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311215 ueEsquerda Diário - Apresentamos uma retrospectiva dos grandes acontecimentos internacionais em 2015, acompanhados e analisados pelo Esquerda Diário.


1) Atentados ao Charlie Hebdo e ao supermercado kosher

O ano de 2015 começou com fatos de grande comoção mundial que acrescentavam uma dimensão geopolítica à crise econômica que já levava sete anos. Os atentados em Paris, no dia 7 de janeiro, à redação do hebdomadário satírico Charlie Hebdo (seguido posteriormente pelo ataque ao restaurante judeu) reviveram pela primeira vez em anos a “frente republicana” entre o Partido Socialista de Hollande e a direita tradicional de Nicolás Sarkozy (Os Republicanos), “frente” que estava enterrada em meio à crise do bipartidarismo francês. A brutalidade do atentado permitiu dar força de atração à política reacionária de “unidade nacional em defesa dos valores republicanos” do imperialismo francês, que nesse momento conseguiu hegemonizar um amplo arco de partidos políticos e das centrais sindicais, desde as mais conciliadoras (CGT) até as mais “alternativas”, como Solidaires, sob a bandeira do militarismo francês, que continuou seus ataques na África e no Oriente Médio enquanto militarizava os bairros operários e muçulmanos da França. A extrema direita havia sido marginalizada na ocasião diante da manifestação unitária dos governos europeus (incluindo a participação do arquireacionário Benjamin Netanyahu do Estado de Israel), mas a política da Frente Nacional de Marine Le Pen foi crescendo em força, com uma frente republicana tão antiimigrante, xenófoba e antioperária quanto ela.
2) Triunfo do Syriza na Grécia

Fruto das conseqüências da crise econômica mundial, o crescente questionamento e desconfiança frente aos partidos tradicionais do regime e o desvio e derrota das mobilizações dos trabalhadores em países como a Grécia – que contou com 32 paralisações nacionais entre 2010 e 2012 – Alexis Tsipras e o Syriza venceram as eleições gregas de 25 de janeiro. Este triunfo foi um fato relevante para a Europa, pois expressava, ainda que de maneira distorcida e em chave reformista, o rechaço de setores de massas ao bipartidarismo europeu.

Com um discurso “antiausteridade” que prometia dar fim aos ajustes e ao intervencionismo alemão na Grécia, o Syriza alentou esperanças de que seria possível superar os efeitos da crise sem tocar no sistema capitalista. Entretanto, sua aliança com a direita xenófoba e a timidez de seu já limitado programa de reformas que objetivava um acordo com os credores internacionais por dentro do capitalismo e da União Europeia levou a que o Syriza se convertesse, em poucos meses, no principal agente da austeridade na Grécia, assinando em agosto um humilhante pacto de subordinação neocolonial com a Alemanha e atacando os direitos dos trabalhadores gregos, enfrentando-se com a resistência das greves gerais. Apostando na passividade da luta de classes e nas negociações com o imperialismo, o fracasso do Syriza foi prova de que antiausteridade sem anticapitalismo, e sem o protagonismo da classe trabalhadora, só pode conduzir a desvios e fortalecer o imperialismo.

3) Acordo nuclear EUA e Irã

Em abril, o Irã e os Estados Unidos, depois de meses de conversações mediadas por outras cinco potências (Alemanha, França, Grã-Bretanha, China e Rússia) deram passo fundamental para um acordo histórico que prevê o levantamento das sanções nucleares impostas pelos EUA e a União Europeia (UE) contra a República Islâmica. Sob os marcos deste acordo, que restabelece as relações diplomáticas e comerciais entre os dois países interrompidas desde a Revolução iraniana de 1979, o Irã reduziria em dois terços suas centrifugadoras que produzem urânio enriquecido, material que pode ser usado para fabricar uma bomba nuclear, desmantelaria um reator que serviria à produção de plutônio e aceitaria verificações internacionais em seu território. Este acordo limitaria o enriquecimento de urânio por dez anos no Irã, mas removeria as sanções e imprimiria uma recuperação econômica na república islâmica.

