxuTxi, não se envolve nos debates dos partidos.

A ETA é consequência do conflito político

Que leitura faz TxuTxi e a Rede Independentista sobre as decisões que tomou a organização político-militar basca ETA de declarar um cessar-fogo indefinido e ao mesmo tempo, perante a Comissão Internacional de Verificação entregar uma parte do seu armamento à comissão?

Estamos num longo conflito armado. A ETA actua há cinquenta anos (desde 1958). Alguns resumem o conflito basco a cinquenta anos de luta armada. Da ETA. Isso não é assim. A luta armada é uma consequência do conflito político. Vimos de um estado Basco de mil anos que é o reino de Navarra. No seu tempo foi um dos reinos mais importantes da Europa e foi um estado no seu tempo. Nesse tempo tinha o estatuto máximo. Tinha um território amplo e uma língua, euskera. Os reinos de Castela e outros reinos começam a destruir o reino de Navarra de forma violenta, com guerras. Em 1512 acaba por desaparecer o estado basco.

A partir desse momento há uma luta política permanente de recuperar um estado destruído pela guerra que já tem um estatuto de estado. Daí, noutras alturas outras guerras, revoluções, guerras carlistas, e chegamos ao Século XX.

No franquismo há uma política totalmente emudecida. Impõe outra língua. É proibido o euskera. Mas há também um trabalho brutal de espanholização da população e logo uma repressão fortíssima para se meter dentro do que era a guerra. Nessa situação surge a luta armada da ETA como resposta ao estado.

Superação da confrontação de luta armada?

Afirmou o líder independentista que a confrontação depois da morte de Franco também não respondeu aos desejos e ilusões do País Basco. Assim continuou a luta armada.
A partir daí podemos fazer análises políticas porque uma coisa são as análises políticas e outra as análises morais. Há opiniões muito diversas, um amplo leque do papel da luta armada da ETA no processo. Haverá análises que graças à luta armada se manteve o País Basco em relação a Espanha e a França. A chama manteve-se viva. Por outro lado haverá muitos sectores que acham que se atrasou no tempo o desenvolvimento de um independentismo mais rápido que foi negativo com a estratégia independentista.

Nós como Rede não vamos entrar nestas análises. A verdade é que agora há novas condições para passar a outro cenário. A ETA faz uma reflexão e unilateralmente deixa a luta armada. Depois disso vem o processo do desarmamento. Mas o estado está a boicotá-lo, porque não quer que a ETA desapareça formalmente, embora afirme o contrário, para que a ETA permaneça, para de alguma forma legitimar a sua razão nos temas chaves da democracia. Estamos nesse ponto de superação da confrontação da luta armada não dos temas do conflito político.

Que terá acontecido à luta independentista dentro de dez anos?

Creio que nos próximos anos, por muito que o estado espanhol lute contra a paz, a normalização e a superação do conflito armado vai ter que dar passos para que a sociedade não permita o que o estado continue a não permitir.

Creio que haverá outro tipo de ofertas como o federalismo, um tratamento especial para a Catalunha e para o País Basco, é inevitável. Mas vai chegar tarde. Se a Catalunha chegar a fazer uma oferta federalista há dois anos chegaram possivelmente a tempo. Arturo Mas o presidente do governo autónomo da Catalunha, a Generalidade nem o seu partido, ou certos sectores económicos não tivessem feito o que fizeram Vão chegar porque são muito lentos. São escravos do seu passado imperialista, o que os torna prepotentes, um desprezo pelos outros, um poder militarista, sempre uma mão na arma. E hoje em dia se falamos em referendo saem com os tanques.

Mas se vejo os tanques nas ruas de Bilbau, Donost (San Sebastian) ou Iruñea estamos em vésperas da independência. Movem as areias mas sabem que hoje não podem dar um golpe na Europa. Por isso estou optimista e sempre o fui numa vida de 60 anos, porque o optimismo e o humor não se podem perder É a gasolina para continuar a luta. É tomar a decisão.

Tradução: Manuela Antunes.


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