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Gaza-1-580x391Palestina - CubaDebate - [Ricardo Alarcón de Quesada, Tradução do Diário Liberdade] O Oriente Médio ocupava posições de primeiro plano por causa da bancarrota da estratégia norte-americana que hoje se dissemina, sobretudo, no Iraque e na Síria, quando, até certo ponto surpreendentemente, a atenção se voltou à Gaza.


Gaza não é um país. Sua silhueta quase não pode se distinguir nos mapas. Uma faixa estreita, apenas dez quilômetros de largura e menos de sessenta de comprimento. Separada fisicamente do resto da Palestina árabe, cercada pelas tropas israelenses que ocupam toda a terra circundante e também as águas do Mediterrâneo que banham seu flanco esquerdo.

Não se pode sair nem tampouco entrar. O leitor recordará seguramente o assalto pirata da marinha israelita a um barco que pretendia levar ajuda humanitária, alguns meses atrás. Já faz oito anos que a Faixa está submetida a um rigoroso bloqueio militar.

Segundo alguns especialistas da ONU, o território será inabitável em 2020. Mas hoje tem uma densidade populacional que está entre as mais elevadas do planeta, um milhão e meio de habitantes, a metade é menor de 18 anos, 70% vivem abaixo da linha da pobreza e com 50% de desemprego. 90% sobrevivem em campos de refugiados.

Na realidade, Gaza é um enorme gueto, o maior e o que durou mais tempo. E agora, novamente, sofre bombardeios indiscriminados e a invasão massiva de tropas israelitas. Outra guerra injustificável e atroz.

Chocam os hospitais, escolas e casas destruídas, causam indignação as imagens das crianças assassinadas em 16 de julho, enquanto brincavam na praia. Correspondentes estrangeiros que os viram morrer asseguram que nem eles nem sua bola de futebol ameaçavam a ninguém. Parecia que, ingenuamente, se imaginavam na Copa do Mundo.

Diante do horror cresce o protesto em todo o mundo enquanto se fala de ações diplomáticas urgentes para deter a matança.

Fidel Castro expressou sua "solidariedade com o povo que defende o último frangalho do que foi sua pátria durante milhares de anos".

Porque é disso que se trata. Ao povo palestino lhe arrancaram sua pátria, quando as Nações Unidas decidiram a partilha de seu território e o estabelecimento do estado de Israel. Desde então este último não cessou no expansionismo às custas de seu vizinho. Desde 1947 as guerras se sucederam, sem pausas, e com elas o número de refugiados e desabrigados.

Nessa longa história, Israel, a única potência nuclear da região, contou com o apoio ilimitado dos Estados Unidos e seus aliados. No mesmo dia 16, o Senado norte-americano aprovou 622 milhões de dólares para as forças militares de Israel, que receberão este ano 3,6 bilhão. Quando ainda em Gaza choravam pelas crianças que sonharam ser jogadores de futebol, o presidente Obama foi categórico: "Reafirmo meu rotundo apoio ao direito de Israel a se defender". Como se alguém não houvesse entendido, repetiu: "Israel tem direito a se defender". Tel Aviv nunca foi castigado tampouco pela ONU, jamais lhe aplicaram sanções, como as que tão livremente impuseram a outros por violações de menor magnitude.

A atitude da Comunidade Internacional foi simplesmente vergonhosa. Diante do problema que havia criado e que a acompanha desde a sua fundação, a ONU se limitou a manter uma entidade especial, nascida em 1949, sustentada com contribuições voluntárias, destinadas, supostamente, a aliviar a tragédia dos "refugiados palestinos no Oriente Médio" (UNRWA) para atender aos "palestinos cujo lugar de residência habitual era o Mandato Britânico da Palestina entre junho de 1946 e maio de 1948 e que perderam seus lares e seus meios de subsistência com a guerra árabe-israelense de 1948".

Poucos se lembram que em outro parágrafo do texto aqui citado, a Assembleia Geral reconheceu o direito dos refugiados a regressar a seus lares, e o reafirmaram desde então a cada ano. Esse segue sendo, no entanto, um sonho para os netos daqueles que foram brutalmente expulsos há sete décadas.

Originalmente se tratava de 652 mil pessoas. Várias vezes foi preciso aumentar a cifra porque com as reiteradas ofensivas de Israel cresceu constantemente o número de suas vítimas. A UNRWA se ocupa hoje de 5 milhões de seres humanos.

Entretanto a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança dedicaram sessões intermináveis, ano após ano, discutindo os aspectos políticos da questão, em um exercício de inutilidade sem limites. As incontáveis resoluções aprovadas pela Assembleia, respaldadas por esmagadora maioria, foram ignoradas sistematicamente por Israel. As apresentadas diante do Conselho se dissolveram em nada pelo veto norte-americano.

Washington, por sua parte, pretendeu atuar como mediador promovendo negociações entre ambas as partes, sem resultado algum. Foram, mais ainda, gestos associados às suas discórdias eleitorais domésticas nas quais cada candidato busca parecer mais pró-israelita que os demais.

Tais negociações estavam de antemão condenadas ao fracasso, porque não foram outra coisa senão manobras, encorajadas, precisamente, pelo verdadeiro culpado, o principal apoiador do agressor.

"As causas de fundo – declarou o eminente intelectual Noam Chomsky – são a ocupação criminosa e os programas para reduzir a vida palestina à mera sobrevivência em Gaza. Enquanto isso, na Cisjordânia, os palestinos são confinados em regiões inviáveis e Israel toma as terras que quer, em completa violação do direito internacional e de resoluções explícitas do Conselho de Segurança da ONU – para não falar de decência. E tudo isso vai continuar, enquanto for apoiado por Washington e tolerado pela Europa – para nossa vergonha infinita."

