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120915 flagkkeGrécia - KKE - «Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio» dizia o antigo filósofo Heráclito, mas alguns gregos da época actual parecem ignorar essa afirmação.


 Trata-se das forças políticas que recentemente se separaram de SYRIZA e declararam a criação de um novo partido, da «Unidade Popular» (LAEN). O Secretário-Geral do Comité Central do KKE, Dimitris Kutsumbas, referiu-se a esse acontecimento e sublinhou que «não se deve aceitar outra vez a mesma manobra contra o povo. Além do mais, normalmente as continuações são piores do que o primeiro filme».

O sistema usou a sua «reserva de esquerda»

Para entender este último acontecimento político na Grécia vale a pena mencionar alguns dados sobre a história de SYRIZA. SYRIZA constituiu-se como uma unificação de diversos grupos oportunistas, com SYNASPISMOS (SYN) como núcleo fundamental, ou seja as forças que se afastaram do KKE na década de noventa, influenciadas pelas ideias de Gorbatchov, depois de terem, sem êxito, tratado de social-democratizar e autodissolver organizativamente o KKE. A essas forças tinham-se juntado anteriormente, em 1968, aqueles que tinham saído do KKE sob a influência da corrente oportunista eurocomunista.

O programa de SYN foi sempre um programa de gestão social-democrata, através de reformas.

Desde os inícios da década de 2000 e mais tarde, sobretudo através da incorporação de diferentes grupos (trotskistas, maoistas, etc.) e da evolução posterior de SYN a SYRIZA, este programa social-democrata vestiu-se primorosamente com uma aparência «radical», «anti-sistema», «de movimento». Algo que se reforçou depois de 2010, na sequência da eclosão da crise económica capitalista. A assinatura dos acordos antipopulares (memorandos) dos governos de PASOK e ND com os organismos imperialistas (UE, FMI, BCE), acompanhados de duras medidas antipopulares, trouxe também a adopção da turva linha «anti memorando» por parte de SYRIZA. Ao mesmo tempo, a rápida desagregação do social-democrata PASOK levou à absorção de vários quadros desse partido por parte de SYRIZA. O falso dilema «memorando-antimemorando» deu a SYRIZA a possibilidade de usar tendenciosamente ideias, de enganar as forças populares, prometendo que pode haver um alívio para o povo das duras medidas anti-operárias dentro do quadro da UE, do caminho de desenvolvimento capitalista, promovendo a reivindicação de reduzir parte da dívida pública, ou seja na realidade aceitando que a dívida, que os governos da plutocracia criaram, deve pagá-la o povo.

No quadro da reforma do cenário político dentro do ano de 2012, SYRIZA foi apoiado por uma parte da burguesia e cresceu eleitoralmente, conseguindo ganhar as eleições de Janeiro de 2015. Formou governo com outro partido, ANEL, cujo tronco provém do partido conservador ND e que tem referencias nacionalistas.

Após seis meses de governo de SYRIZA-ANEL, o povo grego viu-se perante um 3º memorando, que inclui novas medidas anti operárias-anti populares.

A linguagem «de esquerda» ao serviço do capital

Se algo ficou comprovado da forma mais flagrante através dos acontecimentos dos últimos meses no que se refere a SYRIZA e seu governo burguês, é a bancarrota total da política que apregoa que pode servir ao mesmo tempo tanto os monopólios como o povo. Que se pode, com um governo burguês, dentro da União Europeia e das alianças imperialistas, nas condições da barbárie capitalista, servir os interesses populares. Com a assinatura do co-governo de SYRIZA-ANEL, que se mostraram dignos continuadores do co-governo ND-PASOK, foi adoptado, com o voto dos demais partidos burgueses (ND, PASOK, EL RIO) o novo massacre do povo grego, das famílias operárias e populares.

