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050814 fgazaPalestina - Vermelho - [Moara Crivelente] Rashid Khalidi, editor do Journal of Palestine Studies e professor da Universidade estadunidense de Colúmbia, advertiu, em artigo recente para a revista The New Yorker: "Convém ouvir cuidadosamente quando [Benjamin] Netanyahu fala ao povo israelense." No texto, intitulado "Punição Coletiva", Khalidi refere-se às sugestões nos discursos do primeiro-ministro de Israel sobre a intenção, já afirmada abertamente por outros líderes israelenses, de reocupar presencialmente a Faixa de Gaza.


O governo israelense retirou suas tropas e milhares de colonos da Faixa de Gaza em 2005, num processo marcado por um verdadeiro espetáculo midiático, devido à representação do drama das famílias de colonos sendo removidas muitas vezes à força pelos próprios soldados. Não obstante, centenas de milhares foram assentadas nas outras colônias ilegais na Cisjordânia e, pouco tempo depois, o bloqueio foi imposto a Gaza, uma situação vigente há oito anos.

Em uma coletiva de imprensa citada pelo jornal Times of Israel e ressaltada pelo professor estadunidense, Netanyahu disse: "Acredito que o povo israelense agora compreende o que sempre afirmei: não pode haver uma situação, em qualquer acordo, em que entreguemos o controle da segurança do território a oeste do Rio Jordão," referindo-se à Cisjordânia palestina ocupada até o mar que banha a Faixa de Gaza. O mote dos defensores da ocupação e do "Grande Israel" é justamente a colonização do território "do Rio ao Mar".

Khalidi continua: "O que está acontecendo hoje na Palestina não tem a ver, de fato, com o Hamas" o partido à frente do governo de Gaza taxado por Israel como "organização terrorista". Tampouco tem a ver com foguetes ou com "escudos humanos" – o pretexto usado pelo Exército israelense para justificar o massacre de tantos civis – ou terrorismo, ou túneis. "É precisamente isso que Netanyahu está dizendo, é isso o que ele agora admite que 'sempre' disse. Tem a ver com a política israelense inabalável há décadas de negar autodeterminação, liberdade e soberania à Palestina," ressalta o professor.

"O que Israel está fazendo agora em Gaza é uma punição coletiva. É punição pela recusa de Gaza em ser um gueto dócil. É punição pela audácia dos palestinos de se unificarem, do Hamas e outras facções reagirem ao cerco de Israel e suas provocações com resistência, armada ou não, depois de Israel ter repetidamente reagido a protestos desarmados com força esmagadora. Apesar de anos de cessar-fogo e tréguas, o cerco a Gaza nunca foi levantado."

Netanyahu, continua Khalidi, "só aceitaria um 'Estado' palestino despojado de todos os atributos de um verdadeiro Estado: controle de segurança, fronteiras, espaço aéreo, limites marítimos, contiguidade [territorial] e, portanto, soberania. A farsa de 23 anos do 'processo de paz' mostrou que isso é tudo o que Israel está oferecendo, com a plena aprovação de Washington. Sempre que os palestinos resistiram a este destino patético (como qualquer nação faria), Israel os puniu por sua insolência. Isso não é novidade."

Fonte: BBC Brasil
"Punir os palestinos por existirem é uma história antiga," afirma o professor, uma prática anterior à existência do Hamas e seus foguetes rudimentares que foram transformados no "bicho-papão" de Israel, "e antes de o país transformar Gaza em uma prisão a céu aberto e um laboratório de armas. Em 1948, Israel matou milhares de inocentes e aterrorizou outros milhares em nome da criação de um Estado de maioria judaica numa terra com 65% de árabes. Em 1967, desalojou centenas de milhares de palestinos novamente, ocupando o território que até hoje controla, em grande medida, 47 anos depois."