4) Retração na China

2015 foi o ano em que a economia do gigante asiático entrou em agonia, trazendo apreensão e aprofundando a crise capitalista internacional. A adoção de estímulos monetários e fiscais desenfreados, gerou bolhas financeiras e imobiliárias. Se a desaceleração da economia chinesa já era vista como um grande complicador para qualquer cenário de recuperação econômica, um estouro dessas bolhas e os conseqüentes efeitos, seriam desastrosos. Os efeitos das turbulências da economia chinesa não tardaram a ser sentidos, inclusive no Brasil.

5) Crise migratória na Europa

A chamada “crise migratória” deu a tônica mais dramática a ano de 2015 e se converteu em uma profunda crise social e política na Europa. As imagens de dezenas de milhares de pessoas tentando cruzar as fronteiras europeias desde os Balcãs, Grécia ou através do Mediterrâneo, com milhares de mortos, mostram a gravidade desta barbárie capitalista. Os imigrantes e refugiados atravessam as “rotas da morte” desde a Síria e Afeganistão, passando pela Turquia, Grécia e os Balcãs para chegar à Hungria e desde ali dirigirem-se ao norte da Europa. Deparam-se com a repressão e militarização das fronteiras, fruto da política xenófoba e racista dos governos Merkel, Hollande, Cameron, Renzi e demais. Imagens como a do bebê Aylan chocaram o mundo e mostraram a verdadeira face da barbárie capitalista. Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas na Alemanha, Áustria, Estado espanhol e Inglaterra sob o grito de “Refugiados, bem-vindos”, criticando duramente as medidas propostas pelos governos europeus. A “crise migratória” é expressão dos interesses de classe da burguesia, que invadem militarmente e deixam na miséria milhões de seres humanos com suas guerras de rapina, além de dividir e degradar ao máximo as condições de vida dos distintos setores da classe operária, sejam “legais” ou “ilegais”, nativos ou imigrantes, precários ou “registrados”. Não pode ser resolvida pela burguesia, e a defesa dos direitos sociais e políticos dos refugiados e imigrantes se converte numa das principais bandeiras antiimperialistas da esquerda operária e socialista internacional.

6) “Revolta das Facas” dos palestinos contra o exército israelense

Entre setembro e outubro uma nova revolta palestina escancara o drama da opressão colonialista exercido pelo Estado de Israel. Desta vez isso ocorreu em bairros árabes da Cisjordânia, quando jovens se levantaram contra o linchamento de um cidadão da Eritreia por israelenses, após a explosão da "Revolta das Facas". O levante recebeu esse nome pelas ações contra soldados israelenses protagonizadas pelos jovens palestinos munidos de facas. Como resposta, o governo de Benjamin Netanyahu endureceu a repressão, e militarizou os bairros árabes em Israel, além de ter alentado ainda mais o racismo contra os árabes.

7) A Rússia inicia seus bombardeios na Síria

A existência do reacionário Estado Islâmico na Síria e no Iraque, produto da derrota da primavera árabe e das intervenções militares do imperialismo no Oriente Médio e na África, se converteu em subterfúgio para a defesa dos interesses de distintas potências na região. Os Estados Unidos já vinha dirigindo, sem sucesso, há um ano uma coalizão internacional cujo objetivo seria bombardear as posições do EI, objetivo que servia também para que atingisse as posições do reacionário ditador sírio Bashar Al-Assad. A Rússia se uniu por sua vez com seus próprios interesses aos bombardeios contra o EI, para defender o regime de Assad e sua única base militar fora do território russo (em Tartüs, litoral da Síria), atacando as milícias opositoras a Assad financiadas pela Arábia Saudita, Turquia e pelos EUA. As tensões geopolíticas se acirraram depois que um jato russo foi abatido pela Força Aérea turca em novembro, sob alegação de que transitava no espaço aéreo da Turquia sem autorização governamental.