A retórica ocidental justificou a criação do Estado de Israel e respaldou suas políticas agressivas aludindo frequentemente à triste, amarga experiência do povo hebreu, às perseguições e preconceitos de que foi vítima ao longo da história e que chegou à sua mais abominável expressão com o Holocausto, o extermínio de milhões de judeus nos campos de concentração hitlerianos.

Mas não foram os palestinos, nem os árabes, seus vitimadores. Os progroms não se produziram no Oriente Médio, mas na Rússia czarista, e o antissemitismo sempre foi um fenômeno europeu exportado à América do Norte – onde teve no Ku Klux Klan um notório expoente – e nunca deixou de estar presente nos círculos mais duros da reação estadunidense.

Agora mesmo, diante do silêncio cúmplice, e até o inaudito aplauso, dos Estados Unidos à União Europeia, voltam ao poder na Ucrânia facções extremistas que reivindicam como seu heroi nacional Stepan Bandera, criminoso de guerra, antissemita e pró-nazista. O rabino hassídico da Ucrânia Moshe Revven Azman propôs aos seus paroquianos abandonar Kiev devido ao ataque contra outro rabino, Hillel Cohen, quem foi golpeado, apunhalado e insultado quando visitava um amigo no hospital da cidade. "Não quero interferir no destino, mas constantemente existem ameaças de ataque às instituições judias", se lamentou Azman.

Enquanto nesse país se multiplicam as manifestações xenófobas e líderes do novo regime ucraniano convocam à luta contra a "máfia moscovita-judia", Washington e a União Europeia agregam novas sanções... contra a Rússia.

A atual agressão militar contra Gaza não tem nada de novo nem tampouco a horrível matança de civis, incluindo crianças, mulheres e idosos. Seus cidadãos são obrigados a suportar tudo isso desde sempre e com maior frequência neste começo de século XXI. Segundo Chomsky, "quando Israel está em fase de 'bom comportamento', mais de duas crianças palestinas são mortas por semana – um padrão que se repete há 14 anos".

A propaganda ocidental tenta demonizar o movimento de resistência islâmica, o Hamas, e atribuir-lhe a responsabilidade pelos incidentes mais recentes.

Mas não deveria ser difícil compreender a verdade. Os sentimentos de rebeldia, a vontade de luta dos palestinos são naturais e inevitáveis, ninguém os inventou. Surgem de muitos anos de ocupação militar com sua terrível carga de perseguições, discriminação e humilhações. O estimulam a frustração e a raiva diante da surdez às suas reivindicações de justiça e a dolosa insensibilidade dos Organismos Internacionais.

Nas eleições gerais de 2006, efetuadas entre os palestinos residentes em Gaza e na Cisjordânia, o Hamas obteve uma vitória esmagadora, com uma maioria tão ampla que lhe havia permitido assumir o governo sozinho.

Mas George W. Bush, então inquilino da Casa Branca e Condoleeza Rice, a chefe de sua "diplomacia", perderam a voz repetindo com insolência que não aceitavam os resultados dessas eleições. Seus sócios europeus, como é habitual, fizeram eco de semelhante falta de vergonha intervencionista. Se intensificaram as sanções, pressões e ameaças contra a Palestina. Se multiplicaram as intrigas e conspirações para aguçar as diferenças entre o Hamas e o Fatah, as principais forças políticas palestinas, que conduziram a tristes e dolorosos enfrentamentos fratricidas. E logo Israel voltou a bombardear e a invadir o território da Faixa de Gaza.

O fez várias vezes depois das eleições palestinas. Em 2008-2009 o ataque durou três semanas. O Ministro do Interior de Israel, Eli Yishai, em 19 de novembro de 2012, fez algumas declarações que, provavelmente por sua franqueza, provocaram controvérsia: "O objetivo da operação é fazer Gaza voltar à Idade Média. Só então Israel se acalmará por 40 anos".

Mas essa "calma" não foi tão duradoura.

Em 2014 os palestinos foram capazes de superar suas diferenças e estancar as feridas de um enfrentamento que causou tantos danos à sua causa. Em 2 de junho foi proclamado um Governo de Unidade Nacional, presidido por Mahmoud Abbas e com o respaldo e a participação de todos, incluindo o Hamas.

A reação de seus inimigos foi imediata. Os ministros residentes em Gaza não puderam se incorporar aos seus colegas em Ramallah, Cisjordânia, para participar na instalação do Governo porque para fazê-lo deviam atravessar o território ocupado e as autoridades sionistas os impediram. Os Estados Unidos e seus aliados desataram uma campanha de hostilidade contra o governo recém constituído, tratando de apresentar como uma ameaça o que era uma vitória para o povo palestino e na realidade poderia ter sido um passo para a solução do velho conflito.

Em vez de aproveitar o que poderia ser uma oportunidade para a paz, as autoridade israelenses optaram, mais uma vez, pela guerra. De novo, a pequena, isolada e martirizada Gaza, esse gueto heroico do século XXI, cuja salvação é um dever socorrer imediatamente. Abster-se de fazê-lo seria obsceno.

Circula pela internet um documento que merece o apoio universal, promovido pela professora Rachel Giora, da Universidade de Tel Aviv. O assinam, até agora, várias dezenas de pessoas, todos acadêmicos, intelectuais. Pedem o cessar imediato da agressão contra Gaza e o início de negociações honestas para conquistar a paz e a convivência entre árabes e judeus na Palestina e convocam os seus colegas a se somar a esta petição. É um chamado valente e esperançoso.

Os que assinaram têm várias coisas em comum. Eles são professores em Universidades israelitas. Todos vivem em Israel e são judeus. Oxalá sejam escutados.


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