Entre as medidas deste 3º memorando já insuportável, incluem-se novos dramáticos cortes de salários e pensões, degradação das relações laborais, nova política fiscal abusiva, redução dos serviços de saúde, educação, assistência social, privatizações, bem como o golpe de misericórdia contra os camponeses pobres e os pequenos profissionais. E tudo isso enquanto são mantidos os memorandos anteriores e as 400 leis antipopulares da sua aplicação.

Face a esse desnudamento em poucos meses e à bancarrota da social-democracia novata - que o KKE havia previsto com exactidão e disso tinha advertido o povo - é óbvia a necessidade do sistema político burguês de criar novos muros de contenção à radicalização do povo.

É assim que o filme que se apresentou de 2012 a 2014 com SYRIZA como protagonista, se repete agora na Grécia com a recém-construída «Unidade Popular» de P. Lafazanis, até há pouco ministro da Energia do governo de SYRIZA-ANEL. O grupo parlamentar com este nome, que surgiu 6ª feira, 21 de Agosto, depois da independentização de 25 deputados de SYRIZA, aspira a que constitua o indicio de uma nova formação política, de um muro de contenção para aqueles esquerdistas, radicais, lutadores que nos anos anteriores tinham ilusões por/sobre SYRIZA, o seu governo, e a possibilidade de abrir uma nova perspectiva a favor do povo no país. LAEN projecta-se como uma alternativa de retorno à moeda nacional e faz uma evidente reprodução de posições e propostas neokeynesianas, com as quais SYRIZA cultivou nos últimos anos ilusões sobre uma gestão do capitalismo pró-popular e de esquerda.

De primeira categoria a enganar

Esta divisão de SYRIZA efectuou-se por parte forças que tinham cargos de primeiro plano como ministros do governo SYRIZA-ANEL, que materializaram com rigor tudo aquilo que previam os dois primeiros memorandos e que aceitaram sem protesto todas as decisões que preparavam o muito duro 3º memorando.

Essas forças, que já estavam no SYRIZA como sua «plataforma de esquerda», aceitaram o acordo de 20 de Fevereiro do governo com a UE, o BCE e o FMI, que previa a materialização de todas las medidas antioperárias dos dois primeiros memorandos e a aceitação de todas as reivindicações do grande capital.
Aceitaram todo esse tempo também as propostas do governo à troika sobre um novo memorando de insuportáveis medidas antioperárias. É típico que não tenham feito cair o governo SYRIZA-ANEL antes da adopção do cruel memorando e continuaram assegurando de todas as maneiras que apoiam o governo apesar de estarem em desacordo… até que o próprio primeiro-ministro Tsipras declarou a demissão do seu governo…

Estas forças nada disseram quando o governo SYRIZA-ANEL prometeu aos Estados Unidos e à NATO uma nova base militar no mar Egeu, e o mesmo quando o seu governo organizava manobras militares em comum com os Estados Unidos e Israel, ou quando votava pela continuação das sanções da UE contra a Rússia, ou quando o ministro da Defesa declarava que o país vai participar em todas as actividades imperialistas da NATO e da UE.

Agora apresentam-se como «donzelas enganadas» e como os verdadeiros representantes do «radicalismo» de SYRIZA e apresentam-se sozinhos às eleições de 20 de Setembro.

Uma Grécia capitalista com moeda nacional

Mas, ¿o que é que propõe esta força política? Se o SYRIZA prometia até agora que o país ia manter-se na zona do euro, LAEN fala de uma «saída ordenada do euro, se necessário». Contudo, de nenhuma forma coloca o tema da saída do país da UE e do caminho de desenvolvimento capitalista. ¿Porque fala LAEN de uma «saída do euro se necessário»? Como explicou o chefe de LAEN P. Lafazanis, piscando o olho ao capital, esta saída vai dar-se apenas se a economia capitalista o necessitar para conseguir a sua recuperação. Para além disso, LAEN «recicla» um monte de medidas conhecidas de gestão neokeynesiana, p.ex. a «socialização dos bancos para que desempenhem um papel de desenvolvimento», defendendo assim a posição de que os bancos podem converter-se em «fundações caritativas» que vão repartir dinheiro estatal para desse modo apoiar a famosa recuperação capitalista. Dessa forma semeia ilusões entre o povo, ocultando as leis sobre as quais se move a economia capitalista que requer continuamente novos «sacrifícios» dos trabalhadores, redução dos direitos sociais e laborais e dos rendimentos populares para que se recupere a rentabilidade do capital.