8) O espetacular movimento estudantil sulafricano

O espetacular exemplo do movimento estudantil sulafricano influenciou processos de luta estudantis em todo o mundo, em meio à luta contra o aumento das tarifas universitárias, levantando a bandeira do anti-imperialismo e a defesa da efetivação imediata e inquestionável de todos os trabalhadores terceirizados da África do Sul no quadro de funcionários efetivos, algo que conseguiram realizar nas universidades. Em vários campi dos EUA, os estudantes denunciam não apenas a utilização da educação superior como meio de obter lucros, mas também se solidarizam com causas internacionais como a causa palestina contra o Estado assassino de Israel, contra o racismo - em solidariedade aos estudantes de Missouri que derrubaram seu reitor racista - e a favor de melhores condições de trabalho para os funcionários dos campi.

9) A Frente de Esquerda e dos Trabalhadores na Argentina se converte na quarta força nacional

A FIT, por meio das lutas políticas dadas principalmente pelo PTS (Partido dos Trabalhadores Socialistas), emergiu como o novo fenômeno da esquerda latinoamericana com implicações internacionais. Fruto de uma década de recomposição objetivo do movimento operário argentino depois das jornadas de 2001, a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores consolidou seu espaço político na vida nacional produto da luta de classes e da disposição de um significativo setor de trabalhadores de levantar as idéias da esquerda anticapitalista e socialista como resposta à crise. Nicolás Del Caño se converteu na principal personalidade da esquerda argentina, estando presente em todas as lutas dos trabalhadores, das mulheres e da juventude, recebendo o mesmo salário de uma professora e doando o restante para as lutas em curso. Uma mostra disso são os 1500 candidatos operários, os principais referentes da luta de classes na Argentina, que militaram com um programa anticapitalista nos locais de trabalho junto a Del Caño. Esta união entre a atividade parlamentar e a luta de classe dos trabalhadores fez com que Del Caño obtivesse a maior votação da esquerda argentina em eleições executivas desde 1983, com 815 mil votos, 3,3% do total, o dobro do que recebeu Luciana Genro do PSOL nas eleições brasileiras em 2014. Com um programa anticapitalista e socialista, Del Caño representa a quarta força política nacional que é parte do salto dos trabalhadores para a militância política com as ideias revolucionárias.

Essa experiência internacional, em meio à bancarrota de organizações reformistas como o Syriza, mostra que é possível conquistar peso em setores de massas sem abandonar a luta para que o movimento operário se transforme em sujeito político, avance das lutas sindicais à militância política, e construa um partido com independência de classe para acabar com o capitalismo.

10) Ataques de 13 de novembro em Paris

Os aberrantes atentados de 13 de novembro em Paris, em que mais de 130 pessoas foram mortas por jihadistas ligados ao Estado Islâmico, acentuaram a crise geopolítica iniciada em janeiro, incentivando a campanha xenófoba da extrema-direita européia contra a entrada dos imigrantes no continente. Os atentados de janeiro permitiram um respiro a Hollande e ao regime republicano, colocando na defensiva por um momento a extrema direita que ficou fora da unidade nacional. Diferentemente disso, em novembro a “unidade nacional” reacionária por cima – cheia de contradições – não foi acompanhada em amplas camadas da população com um discurso hegemônico, por baixo. Hollande buscou compensar esta debilidade estratégica declarando “guerra ao Estado Islâmico” e reforçando seus bombardeios na Síria, além de militarizar a França. Esta “adoção da agenda Le Pen” se desenvolveu ao ponto de, após os atentados, Hollande instalar um estado de exceção que prorrogou por três meses, militarizando os bairros periféricos, dando buscas nas residências da população muçulmana e atacando as liberdades democráticas mais elementares, chegando a prender 300 manifestantes nas marchas contra a Cúpula do Clima (COP21).

O salto da bárbara intervenção imperialista no Oriente Médio e na África é a origem dos atentados igualmente brutais e reacionários do Estado Islâmico. Contraditoriamente, o militarismo reacionário europeu pode dar lugar a um grande movimento antiguerra que se apóie no rechaço de setores da juventude e da classe trabalhadora à política imperialista de Hollande na França.

