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7047964135 dcd552f2d3 zFrança - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] No domingo 6 de dezembro, o centro das atenções da política mundial esteve dividido entre a Venezuela e a França.


Marine Le Pen, líder da extrema-direita agrupada na Frente Nacional. Foto: Rémi Noyon (CC BY 2.0)

Enquanto o chavismo era colocado contra as cordas pela direita truculenta nas eleições legislativas venezuelanas, na França a extrema-direita, agrupada na Frente Nacional, foi a grande vencedora no primeiro turno das eleições regionais. As eleições aconteceram sob o estado de exceção que foi imposto após os recentes atentados terroristas de Paris.

De acordo com os resultados ainda parciais do Ministério do Interior, a FN (Frente Nacional) obteve quase 30% dos votos nas 13 regiões eleitorais em disputa, chegando na frente em seis delas. O crescimento foi gigantesco, na comparação com o primeiro turno das eleições regionais de 2010, quando havia obtido 11,42%. A FN passou ao segundo turno em oito regiões e ficou em primeiro lugar em seis delas.

O Partido Republicano, liderado pelo ex-presidente Nicolás Sarkozy, aliado ao MoDem e à UDI, obteve em torno de 2% de votos que a FN, um leve crescimento em relação à votação obtida em 2010. Chegou na frente em quatro regiões e passou ao segundo turno em 10 das 13 regiões. Das 22 regiões existentes hoje, somente governa uma, Alsácia. Mas com os resultados eleitorais obtidos poderá aumentar consideravelmente o número de regiões governadas, principalmente se contar com o apoio do PSF, que já se manifestou a favor de uma frente única contra a extrema-direita nas regiões onde ela tiver chances de ganhar. Sarkozy se manifestou contra uma aliança com o PSF para o segundo turno, mas gerou posicionamentos em sentido contrário dos demais componentes da aliança.

O PSF (Partido Socialista Francês), do presidente François Hollande, que controlava 12 das 13 regiões em disputa, e 21 das 22 regiões totais, obteve, em aliança com o PRG e outros grupos menores, quase 23% dos votos, e chegou na frente em duas províncias. O PSF foi o grande derrotado.

A esquerda anti-capitalista e os ecologistas chegaram na frente em Córsega.

Dos 44 milhões de eleitores habilitados, o abstencionismo somou 60%.

O segundo turno acontecerá no próximo domingo, 13 de dezembro. Serão as últimas eleições antes das eleições presidenciais de 2017.

Qual é o significado do resultado das eleições regionais francesas?

As eleições aconteceram a apenas 18 meses das eleições presidenciais e após três semanas dos atentados terroristas de Paris que deixaram um saldo de 130 pessoas mortas e pelo menos 350 feridos.

O resultado representa um forte giro à direita do regime político francês. Apesar da direita tradicional, encabeçada pelo ex-presidente Nicolás Sarkozy, ter passado ao segundo turno na maioria das regiões, o principal fato é o forte crescimento da extrema-direita, que não somente chegou à frente na maioria das regiões em disputa, mas também ditou à pauta eleitoral. A direita liderada por Sarkozy adotou algumas das bandeiras da extrema-direita, da mesma maneira que havia feito em 2012.

A bancarrota da social-democracia se expressa pela forte perda eleitoral, inclusive em centros operários, apesar da virada direitista que se intensificou após a nomeação do primeiro-ministro Manuel Valls. O aumento dos ataques contra os trabalhadores e contra as liberdades democráticas acabou gerando o repúdio da população, principalmente da base eleitoral de apoio entre os trabalhadores. A região de Nord Pas de Calais Picardie, onde Marine Le Penn ganhou de lavada, é uma região operária tradicionalmente ligada ao PSF e ao PCF.

Há uma clara movimentação da burguesia imperialista no sentido de endurecer o regime político. Os governos regionais, na França, controlam os portos, aeroportos, o transporte público local e as escolas municipais. Mas a importância vai muito além dessas questões.

O aprofundamento da crise capitalista na Europa e no mundo tem colocado em xeque os lucros dos grandes capitalistas. A França se encontra a anos luz da potência e da estabilidade social estabelecida nas três décadas seguintes à Segunda Guerra Mundial. O mesmo acontece nas demais potências europeias: Inglaterra, Itália e Espanha. Os Estados nórdicos também enfrentam problemas estruturais sérios, que aparecem principalmente na Suécia e na Finlândia. E o problema ainda mais crítico é que a crise escalou na coluna vertebral da Europa, a Alemanha.

A Alemanha entrou em recessão industrial. O principal banco alemão, o Deutsche Bank, também entrou em situação falimentar.

A principal empresa alemã, a Volkswagen, foi atingida em cheio pelas denúncias, que tiveram como origem os Estados Unidos, sobre a fraude dos índices da contaminação ambiental. Este fato revelou o aparecimento de rachaduras mais sérias na frente única imperialista colocada em pé, sob a hegemonia do imperialismo norte-americano, após a Segunda Guerra Mundial. Por trás, estava a tentativa dos Estados Unidos de conter a aproximação da Alemanha com a Rússia e, fundamentalmente, com o novo eixo impulsionado pelo Novo Caminho da Seda chinês.

A crise econômica está na base do regime político que avança em todo o mundo. A burguesia tenta impulsionar a extrema-direita como carta a ser usada quando todos os outros instrumentos de controle do poder tiverem fracassado.

