O mito dessa greve foi forjado por volta de umha confusom intencionada de factos posteriores bem documentados. Um desses factos seria a greve de costureiras ocorrida precisamente em Nova Iorque de 27 de setembro de 1909 a 15 de fevereiro de 1910, em demanda de melhores condiçons laborais. O outro, o incêndio da fábrica da Triangle Shirtwaist Company no 25 de março de 1911 que custou a vida a mais de um centenar de empregadas, na sua maioria mulheres imigrantes de entre 17 e 24 anos. Porém, nengum deles foi origem desta data comemorativa.
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O certo é que já em 1908 se falava da comemoraçom do Dia da Mulher nos círculos de mulheres socialistas de Chicago, vinculado ao movimento sufragista, e o Partido Socialista chegou a celebrar por primeira vez o Dia da Mulher (National Women's Day) em 28 de fevereiro de 1909. Em 1910 foi celebrado de novo, coincidindo com o fim da greve de costureiras. A finalidade desta convocatória era a reivindicaçom do direito das mulheres ao voto, que nom foi reconhecido nos Estados Unidos até a ratificaçom da Decima-Nona Emenda à Constituição em agosto de 1920.
Em Europa, em 1907, Clara Zetkin, Rosa Luxemburgo e Alexandra Kollontai encabeçavam a luita polo voto feminino dentro da Internacional, organizando a I Conferência Internacional das Mulheres Socialistas. Na II Conferência, celebrada em Copenhaga nos dias 26 e 27 de agosto de 1910 e à que assistírom 100 delegadas por 17 países, acordou-se a celebraçom unitária do Dia da Mulher tomando exemplo das socialistas estadunidenses. Atendendo à proposiçom defendida por Clara Zetkin e Luise Zietz, a Conferência decidiu que todos os países deviam celebrar todos os anos um Dia Internacional da Mulher no mesmo dia, ainda sem definir, e com a mesma legenda: "O voto para as mulheres unirá as nossas forças na luita polo socialismo". Na primeira celebraçom internacional, o 19 de março de 1911, participárom mais de um milhom de mulheres na Alemanha, Áustria, a Dinamarca e a Suécia, onde fôrom organizadas manifestaçons e reunions nas que se debatia sobre a situaçom das mulheres e as suas luitas e objetivos, fundamentalmente o direito ao voto universal feminino e o direito ao trabalho.
Em 1914, a petiçom das socialistas alemãs, o Dia da Mulher celebrou-se por primeira vez a 8 de março na Alemanha, a Suécia e a Rússia. Mas os acontecimentos que dérom lugar ao estabelecimento definitivo da data ocorrêrom na Rússia três anos mais tarde, em plena I Guerra Mundial. Assim, no dia 8 de março de 1917 (27 de fevereiro segundo o calendário juliano, vigente na altura) estalou em Petrogrado um movimento de tecelás e costureiras que, contrariando a decisom do Partido, saiu à rua declarando-se em greve: foi o início da conhecida como Revoluçom de Fevereiro.
Tendo como referência estes factos, a Conferência da Mulheres Comunistas celebrada em Moscovo em 1921 adotou o 8 de março como Dia Internacional das Operárias e a III Internacional apoiou a data, que foi proclamada feriado oficial nacional na URSS. Apesar da desmobilizaçom durante a II Guerra Mundial, a comemoraçom foi posteriormente recuperada polo feminismo de classe, especialmente na República Democrática Alemã.
Durante anos, os países ocidentais mostrárom-se relutantes a aceitar o 8 de março como Dia da Mulher por se tratar de um símbolo da revoluçom das mulheres trabalhadoras. Nom foi até 1975, quando as Naçons Unidas celebrárom o Ano Internacional da Mulher, que a data ficou também instaurada nos países capitalistas. Porém, o Dia Internacional das Operárias chegou aos nossos dias convertido em simplesmente Dia da Mulher e desprovido de qualquer conteúdo revolucionário e de classe graças à manipulaçom intencionada a que foi submetido para ocultar a sua ligaçom com o movimento socialista e comunista internacional e eliminar referentes para a classe operária. Por isso, recuperar o significado originário do 8 de março é recuperar umha parte da história das mulheres trabalhadoras na luita pola sua emancipaçom.