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arabia sauditaDiário Liberdade - [Alejandro Acosta] Recentemente, a monarquia da Arábia Saudita anunciou o rompimento das relações diplomáticas com a República Islâmica do Irã. A razão oficial foi o ataque à embaixada saudita em Teerã, a capital do Irã, por manifestantes em protestos pela execução do mais proeminente líder xiita na Arábia Saudita, o clérigo Nimr al-Nimr, que teriam sido facilitados pelo regime dos aiatolás.


Foto: Campo de petróleo na Arabia Saudita. Por Hispan TV.

Em seguida, outros países controlados pelos sauditas (Jordânia, Kuwait, Bahrein, Djibuti e Sudão) retiraram os embaixadores do Irã. O Egito e os Emirados Árabes Unidos rebaixaram as relações, sem rompe-las, apesar de encontrar-se num nível já muito baixo. A Turquia e o governo do Curdistão Iraquiano fizeram algumas críticas, mas qualificaram as execuções como assuntos internos dos sauditas. O governo da Nigéria tinha prendido alguns xiitas algumas semanas atrás, a pedido dos sauditas, mas não rompeu relações. Uma situação similar aconteceu no Paquistão. Este país tem na Arábia Saudita por volta de 1,5 milhões de trabalhadores, 500 mil somente na polícia e no exército.

Para camuflar o verdadeiro objetivo da ação, junto com o clérigo xiita foram condenados a morte mais de 45 pessoas, quase todos eles sunitas, por ligações com a al-Qaeda e o Estado Islâmico. Em paralelo, foi assinado um contrato por mais de US$ 1 bilhão para a compra de armas dos Estados Unidos e o destravamento do contrato com a Lockheed, a gigantente norte-americana do setor de armas, por mais de US$ 11 bilhões. Com a Rússia e a China, os sauditas acenaram com novos contratos para a compra de armas, além dos contratos já assinados na última Feira de São Petersburgo.

Os russos, a China e o Iraque se ofereceram como intermediários para tentar rebaixar as tensões. O governo do Irã ordenou à Promotoria Pública acelerar as investigações e chamou a monarquia saudita à distensão.

O clérigo Nimr al-Nimr tinha sido um dos principais líderes dos protestos de 2012, a “primavera árabe” saudita, que teve como foco a Província Oriental, habitada principalmente por xiitas, e onde se encontra o grosso das reserva do petróleo e a própria sede da Aramco, a empresa estatal de petróleo. Na época, os protestos foram sufocados com muita repressão e por meio de um pacote de ajuda econômica para os pobres, que superou os US$ 50 bilhões. Vários líderes foram presos na época e condenados a morte em 2014. Os pobres somam mais de quarta parte dos 20 milhões de habitantes do Reino e são majoritariamente os xiitas da Província Oriental. Mas por que a monarquia saudita decretou as execuções sabendo que poderiam enfraquecer o regime que já enfrenta a aceleração da crise?

ARÁBIA SAUDITA: A CRISE DO BALUARTE DO IMPERIALISMO NO ORIENTE MÉDIO

A monarquia saudita enfrenta o acelerado aprofundamento da crise capitalista por causa da forte queda dos preços do petróleo. A pobreza avança por causa da carestia da vida, principalmente os preços dos alimentos e a especulação imobiliária.

O déficit fiscal de 2015 superou os US$ 110 bilhões. De manter-se a situação atual, as reservas internacionais evaporariam em cinco anos. A crise da política internacional saudita tem provocado fortes rachaduras no interior da Casa dos Sauds. Os gastos para manter em pé a ditadura encabeçada pelo ex general al-Sisi no Egito, o pântano da guerra do Iêmen, o pântano da guerra da Síria, o distanciamento com a Administração Obama, a crescente aproximação da China com a Rússia às custas do distanciamento com os sauditas.

Somente no Egito, os sauditas têm injetado mais de US$ 12 bilhões, dos quais o repasse de US$ 3 bilhões foi assinado neste mês, mas a economia não tem saído do chão. Além do forte aprofundamento da crise econômica, da indústria têxtil e do turismo, há a crise da segurança interna, com a crescente atuação do Estado Islâmico e de outros grupos radicais que estão tomando o espaço da Irmandade Muçulmana que foi derrocada pelo golpe militar de 2013.

No Iêmen, os sauditas tem fortalecido os bombardeios assassinando milhares de civis. O que começou como quase um passeio na região sul, após a toma do Porto de Aden, se tornou um pântano após a tomada da cidade de Marib e o avanço em direção a Sanaa, a capital do pais, nas regiões montanhosas que são os bastiões dos Houthis, os rebeldes que são apoiados pelo Irã.

Na Síria, aparece de maneira muito clara a política do wahabismo, a versão saudita do Islã, que é muito próxima dos tafquiris radicais, ou salafistas, como o Estado Islâmico e a al-Qaeda. A política golpista na região foi encabeçada pelo chefe dos serviços de inteligência, o príncipe al-Sultan, que foi retirado do cargo há dois anos quando a política exterior saudita começou a entrar em crise.

A partir do mês de junho do ano passado, a Administração Obama se aproximou da Rússia, do Irã e da China com o objetivo de conter a crise no Oriente Médio, a partir da Síria. O apoio aos “grupos rebeldes” pelos sauditas, o Catar, a Jordânia, os Emirados Árabes Unidos e pela Turquia ameaçava implodir a região, da mesma maneira que tinha acontecido na Líbia e na Somália. Com essa nova política, a Arábia Saudita acentuou a crise e, apesar de manter a aliança geral com os Estados Unidos, tentou avançar na direção da ofensiva contra o principal rival na região, o Irã.

NO CENTRO DA CRISE: O PETRÓLEO

A crise da monarquia saudita veio à tona com as manifestações públicas de vários príncipes contra a política aplicada pelo atual rei Salman, que poderia levar à implosão do Reino. Vários deles pedem a renuncia.

Na base da crise da Arábia Saudita, está a queda vertiginosa dos preços do petróleo que atingiu o menor nível desde 2004.

Uma das políticas que os sauditas poderiam aplicar seria impor a redução da produção a partir da OPEP (Organização dos Produtores de Petróleo). Essa medida é apoiada pela Venezuela, a Angola e a Nigéria, e inclusive pela Rússia que não é membro da OPEP, assim como por todos os países que dependem do petróleo. Mas com o levantamento das sanções contra o Irã, este país deverá passar a colocar no mercado mais de um milhão de barris diários adicionais.

Com a manutenção da produção, os sauditas buscam colocar em xeque a economia da Rússia, da mesma maneira que o fizeram com a antiga União Soviética na década de 1980, do Irã, o principal rival no Oriente Médio, e dos Estados Unidos, onde a Administração Obama tem se distanciado dos sauditas para se aproximar da Rússia e do Irã. Os preços baixos do petróleo inviabilizam a produção a partir do xisto, mesmo com os métodos ultra depredadores. Com a economia norte-americana em crise aumentam as chances da ala direita do imperialismo vencer as eleições presidenciais que acontecerão no final deste ano.

Além dos fatores sobre os quais a burguesia detém um certo controle, há os “incontroláveis”. O aprofundamento da crise capitalista não pode ser controlada por uma determinada política. A maior parte das políticas aplicadas têm na base a tentativa de defender os lucros, na concorrência com os competidores. São as leis do capital em ação e no piloto automático.

Para o próximo período, está colocado um novo colapso capitalista de proporções ainda maiores que o de 2008. Todos os fatores que estavam atuantes em 2008 se encontram presentes e com ainda mais força.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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