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greeceGrécia - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Um dia após a vitória do “Não”, promovida intensamente pelo governo grego, o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis renunciou ao cargo.


Foto: Paolo Benegiamo (CC BY-NC-ND 2.0)

Varoufakis é um conhecido economista, fundamentalmente um professor universitário que foi nomeado responsável pelo ministério das Finanças, após a vitória do Syriza. Ele é crítico da chamada “austeridade” imposta pelo imperialismo europeu. O fato dele ter sido colocado num área tão chave, onde ele, obviamente, ficou paralisado, mostra o grau de descontentamento e crescente radicalização das massas gregas.

A primeira conclusão da renúncia de Varoufakis é que a União Europeia exige avançar para um acordo onde as imposições sejam aceitas. Ou seja, que os gregos continuem sustentando a ultra parasitária dívida pública.

Qual é a política do imperialismo europeu e do Syriza?

O imperialismo europeu, encabeçado pela Alemanha e pela França, buscam viabilizar a continuidade dos pagamentos da dívida pública grega. Para isso, buscam criar as condições para que esses pagamentos sejam viabilizados. Em outras palavras, isso significa alongar os prazos para os pagamentos, reestruturar a dívida pública grega, mas sem questionar nada, sem romper com as estruturas parasitárias.

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Em relação a esse ponto central, há um acordo entre o imperialismo europeu e o governo do Syriza, uma espécie de Psol brasileiro, ou Podemos espanhol. O próprio primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, tem declarado reiteradamente que o objetivo não é retirar a Grécia da Zona do Euro, nem da União Europeia.

A última proposta do Syriza, em relação às condições para a realização dos pagamentos, realizada dois dias antes do Referendo, ficou muito próxima (assustadoramente próxima!) da proposta da Comissão Europeia e do FMI (Fundo Monetário Internacional).

Por que a Alemanha e a França ganharam com o plebiscito?

A dívida pública da zona do euro tem como objetivo garantir os lucros dos monopólios europeus. A Alemanha foi transformada numa espécie de “lavanderia”, por meio de empréstimos (resgates), que têm como objetivo aumentar a espoliação dos países europeus mais fracos por meio do aumento dos repasses para os monopólios alemães.

Uma ideia sobre a podridão dessa dívida pode ser vista nos primeiros relatórios da Comissão da Verdade sobre a dívida pública grega, da qual participou a brasileira Maria Lucia Fatorelli.

A manutenção desses mecanismos ultra parasitários é condição de sobrevivência para o imperialismo europeu. Evitar a saída da Grécia da Zona do Euro significa evitar os prejuízos dos bancos e o contágio sobre paises que podem desestabilizar a região de maneira profunda, como o Estado espanhol, a Itália e a França.

Para relaxar, ou melhor, para reestruturar a dívida pública grega, Angela Merkel (a chanceler alemã) e François Hollande (o primeiro-ministro francês) precisam vencer as resistências internas na União Europeia, já que envolve maiores “repasses de recursos” por meio dos mecanismos de resgate, embora que, na prática, se trate de recursos que nunca chegam aos gregos, mas vão parar diretamente nos caixas dos bancos. A vitória do NÃO serve a esses objetivos.

Quem é a favor e quem é contra a reestruturação da dívida grega? E por quê?

O FMI, Angela Merkel, François Hollande e o governo grego do Syriza são a favor da reestruturação da dívida pública grega. O objetivo é “suavizar” os ataques contra a população grega, continuar absorvendo parte da crise por meio da continuidade da migração maciça de trabalhadores aos países mais fortes da União Europeia e evitar o “contágio”, contra os mecanismos parasitários, em países mais fortes, como o Estado espanhol, a Itália e a França.

Importantes setores da burguesia alemã, finlandesa e dos países nórdicos são contrários à reestruturação da dívida grega, porque implicaria na redução dos rendimentos dos próprios monopólios.

Na Grécia, Alexis Tsipras enfrentará um novo “abacaxi” com a vitória do “Não”. A ala esquerda do Syriza saiu fortalecida. Agora ficará mais difícil controlá-la, o que representa um problema nas próximas negociações.

A aposta de Tsipras é aumentar o apoio de Angela Merkel, François Hollande para outros membros da União Europeia, como a Itália. Da Rússia, que também enfrenta o aprofundamento da crise capitalista, somente saiu o contrato para o gasoduto por meio do qual a Gazprom (o gigantesco russo do gás) transportará gás para a Europa através da Turquia e da Grécia.

A pertença à Zona do Euro é um fator que mantém uma certa estabilidade na Grécia. A saída impulsionaria mobilizações de massas que poderiam rapidamente evoluir no sentido revolucionário.

A direita europeia aposta em que o aumento da crise na Grécia, assim como a incapacidade do Syriza de avançar no sentido da mobilização das massas, deverá provocar o desgaste do governo de Alexis Tsipras, que seria obrigado a chamar a novas eleições por meio das quais seria imposto novamente um governo direitista, mais alinhado com a União Europeia. Mas se trata de uma aposta arriscada. Foi exatamente o desgaste dessa direita que levou à vitória do Syriza.

A arma do fascismo da Aurora Dourada ainda está na mesa, apesar de ter ficado muito desgastada depois do assassinato de um rapper há dois anos, que quase levou esse partido a ser escorraçado pelos protestos populares.

A crise grega conduz a um euro mais desvalorizado, o que na teoria facilitaria as exportações. Um fator muito importante num mundo em que o mercado é cada vez mais disputado. Mas, em contrapartida, o descontentamento social e o enfraquecimento dos mecanismos de controle tende a crescer exponencialmente no próximo período.

Além do “Grexit” (a saída da Grécia da União Europeia)

A direita que governa o Estado espanhol e Portugal também se opõe à restruturação da dívida grega, pois enfrentarão eleições no final deste ano. Concessões ao governo do Syriza significariam o fortalecimento das próprias alas de esquerda, como o Podemos na Espanha, ou o PS (Partido Socialista) e o PCP (Partido Comunista Português) em Portugal. O PP (Partido Popular) espanhol sofreu importantes derrotas nas eleições locais que aconteceram em maio.

A Itália somente terá eleições em 2018. Mas o PD (Partido Democrático), encabeçado por Matteo Renzi, da ala direita do Partido, se encontra dividido. O problema é enfrentar a própria dívida pública, numa economia em enorme crise, que supera em duas vezes a produção anual do país.

Na França, o governo de Hollande quase atingiu o fundo do poço em relação a força política, apesar do seu partido, o PS (Partido Socialista), contar com a maioria nas duas câmaras do parlamento. A extrema-direita, agrupada na FN (Frente Nacional) tem se fortalecido a tal grau que ameaça passar ao segundo turno nas eleições de 2017.

Na Grã-Bretanha, está colocado um referendo sobre a permanência na União Europeia. A Frente Nacional prometeu um referendo similar.

A União Europeia poderia sobreviver a um “Grexit”, a saída da Grécia, mas não sobreviveria à saída da França.

A crise capitalista na Europa avança a passos largos. O enfraquecimento do regime político é um dos sintomas dessa crise. Ele aprofunda a crise econômica que, por sua vez, aprofunda a crise política.

Para o próximo período, está colocado um colapso capitalista de enormes proporções nos centros do capitalismo mundial. Esta é a base sobre a qual também estará colocada a retomada da ascensão do movimento operário, que foi contida na década de 1980 por meio das políticas neoliberais.

Alejandro Acosta está atualmente na Alemanha acompanhando os acontecimentos na Europa como jornalista independente.


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