Finalmente, LAEN fala da «anulação da maior parte da dívida para que o país respire», reconhecendo pela sua parte, como fazem os demais partidos do sistema, que a culpa da dívida tem-na o povo e por isso deve pagar.

Os quadros de LAEN mencionam como exemplo «outros países fora do euro que avançam favoravelmente». ¿Que países enuncia o chefe do novo partido oportunista, Lafazanis? A Grã-Bretanha, a Dinamarca que não pertencem à zona do euro, facto que não obstaculiza os golpes contra os direitos laborais e populares nesses países, enquanto outros quadros de LAEN apelam à Frente Nacional de Le Pen em França, aos industriais italianos, a uma parte do capital alemão…

¿Que têm que ver os povos desses países, o povo da Grécia e a esperança de satisfazer as suas necessidades com as aspirações dos seus exploradores que se reflectem em propostas políticas sobre moedas nacionais, propostas que levam a capa da radicalização para enganar e ocultar o seu real conteúdo antipopular? Essa nova falsa separação entre «euro e dracma» quer ocultar ao povo que o fundamental é o caminho do capital e o seu poder, é a participação na UE e no sistema imperialista. É contra isso que o povo tem lutar. E não aderir a partes do capital que devaneiam com a ideia de uma moeda nacional, de outra aliança monetária.

Que fracasse a nova tentativa de enganar

A tentativa de criar um SYRIZA nº 2, agora que desaparece a dúvida sobre o papel do nº 1, não deve encontrar eco por parte do povo que já viveu o doloroso desmentido das esperanças que lhe cultivaram e que não tem já a possibilidade de novas decepções que lhe façam novamente perder tempo valioso, confiar em algo que está contra si.

O povo tem experiencia, pode retirar as suas conclusões, não deve deixar-se enganar uma vez mais. Não pode existir uma solução a favor do povo dentro do sistema capitalista, através de uma alternância de governos de gestão burguesa, sem romper com o caminho do desenvolvimento capitalista e o sistema imperialista. O povo não deve deixar-se enganar por aqueles que colocam como objectivo fundamental a reconstrução produtiva da economia capitalista, aqueles que serviram este objectivo, inclusivamente em cargos governamentais. Aqueles que piscam o olho a partes do capital, que namoram a ideia da Grécia capitalista com moeda nacional, não podem seguir um caminho diferente daquele que conduz à bancarrota popular. Não tem importância se esta se vai realizar com ou sem memorando. Não tem importância se se vai realizar dentro ou fora da zona do euro. O que tem importância é que se anule a tentativa de aprisionar o povo dentro de mais uma opção a favor do capital.

O povo, as camadas populares pobres que têm inclinações radicais não devem permitir que se convertam uma vez mais em espectadores da mesma obra, a viver novas desilusões. Hoje em dia, tanto na sua luta diária nos locais de trabalho e nos bairros operários como também nas próximas eleições podem esperar mais, ter mais confiança no KKE. Confiar, porque nunca los traiu, nem faltou na luta em defesa dos seus interesses. Porque é a única força que tem uma proposta de saída verdadeiramente alternativa, realista, carregada de esperança, cujos eixos são desvincular-se da UE e da NATO, anular unilateralmente a dívida e socializar as riquezas que este país tem, com o povo no poder.

(Artigo da Secção de Relações Internacionais do CC do KKE)


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