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erdoganTurquia - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Os ataques da aviação russa na Síria têm como objetivo fortalecer as posições do governo de al-Assad para pressionar no sentido de uma saída negociada. A Rússia não tem condições de controlar a Síria com as próprias forças, pois entraria em rota de colisão com as demais potências regionais e com o imperialismo. Mas, a partir do enclave criado nas províncias de Latákia e Tartus, as regiões habitadas pela minoria alawita que está no poder, os ataques avançaram sobre as regiões vizinhas.


Os presidentes da Rússia e Turquia, Putin e Ergodan. Foto: Kremlin (CC BY 3.0)

A aviação russa tem possibilitado o avanço do Exército sírio, apoiado pelas milícias xiitas, controladas pela Guarda Revolucionária Islâmica iraniana, e o Hizbollah, a poderosa milícia libanesa, nas estratégicas províncias de Idlib e Aleppo, e sobre o coração do Califato do Estado Islâmico, Raqqa e Deir el-Zour. Localidade onde os “rebeldes” avançavam foram retomadas. Após dois anos, o Exército conseguiu controlar Sweida e a sitiada base aérea de Kweiris, na região oriental de Aleppo. Na região central da Síria, unidades de artilharia russas teriam ajudado na retomada de Mahin, que se encontrava sob controle do Estado Islâmico e estariam atuando na retomada de outros povoados, como Jabal Zuwayk, em Latákia. A ofensiva sofreu alguns revezes no norte de Hama, mas continua avançando em quase todas as frentes.

Em paralelo, os Estados Unidos têm atuado estreitamente com o YPG curdo, que passou a fazer parte da frente Forças Democráticas Sírias, que inclui também a Coalisão Árabe Síria, assírios e turcomenos. O governo turco tenta desesperadamente controlar uma faixa fronteiriça do território sírio e colocar os curdos na defensiva.

O envolvimento dos russos e do Irã na Síria, e mais recentemente dos chineses, tem limitações. A resistência dos “rebeldes” apoiados pelas potências regionais e pelo imperialismo tem obrigado a aumentar o envolvimento militar, colocando o risco do fantasma da derrota russa no Afeganistão. Por esse motivo, a política de Putin e dos aiatolás iranianos é conseguir uma saída negociada o mais rápido possível.

A questão curda

O grupo “rebelde” preferencial do governo turco agora é o chamado Exército Sírio Livre, onde atuam milicianos de origem turca financiados pelo governo. O principal objetivo está relacionado com a contenção das milícias curdas do YPG e, principalmente, com uma eventual evolução no sentido da formação de um Estado curdo. Os curdos turcos do PKK (Partido dos Trabalhadores) controlam a Província da Anatólia Oriental, que é um dos componentes centrais do fornecimento de gás para a Europa.

A política da criação de uma zona de controle do espaço aéreo sírio na região foi implodida pela intervenção da aviação russa.

A derrubada do caça russo teve como objetivo criar um fato consumado para a Turquia avançar no controle do norte da Síria contra os curdos que têm se convertido num dos componentes em solo da “guerra contra o Estado Islâmico”. Com esse objetivo, criaram um fato consumado na tentativa de arrastar os Estados Unidos e a OTAN, contra a política da aliança com a Rússia que a Administração Obama colocou em pé.

Trata-se de uma política arriscada, pois entra em conflito com a política da Rússia e, em certa medida, com a dos próprios Estados Unidos. Mas, conforme a crise tem se aprofundado, a política do “salve-se quem puder” passa a ocupar a linha de frente do cenário político. Erdogan acabou de sair triunfante da escalada da política militarista contra o PKK, cancelando a trégua, com o objetivo de criar um clima de terror e facilitar a vitória, por maioria, do partido no governo, o AKP, nas novas eleições nacionais, que aconteceram no início de novembro, com este objetivo.

Os curdos iraquianos, os pershmergas, têm atuado com o apoio norte-americano numa grande ofensiva contra o Estado Islâmico a partir de Mosul em direção à fronteira síria. O Curdistão iraquiano mantém relações estreitas com o imperialismo norte-americano, os sionistas israelenses e com a Turquia.

O gás do Mar Cáspio

Perante o acirramento das contradições pelo negócio do fornecimento de gás para a Europa, o gasoduto Trans-Cáspio voltou a ser colocado à ordem do dia para desespero dos russos. Trata-se de 300 quilômetros que deverão unir o porto Turkmenbashi (Turcomenistão) e Baku (Azerbaijão). Com capacidade para o transporte de 30 bilhões de metros cúbicos (bmc), o próximo destino seria a Turquia, passando pela Geórgia, de onde chegaria à Europa.

Os interesses russos foram colocados em xeque, pois aos atuais 4,7 bmc que o Azerbaijão já transporta, ainda deverão ser adicionados 10 bmc em 2018, a partir do campo Shah Deniz II.

O fornecimento dos Balcãs e da Europa Oriental com gás do Azerbaijão e do Turcomenistão, por fora do controle da Gazprom, a gigante russa do setor, enfraqueceria o poder russo na região abrindo passo para uma maior escalada da agressividade militar da OTAN por meio desses países.

Pelo aumento da pressão, mediante vários mecanismos econômicos e militares, o governo russo conseguiu afastar o Turcomenistão dessa política e envolver o país no direcionamento do gás para a Rússia e a China. Além disso, o governo do Irã está alinhado com essa política. Não por acaso, os 26 mísseis de longo alcance que a Marinha russa disparou contra o Estado Islâmico tiveram como origem a Frota do Mar Cáspio e sobrevoaram o Irã, com a permissão do regime dos aiatolás.

O governo turco de Recep Tayyip Erdogan tem tentado se contrapor à política russa no Mar Cáspio. No início de novembro, Erdogan esteve em Ashgabat, a capital do Turcomenistão, com o objetivo de assinar acordo de fornecimento de gás natural, apesar de não ter especificado como o gás seria transportado. Duas semanas depois, o presidente da empresa estatal de petróleo do Azerbaijão declarou, em visita ao Turcomenistão, que o governo estaria preparado para investir no gasoduto Trans-Cáspio.

A Turquia, que mantém proximidade nacional sobre esses países, busca se favorecer do aumento das contradições da Rússia com várias das antigas repúblicas soviéticas, enquanto a Rússia tem direcionado o grosso dos negócios para a China.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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