A evolução à direita dos resultados eleitorais regionais

Marine Le Pen, a presidente da Frente Nacional, conquistou, na região nórdica de Nord Pas de Calais Picardie, 43% dos votos . Uma “coincidência” é que a região de Calais se encontra localizada na porosa fronteira com a Bélgica, em que chegou uma grande quantidade de refugiados e que dali procediam uma parte dos terroristas. Le Pen disputará o segundo turno com Christian Estrosi, do Partido Republicano, aliado ao MoDem e a UDI, que obteve pouco mais de 26% dos votos; o PSF obteve apenas 16,11%.

Marion Marechal Le Pen, a sobrinha de Marine, conquistou, na região do sul de Provence Alpes Côte d’Azur, 41,7% dos votos. Disputará o segundo turno com Xavier Bertrand, do Partido Republicano. O PSF obteve 17,67%.

Em Alace Lorraine Champagne Ardenne, a FN obteve mais de 36% dos votos; o Partido Republicano, aliado ao MoDem e a UDI, obteve quase 26% dos votos e o PSF mais de 16%. Aqui a FN concorreu com o vice-presidente do Partido, Florian Philippot.

Em Bourgogne Franche Comté, a FN obteve 31,48% dos votos, o Partido Republicano, aliado ao MoDem e a UDI, 24% e o PSF 23%.

Em Centre Val de Loire, a FN obteve 30,49% dos votos, o Partido Republicano, aliado ao MoDem e a UDI, 26,25% e o PSF 24,31%.

Em Languedoc Roussillon Midi Pyrénées, a FN obteve 32,65% dos votos, o PSF 24% e o Partido Republicano, aliado ao MoDem e a UDI, 18,63%.

O Partido Republicano, em aliança com o MoDem e a UDI, chegou em primeiro lugar em Ilê de France, a mais populosa do país, com 12 milhões de habitantes, onde disputará o segundo turno com o PSF e aliados.

A Frente Nacional também passou ao segundo turno em Auvergne Rhône Alpes, onde obteve por volta de 26% dos votos. O Partido Republicano, aliado ao MoDem e a UDI, venceu com 29,5% enquanto o PSF obteve 24,2%.

Na Normandie, a FN foi ao segundo turno com quase 28% dos votos. O Partido Republicano, aliado ao MoDem e a UDI, venceu por uma diferença de décimos percentuais enquanto o PSF obteve menos de 24%.

O colapso do regime político francês

O fortalecimento da extrema-direita tem acontecido de maneira semicamuflada, mas, no fundamental, continua sendo a mesma direita fascista de sempre. Apesar da tentativa desses partidos de camuflar a sua política, se tirarmos a palavra "imigrantes" ou "muçulmanos" e colocarmos no lugar “judeus”, a diferença com o fascismo ou o nazismo passará a ser mínima.

A Frente Nacional francesa é o partido de extrema-direita mais forte da Europa e agora está sendo alavancado para a frente do cenário político francês oficial.

O presidente François Hollande foi eleito com um programa de crescimento, contra as políticas de austeridade. Seis meses depois da eleição presidencial, o PSF passou a controlar o parlamento com a maioria absoluta. Hollande até tentou. Ele fez algumas negociações com a chanceler alemã, Angela Merkel, mas desistiu do “crescimento” rapidamente e se converteu, ele próprio, num dos paladinos da austeridade. No ano passado, conforme a crise continuou se aprofundando, colocou como primeiro-ministro um elemento da ala direita do PSF que se confunde com a direita ligada a ex-presidente Nicolás Sarkozy, Manuel Valls.

A queda eleitoral do PSF reflete o colapso da alternativa social-democrata na atual situação política. Sarkozy tenta reciclar a direita tradicional, agrupada na UMP (Unidade por um Movimento Popular), mudando o nome para Partido Republicano, apertando os controle sobre a ala de extrema-direita, liderada por Copé, e adotando parte das bandeiras da extrema-direita. Essa movimentação, que já havia sido ensaiada nas eleições gerais anteriores, pelo próprio Sarkozy, foi acelerada após a crise dos refugiados na Europa que colocou em xeque não somente o governo Hollande, mas também a direitista CDU/CSU alemã, liderada por Angela Merkel.

De acordo com as pesquisas eleitorais, a Frente Nacional deverá passar ao segundo turno nas próximas eleições presidenciais.

Frente única da direita imperialista tradicional?

Com o fortalecimento da extrema-direita francesa, cresce na França a pressão da ala direita do PSF, com o próprio Manuel Valls à cabeça, e dos Republicanos de Sarkozy para a formação de uma “Grande Coalizão” entre ambos os partidos, uma versão a la alemã, com o objetivo de enfrentar a Frente Nacional.

O problema dessa política é que ela chega em momento em que a burguesia aparece dividida por causa da crise econômica. O próprio Sarkozy é contrário à “Grande Coalizão” e tenta se fortalecer sobre o espólio da social-democracia.

O que está colocado é como salvar os lucros, como aplicar o ajuste contra a classe operária. A burguesia sabe que a social-democracia tem limitações na aplicação dessa política, apesar de conseguir com maior facilidade do que os outros manter o controle das massas.

Sarkozy já poderia avançar mais forte contra os trabalhadores, e poderia usar o PSF como muleta de contenção das massas. Mas quem poderia aplicar o ajuste ao bel-prazer é a extrema-direita. O problema é que essa política conduz, inevitavelmente, ao acirramento das contradições sociais. Por esse motivo, a burguesia imperialista continua alimentando os seus pit bulls, mas, como sabe que pode facilmente perder o controle e incendiar o país, a Europa e o mundo, somente os colocará em cena quando não houver outra opção.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para o seu blog pessoal.


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