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erdogTurquia - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Por que Erdogan foi derrotado nas recentes eleições nacionais, depois de 13 anos no poder? E quais são as consequências para a Turquia, o Oriente Médio e a Rússia?


Recep Tayyip Erdogan, primeiro-ministro da Turquia. Foto: Paul Morigi Photography/Brookings Institution (CC BY-NC-ND 2.0)

O partido do atual primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, o AKP (Partido da Justiça e o Desenvolvimento), não conseguiu manter o controle do governo, após ter perdido a maioria absoluta no parlamento, nas recentes eleições nacionais. O número de deputados do AKP caiu de 327 para 258, pois precisava de 367 votos. O plano de mudar a constituição se viu dificultado e provavelmente fracassará. Trata-se de algo parecido com o que aconteceu com Hugo Chávez em 2008. O objetivo era impor a mudança do sistema parlamentar para o sistema presidencialista, o que aumentaria os poderes de Erdogan. Ainda pior, sem o apoio da maioria simples de 276 deputados, o AKP nem sequer consegue formar governo sem incorporar outros partidos.

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O CHP (Partido Republicano do Povo) obteve 132 deputados, com quase 25% dos votos. O MHP (16,29% dos votos) e o HDP (13,12% dos votos), 80 deputados cada um.

No dia 6 de junho, um dia antes das eleições, aconteceu uma passeata de curdos turcos, contra o AKP, por causa dos dois curdos assassinados e dos 200 feridos, na cidade de Diyarbakir, num comício do PDG. Mas o grande carrasco do AKP foi a crise econômica.

A quem representam os resultados das eleições?

Apesar do grosso da burguesia local e dos setores religiosos ainda darem fôlego ao AKP, ao mesmo tempo, os resultados revelam a divisão da burguesia. Por trás se encontra tanto o aprofundamento da crise capitalista como a política exterior, principalmente o envolvimento semidireto no verdadeiro pântano em que tem se transformado o Oriente Médio.

A pressão exercida pelo imperialismo sobre Erdogan faz parte da pressão geral, liderada pelo imperialismo norte-americano sobre os governos nacionalistas. A Turquia é um aliado chave da Rússia, que, por sua vez, é um aliado chave da China e o pivô da incorporação da Europa ao chamado Novo Caminho da Seda, impulsionado pelos chineses. Essa política confronta a hegemonia dos Estados Unidos alavancada pela frente única criada desde o final da Segunda Guerra Mundial, e que envolve as demais potências imperialistas.

Erdogan é um aliado do governo russo, dos chineses e dos europeus. Mesmo, e apesar, da existência de contradições e da Turquia ser membro da OTAN. A Rússia tem tomado especial cuidado para desenvolver as relações comerciais com a Turquia, que tem condições militares de fechar a saída do Mar Negro, para o Mar Mediterrâneo, e que tem pretensões de potência regional não somente sobre o Oriente Médio, mas também sobre os países da chamada "comunidade turca", que envolvem zonas de influência russa, como o Turcomenistão, o Azerbaijão e os tártaros da Crimeia. Esse foi um dos componentes que esteve por trás do desvio do South Stream (Gasoduto do Sul) para o Turk Stream (Gasoduto Turco) que levará gás para a Europa por meio da Turquia e da Grécia e não mais pela Bulgária. Este país faz parte da União Europeia e estava sendo pressionado para reduzir o controle da Gazprom (o gigante russo do gás) no negócio.

O enfraquecimento do regime é um componente do aprofundamento da crise capitalista no país e no mundo. No próximo período, a crise deverá piorar e a política do "salve-se quem puder" deverá aumentar, tanto em escala nacional como internacional. As movimentações populares que aconteceram em 2013 (e que começaram como protestos contra a derrubada de umas árvores) ficarão colocadas à ordem do dia novamente, mas numa escala maior.

Alejandro Acosta está atualmente no Leste Europeu acompanhando os acontecimentos geopolíticos da região como jornalista independente.


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