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kreArábia Saudita - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Qual é o verdadeiro significado da aproximação diplomática entre a Rússia e a Arábia Saudita?


Vladimir Putin e Mohammad bin Salman Al Saud. Foto: Kremlin (CC BY 3.0)

No último período, uma verdadeira procissão de figurões da obscurantista Arábia Saudita tem aparecido na Rússia em encontros com o primeiro escalão do governo. O Príncipe Mohammed bin Salman, Ministro da Defesa saudita, se encontrou, em outubro, com Vladimir Putin, o presidente da Federação Russa. A visita do rei Salman a Moscou está prevista para acontecer neste ano.

A monarquia tenta conter o aprofundamento da crise no Oriente Médio que avança, a passos largos, em direção à própria Arábia Saudita. Os sauditas têm entrado em fortes contradições com a Administração Obama que, na tentativa de estabilizar o Oriente Médio tem deixado de lado os aliados tradicionais, os próprios sauditas e satélites, como os Emirados Árabes Unidos e a Jordânia, os sionistas israelenses, o Catar e, até certo ponto, a Turquia. O pior para esses governos, que são aliados tradicionais da direita, e inclusive da extrema-direita do imperialismo, é que Obama se aliou aos aliados “poucos confiáveis", como a Rússia e a China, e aos “inimigos”, como o Irã, a milícia libanesa Hizbollah e os curdos.

Os sauditas oferecem uma isca para os russos não “exagerarem” na dose dos ataques aos “rebeldes” que recebem dinheiro dos petrodólares, como o Estado Islâmico, Jabhat al-Nusra, Ahrar al-Sham e Jaysh al-Islam. Essa isca tem três componentes principais, a promessa de uma compra considerável de armas russas, a tomada de medidas que permitam a subida do preço do petróleo e o investimento de US$ 10 bilhões na economia. O russos precisam desesperadamente desses recursos para conter a desestabilização interna. A economia se encontra em recessão há quatro anos. Nas discussões sobre o orçamento público do próximo ano aparecem vários buracos, principalmente nos repasses de recursos para as províncias.

Quem é o meu aliado?

Os russos têm acolhido com muita desconfiança a proposta da monarquia saudita. Propostas similares já foram feitas em várias ocasiões, mas nunca foram cumpridas. O governo russo aderiu, em 2010, às sanções contra o Irã com esse objetivo, mas quase nada obtiveram dos sauditas. Na última feira de São Petersburgo, que aconteceu há alguns meses, os sauditas assinaram vários contratos com empresas russas, mas ainda longe dos volumes prometidos em 2013 e 2014 quando o então chefe dos serviços de inteligência, o príncipe Bandar il Sultan, queria que os russos retirassem o apoio ao governo sírio do presidente al-Assad.

O afastamento da Rússia em relação ao Irã não está colocado para este momento. Apesar do acordo nuclear, o Irã precisaria de quase US$ 200 bilhões em investimentos, e vários anos, para viabilizar a infraestrutura necessária para promover as exportações de gás à Europa numa escala que poderiam torná-lo um competidor à altura da Gazprom, o gigante russo do gás. Até lá, a própria Gazprom poderá controlar uma fatia importante do negócio, contra os interesses do Catar que também busca fornecer gás, por meio da Turquia, mas depende da estabilização da Síria.

O fortalecimento da aliança da Federação Russa com o Irã, e ainda com a inclusão da China, apavora os sauditas. Os regimes da Síria e do Iraque e os Houthis, no Iêmen, são apoiados pelo regime dos aiatolás e, por esse motivo, tentam implodi-la. O Iêmen está se transformando no Vietnã saudita. Os bombardeios e assassinatos da população civil, que acontecem há 260 dias deixaram um saldo de sete mil mortos. A invasão que deveria ter sido um passeio se transformou num pesadelo quando os sauditas tentaram avançar para as regiões montanhosas, próximas à capital do país, Sanaa, reduto tradicional dos Houthis.

Em relação à Turquia, a vitória do partido do primeiro-ministro Erdogan favoreceu os russos, pois, apesar das contradições, viabiliza a construção do gasoduto, o Turk Stream, que direcionará gás à Europa. Erdogan também visitará Moscou neste ano.

O esforço saudita de contenção da Rússia se tornou mais complexo e mais difícil de ser negociado. O Oriente Médio é o ponto onde as contradições entre as potências regionais e imperialistas é mais acirrado. No próximo período, conforme a crise capitalista se aprofundar e a desestabilizar se generalizar, poderá dar lugar a confrontos militares em larga escala.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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