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050814 Jodie-StimpsonEscócia - Opera Mundi - [Victor Farinelli] Competição se tornou o segundo maior evento esportivo da história do Reino Unido e não conseguiu evitar politização.


A vigésima edição dos Jogos da Comunidade Britânica terminou neste domingo (03/08), em Glasgow, na Escócia, mas as suas consequências podem ir além da esfera esportiva. Isso porque faltam somente 46 dias para o plebiscito no qual os escoceses decidirão se o país continua sendo parte do Reino Unido ou se torna um país independente.

A proximidade do plebiscito acirrou o trabalho dos partidos envolvidos e algumas pesquisas indicavam aumento no apoio à campanha Yes, Scotland! (“Sim, Escócia!”), do Partido Nacional Escocês, que defende a opção do “Sim”, a favor da independência. Em meados de junho, o instituto IMC divulgou uma medição que apontava 36% de intenções para os independentistas, contra 43% para a campanha Better Together (“Melhor Juntos”), cuja alternativa “Não” pretende manter o país atrelado à Grã-Bretanha. Outro instituto, o Panelbase, indicou uma disputa mais apertada: 46% a 43% de vantagem para a resposta que representa a maioria dos partidos políticos britânicos. Em ambas as pesquisas houve diminuição da diferença – 3% e 5%, respectivamente.

Números à parte, os Jogos de Glasgow chegaram justamente durante o período de campanha e o caráter comunitário da festa não deixa de ser uma forma de apologia à unidade britânica. Ainda mais quando o evento foi um sucesso de público e qualidade esportiva. Com 1,2 milhão de entradas vendidas e ao redor de três milhões de turistas na cidade, a edição atual se tornou o segundo maior evento esportivo da história do Reino Unido (depois das Olimpíadas de Londres 2012) e o maior da história da Escócia. Também virou tendência mundial após ser o primeiro grande evento esportivo internacional a ter um beijo gay durante sua cerimônia de abertura (entre o comediante Dunbar e o ator John Barrowman).

Além disso, a Escócia conseguiu sua melhor performance no quadro de medalhas final, com o quarto lugar, atrás de Inglaterra, Austrália e Canadá, respectivamente. Do ponto de vista esportivo, as competições contaram com presença dos atletas de ponta das melhores equipes britânicas, além de algumas estrelas internacionais, como os times principais de natação da Austrália e de atletismo da Jamaica, incluindo o recordista mundial Usain Bolt, que fez seu particular show após a disputa, com direito a selfies com os voluntários e com o público.

Na cerimônia de encerramento, causou polêmica o discurso do Conde de Wessex, que usou duas vezes o termo “better together”, slogan da campanha do “Não” à independência, molestando principalmente Lord Robert Smith, presidente do Comitê Organizador dos Jogos. “Buscamos fazer o evento mais apolítico possível, sabendo que do contrário iríamos manchar seu legado”, afirmou Smith.

Porém, a resposta definitiva sobre se os Jogos de Glasgow serão decisivos na hora dos eleitores escolherem sua opção será dada pelos mesmos, no dia 18 de setembro, dia da votação.

Glasgow x Edimburgo

Para entender a politização dos Jogos, é preciso considerar que o fato de serem em Glasgow faz toda a diferença. A cidade é a mais populosa e a capital industrial do país, além de estar acostumada a ver esportes, especialmente o futebol, sendo usados em históricos conflitos políticos e religiosos – o clássico da cidade é o mais antigo da do futebol, envolvendo o Celtic (clube da comunidade católica) e o Rangers (o preferido dos protestantes).

Também serve para diferenciar Glasgow de Edimburgo, a capital política do país, além de acirrar uma rivalidade histórica. Edimburgo é a cidade escocesa mais procurada pelos turistas, razão pela qual foi sede nas outras três vezes que os Jogos da Comunidade Britânica aconteceram no país.

“As duas cidades, apesar de estarem tão próximas (separadas por pouco mais de 60 km), mantêm uma rivalidade muito forte e de muitos anos, devido às suas diferenças e à disputa pela hegemonia no país”, explica o poeta escocês Robert Crawford, que também é professor de idiomas e literatura da Universidade de St. Andrews, em reportagem para o site espanhol elmundo.es.

Segundo Crawford, essa disputa também se reflete no cenário do plebiscito, em que Edimburgo seria a cidade símbolo dos que defendem a independência, “por funcionar como uma espécie de centro cultural, enquanto é natural que a população de Glasgow, por seu perfil mais operário, esteja mais sensível ao discurso da campanha Better Together, onde a ênfase está nos problemas econômicos ou na falta de empregos que poderiam acontecer numa possível Escócia independente”.

Celebridades de um lado e de outro

Entre os escoceses famosos, a disputa está dividida, mas com leve vantagem para os favoráveis à unidade britânica, que contam com o apoio de personalidades mais em voga atualmente, como a escritora J.K. Rowling (autora da saga Harry Potter), o treinador de futebol Alex Ferguson, o ator Ewan McGregor e a cantora Susan Boyle.

Do lado dos independentistas estão o ator Sean Connery, o cineasta Danny Boyle (de “Trainspotting” e “Quem Quer Ser Um Milionário?”), o ex-piloto de Fórmula 1 David Coulthard e o cantor Rod Stewart – curiosamente, ou talvez para manter certa imparcialidade, o show de abertura dos Jogos de Glasgow contou com um dueto entre Rod Stewart (independentista) e Susan Boyle (pró-unidade).

Não é a primeira vez que os Jogos da Comunidade Britânica ganham um condimento político. Para os Jogos de Brisbane, em 1982, na Austrália, os organizadores resolveram reconhecer as ilhas e arquipélagos atrelados ao Reino Unido como delegações independentes, o que permitiu que as Ilhas Falkland (nome britânico para as Ilhas Malvinas) fossem representadas de forma inédita, justamente quando se deflagrava a guerra contra a Argentina pela soberania no território.


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