11) Chavismo em crise no fim de ciclo dos governos pósneoliberais na América Latina

Enquanto esteve à frente da Venezuela, Hugo Chávez despertou todo tipo de ilusões em setores da esquerda com seu "socialismo do século XXI", que em verdade nunca se propôs a tocar a fundo a propriedade privada. No entanto, após sua morte, o chavismo como corrente política latino-americana, e expoente dos governos pós-neoliberais decaiu sem parar. A crise econômica assola o país. Seu sucessor, Nicolás Maduro, quase não é eleito. E recentemente em 6 de dezembro, Maduro sofre uma grande derrota nas eleições para a Assembleia Nacional. Pela primeira vez a oposição de direita sai vencedora, tensionando a situação em meio ao fim de ciclo dos governos pós-neoliberais, o que possibilita um novo “pacto norteamericano” de colonização dos países latinoamericanos, iniciado na Cúpula do Panamá, e as negociações para a restauração do capitalismo em Cuba. A vitória de Macri na Argentina é uma mostra a mais do giro à direita na superestrutura política na América Latina, ainda que isto não signifique uma nova relação de forças entre as classes sociais, o que se disputará nas lutas de resistência que provavelmente impregnarão o subcontinente em 2016.

12) Giro histórico do Banco Central norteamericano

A Reserva Federal norte-americana (FED) finalmente aumentou a taxa de juros, depois de 7 anos mantendo-a em torno do zero. O extenso período durante o qual as taxas de juros de curto prazo do Banco Central norte-americano oscilaram entre 0 e 0,25% carece de precedentes históricos. Apesar disso, a medida expressa as contradições do medíocre crescimento norte-americano nos últimos anos e junto com o menor vigor da economia chinesa, inaugura um novo cenário na longa crise aberta com a queda do Lehman Brothers. Em meio a uma situação que se torna mais crítica do ponto de vista internacional, não se pode descartar a probabilidade de que mesmo um pequeno aumento nas taxas, possa aguçar mais do que proporcionalmente a reversão dos fluxos de capital em direção ao centro e tende a agravar os preços das matérias-primas. Também e indubitavelmente a situação – embora ironicamente se trata do que o FED quer evitar – aumenta a probabilidade de novas quebras financeiras na medida em que piora a situação de cada país endividado em dólar, cujas dívidas aumentam automaticamente.

13) “Podemos” se converte na terceira força política no Estado espanhol

As eleições gerais confirmam a ascensão de uma nova formação da esquerda reformista: o Podemos – e as distintas coalizões com as quais se apresentou em outros territórios – conquistou 5 milhões de votos (20,5%) nas eleições de 20 de dezembro, 69 deputados e se tornou a terceira força política no país, ganhando na Catalunha e no País Basco. Trata-se de uma tendência oposta ao giro reacionário que prima no continente com a ofensiva militarista de Hollande e o ascenso da Frente Nacional francês, e expressão do rechaço de amplos setores aos ajustes e à corrupção do bipartidarismo espanhol entre PSOE e PP. É a primeira vez desde 1977 que 4 forças políticas tem peso suficiente para intervir na política espanhola, já que o PP perdeu 65 cadeiras apesar de ter vencido com 28% e o PSOE teve a eleição mais baixa de sua história pós-78, com 22%, o que impede uma solução fácil para a conformação de governo.

Esta esquerdização de setores de massas também se dá de maneira distorcida, como na Grécia, já que Pablo Iglesias se ergueu sobre o desvio de um processo de massas na juventude, e levanta um programa ainda mais socialdemocrata que o de Tsipras, imprimindo um acelerado giro ao centro na sua organização, chegando a reduzir seu projeto de “mudança” a 4 reformas constitucionais e uma segunda Transição que re-edite um pacto com a burguesia espanhola e seus principais partidos, o PP e o PSOE, com cuja casta o Podemos já faz acordos de governo como em Barcelona.


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