"Em 1982, numa cruzada para expulsar a Organização pela Liberação da Palestina (OLP) e extinguir o nacionalismo palestino, Israel invadiu o Líbano, matando 17 mil pessoas, a maioria civis. Desde a década de 1980, com o levante palestino contra a ocupação, de forma geral atirando pedras e organizando greves gerais, Israel prendeu dezenas de milhares de palestinos: mais de 750.000 pessoas foram para prisões israelenses desde 1967, um número equivalente a 40% da população adulta hoje. Eles saíram da prisão com depoimentos de tortura, fundamentados por grupos de direitos humanos como o [israelense] B'Tselem."

Ocupação contínua e exponencial

Durante a segunda intifada, que começou em 2000, continua Khalidi, "Israel invadiu novamente a Cisjordânia (de onde de fato nunca saiu). A ocupação e a colonização das terras palestinas continuaram ininterruptamente através do "processo de paz" da década de 1990, e até os dias de hoje," afirma o professor, que participou da delegação palestina nas negociações entre 1991 e 1993. "Ainda assim, nos Estados Unidos a discussão ignora esse contexto opressivo crucial, e está sempre limitada à 'autodefesa' de Israel e à suposta responsabilidade de palestinos por seu próprio sofrimento."

"Nos últimos sete anos ou mais, Israel sitiou, atormentou e atacou regularmente a Faixa de Gaza. Os pretextos mudam: eles elegeram o Hamas; eles se recusam a ser dóceis; eles se recusam a reconhecer Israel; eles lançam foguetes; eles constroem túneis para contornar o estado de sítio, etc. Mas cada pretexto é uma falácia, porque a verdade dos guetos – o que acontece quando você aprisiona 1,8 milhão de pessoas em 225 mil metros quadrados, quase um terço da área da cidade de Nova York, com controle de fronteiras, quase sem acesso ao mar para pescadores (apenas três de 20 quilômetros são permitidos, segundo o Acordo de Oslo), sem meio de entrada ou saída e com mísseis guiados sobre suas cabeças noite e dia – é que eles acabarão contra-atacando. Isso aconteceu em Soweto e Belfast e acontece em Gaza."

"Nós podemos desaprovar o Hamas e alguns de seus métodos, mas isso não é o mesmo que aceitar a ideia de que palestinos devem concordar de maneira apática com a recusa do seu direito de existir como povo livre em sua terra ancestral. Esta é precisamente a razão pela qual o apoio dos Estados Unidos à atual política de Israel é insano. A paz foi alcançada no norte da Irlanda e na África do Sul porque os Estados Unidos e o mundo acordaram para o fato de que eles teriam de colocar pressão no lado mais forte, cobrando responsabilidade e dando fim à impunidade."

O norte da Irlanda e a África do Sul, continua, "estão longe de serem exemplos perfeitos, mas vale a pena recordar que para conquistar um resultado justo foi necessário que os Estados Unidos lidassem com grupos como o IRA e o Congresso Nacional Africano, que se envolveram com guerrilha e até mesmo terrorismo. Essa foi a única maneira de trilhar um caminho em direção à paz verdadeira e à reconciliação. O caso da Palestina não é fundamentalmente diferente. Ao invés disso, os Estados Unidos estão fazendo pender a balança em favor do lado mais forte."

"Nessa visão de mundo surreal e inversa, o que parece é que os israelenses foram ocupados pelos palestinos — e não o contrário. Nesse universo distorcido, aqueles aprisionados nos presídios a céu aberto estão sitiando armas nucleares nas mãos de uma das mais sofisticadas forças militares do mundo. Se pretendermos nos afastar dessa irrealidade, os EUA precisam mudar suas políticas ou abandonar o argumento de que são um 'mediador honesto'."

"Se o governo estadunidense quer subsidiar e armar Israel e repetir os argumentos israelenses que ignoram a razão e o direito internacional, então que o façam. Mas não deveriam então reivindicar autoridade moral e falar solenemente sobre a paz. Com certeza, não deveriam insultar os palestinos ao dizer que se preocupam com eles e suas crianças, que estão morrendo hoje em Gaza."

Com The New Yorker.


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