Foto de ANJI Vallès Oriental - Multitudinário ato de final de campanha pela votação decorreu em Barcelona na noite desta 6ª-feira.
Os movimentos de última hora pactuados na quinta reunião do catalão Pacto Nacional polo Direito a Decidir, nesta sexta-feira, deixaram o governo espanhol sem qualquer possibilidade de finalmente deter o processo democrático catalão, tal como tentaram em duas ocasiões por via judicial, para além das continuadas pressons e ameaças ao longo do último ano. Conseguiram, sim, reduzir a categoria legal da consulta, que passou de ser virtualmente um referendo a convertir-se em uma consulta popular que não terá consequências legais mas sim, e muito grandes, políticas.
Assim, caso a jornada do domingo registar umha participaçom massiva e umha vitória independentista -ambas as cousas prováveis, segundo os últimos inquéritos de opiniom do Centro de Estúdios de Opiniom (CEO)-, é evidente que Madrid não poderá manter a proibição aos e as catalãs se expressarem sobre a sua vontade a respeito da independência do Principado. Essa expressão chegará, provavelmente, através de eleições plebiscitárias, em um sistema ainda por definir: as possibilidades são várias, da candidatura única de todos os partidos pela independência com esse único ponto no programa, até à concorrência de cada força separadamente para, em caso de maioria das forças autodeterminista, acordarem depois no Parlamento Catalão o processo para declarar a independência.
O processo tem tal força, tanto nas ruas quanto institucionalmente, que a notícia de que o Tribunal Supremo espanhol recusou na quinta-feira anular a suspensão da consulta, tem passado sem apenas importância quer nos meios quer nas ruas da Catalunha. As e os espanhóis de UPyD, o sindicato ultradireitista Manos Limpias e a entidade unionista Sociedade Civil Catalã (SCC) alargaram as demandas contra o governo catalão e vários dos seus membros, mas também essa notícia não gerou qualquer preocupação nem na Generalitat nem nas ruas.
Sociedade catalã executa a consulta que convoca a Generalitat
A reunião do Pacto resolveu entregar a execução às entidades da sociedade civil catalã, impossibilitando assim qualquer manobra de Madrid que não a pura e direta repressão violenta, mas mantendo formalmente a consulta ao abrigo da Generalitat (o governo autónomo catalão). Um complexo equilíbrio para deixar o Reino de Espanha sem margem para mais proibições, ao tempo que garante uma legitimidade suficiente para convertir o 9N no primeiro passo real para a independência.
Fez fincapé no abrigo da Generalitat o coordenador geral de CDC (o partido à frente do governo da Catalunha), Josep Rull, quem sublinhou que "quem põe as urnas o 9N é um presidente -o da Generalitat- que se chama Artur Mas", com apoio sim das organizações civis.
Uma multidão de apoios internacionais têm chegado ao processo catalão, incluidas entidades da Galiza, que tal como os Países Catalães sofre a opressão do imperialismo espanhol.
Fecha a campanha 'Ara és l'hora'
A campanha 'Ara és l'hora' (Agora é a hora), que impulsiona o processo democrático face à independência, terminou nesta sexta-feira em Barcelona com milhares de pessoas sob a legenda "comecemos um país novo" apoiando a consulta que espanha tentou proibir sem sucesso.
Para além do ridículo e fanfarronice, quais possibilidades tem agora o governo espanhol?
Quase nenhuma. O próprio Mariano Rajói admitiu hoje que caso a Generalitat da Catalunha ceder a execução da votação a entidades da sociedade civil, o regime madrileno não empreenderia qualquer ação. Significa isso que Rajói e a sua turma abraçou os princípios democráticos e de respeito à liberdade de expressão? Nem muito menos: A leitura é que apesar das ameaças, denúncias e pressões o governo espanhol passou do limite do justificável, mesmo na burguesa União Europeia, e que a repressão física -militar ou policial- contra os locais de votação neste domingo terá de ficar nos sonhos do executivo nacional-católico de Rajói, caso não quiser se submeter à reprovação internacional. Sob idêntico razoamento, poucas possibilidades terá Madrid de deter também as possíveis eleições plebiscitárias que poderão seguir em prazo breve o processo de votação de domingo.
Com tão poucas chances para o jogo, e com as debilidades aos olhos do mundo inteiro, o Reino da Espanha opta por duas especialidades da casa: o ridículo e a fanfarronice.
Por um lado, houve ao longo de vários dos últimos manobras do exército espanhol em diferentes locais do Principado,com o denominador comum de serem locais muito visíveis para a população. Embora o corpo militar dirigido por Madrid não tenha admitido, parece evidente que a intenção é amedrontoar as e os catalães a respeito da decisão que podam tomar com o seu voto.
Ainda, a delegada do Governo espanhol em Catalunha, Llanos de Luna, remeteu cartas ameaçadoras a várias câmaras municipais catalãs, à vice-presidenta do Principado Joana Ortega e a conselheira de Ensino Irene Rigau em que lembra a "importância" de que não incumpram a decisão do Tribunal Constitucional espanhol de suspender a consulta democrática catalã,sob pedido do governo de Madrid. Em uma linha próxima de filmes mafiosos, o porta-voz parlamentar da marginal sucursal do Partido Popular na Catalunha, Enric Millo, exigiu ao presidente catalão que "dê a cara", "rectifique" o seu rumo e acate a suspensão do 9N por parte do TC, por assim evitar "acidentes inúteis ".