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putinDiário Liberdade - [Alejandro Acosta] Da preparação da Conferência Climática (Paris, em dezembro) ao Novo Caminho da Seda chinês, aumentam as movimentações para salvar os lucros dos grandes capitalistas.


Presidentes da China (Xi Jinping) e da Rússia (Vladimir Putin). Foto: Kremlin (CC BY 3.0)

A chanceler alemã, Angela Merkel, esteve de visita na China durante os dias 29 e 30 de outubro. Nos dias 2 e 3 de novembro, foi a vez do presidente francês François Hollande.

As visitas tiveram como objetivo principal a discussão das emissões de gás carbônico às vésperas da conferência climática que acontecerá no mês de dezembro em Paris.

A pressão social tem aumentado no sentido da redução das emissões de substâncias poluentes por causa do aumento exacerbado da depredação impulsionada pela tentativa de salvar os lucros dos capitalistas a qualquer custo. A resposta do imperialismo europeu passa pela criação da “Federação do Clima de Paris”. Mas não é só isso.

O mercado da especulação financeira com os títulos do carbono tem se mostrado muito lucrativo, como o pode testemunhar Al Gore, o ex-vice-presidente de Bill Clinton nos Estados Unidos, e também quase presidente se não tivesse sido o “roubo” descarado de George Bush Jr, na Flórida no ano 1999. Al Gore galgou na política por meio de bandeiras ecologistas burguesas, mas acabou se transformando num pioneiro, num especulador, bem sucedido com os títulos do carbono.

Perante o acelerado aprofundamento da crise capitalista na Europa junto com os sucessivos escândalos, que incluem o recente caso da Volkswagen, o imperialismo europeu busca apresentar um show pirotécnico, principalmente para o consumo local. Ao mesmo tempo, haverá o tiro de largada para as negociações dos títulos de carbono.

A China tenta reduzir o consumo de carvão nos principais setores industriais, como ferro, elétrico, engenharia química, materiais de construção, papel celulose e metais não ferrosos. Agora, com a queda dos custos do petróleo, a redução do uso do ultra poluente carvão mineral fica mais viável em termos dos lucros, mas sempre resta a alternativa de simplesmente comprar os títulos do carbono, que deverão ser lançados, no mercado doméstico, em 2017, sem precisar reduzir as emissões de poluentes.

O Caminho da Seda: tábua de salvação para o capitalismo?

Além das questões ambientais, outras fizeram parte das negociações em Pequim, como o turismo, a aviação e a agricultura. Conforme a crise capitalista mundial continua se aprofundando, os lucros começam a ficar em xeque e a busca por “saídas” tem se acelerado. A aproximação entre a França e a Alemanha com a China faz parte do chamado Novo Caminho da Seda chinês.

A Alemanha e a França fazem parte dos fundadores do AIIB, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura; com um percentual conjunto de 8% representam um dos principais pesos. A Inglaterra, um aliado tradicional dos Estados Unidos, foi o primeiro país ocidental a aderir ao AIIB. A Arábia Saudita, pilar dos petrodólares que possibilitam a inundação do mercado mundial com o dólar, se transformou no segundo maior fornecedor de petróleo da China e o comércio é feito em moedas locais. Tudo indica que a política do “salve-se quem puder” se acelera a cada dia, tornando as alianças e rivalidades muito mais fluídas.

A adesão ao Novo Caminho da Seda por aliados tradicionais dos Estados Unidos mostra as crescentes dificuldades para o imperialismo conter a aceleração das tendências desagregadoras. Com o colapso do chamado “neoliberalismo”, as contradições entre as potências imperialistas e regionais têm aumentado. Para o próximo período, está colocado o acirramento das contradições entre as potências imperialistas.

A política chinesa tem como objetivo facilitar as trocas comerciais com a Europa por meio da construção de um trem bala Pequim-Berlim, a abertura de novas rotas comerciais, como a Rota do Ártico, a incorporação das repúblicas da Ásia Central e de alguns países do Oriente Médio, e a “libertação” da armadilha do Estreito de Malaca, por onde circula o grosso do consumo energético chinês, que é controlado pela Marinha norte-americana. A Rússia, e a sua União Euroasiática, atua como pivô dessa aproximação.

O Novo Caminho da Seda chinês não poderá salvar o capitalismo da crise. O aumento da eficiência da circulação de mercadorias pode favorecer os lucros durante um certo período. Mas a crise atual é uma crise de superprodução. O aumento das mercadorias disponibilizadas no mercado mundial somente pode conduzir a novas bolhas e a novas crises ainda maiores.

Rússia: pivô do Caminho da Seda chinês

A política do imperialismo europeu passa pelo fortalecimento das relações com a China, e vice-versa. O pivô dessa aproximação, por meio do chamado Novo Caminho da Seda, é a Rússia, que lidera a chamada União Euroasiática e tem um peso fundamental nas repúblicas da Ásia Central.

Recentemente, o vice-chanceler alemão, o social-democrata Sigmar Gabriel, se encontrou com o presidente russo Vladimir Putin em Moscou com o objetivo de discutir o comércio bilateral. Evidentemente, a Alemanha está buscando levantar as sanções contra a Rússia. Os industriais alemães pressionam neste sentido há algum tempo, mas existe a contrapressão do imperialismo norte-americano e de vários dos países da Europa Central, principalmente daqueles que compõem a ala direita da OTAN e da União Europeia, como a Polônia e a Lituânia.

De acordo com dados publicados pelo Ministério da Economia alemão, as exportações à Rússia sofreram contração de 31,5% no primeiro semestre deste ano. Vários projetos na Rússia, como nos setores de transporte ferroviário e da indústria química, foram paralisados por causa das sanções. Apesar da Rússia representar apenas o décimo terceiro destino das exportações alemãs, os mais importantes, como a China e os Estados Unidos, passam por sérias dificuldades. Em termos vulgares, poderíamos dizer que os alemães “estão matando cachorro a grito”.

A visita de Gabriel acontece a três meses da próxima reunião da União Europeia que deverá definir o que será feito com as sanções contra a Rússia. A estabilização da Ucrânia, promovida pela própria Administração Obama com o objetivo de colocar em pé uma frente única para estabilizar o Oriente Médio, pode ser o pivô para facilitar o levantamento das sanções.

Ao mesmo tempo, os vínculos Alemanha-Rússia, no setor de energia, continuam crescendo. A Gazprom está discutindo com as autoridades alemãs a ampliação do Gasoduto do Norte, o Nord Stream, que leva gás da Sibéria até a Alemanha através do Mar Báltico. Os interesses alemães passam pela garantia do amplo fornecimento aos melhores preços e pela contenção da Rússia na Europa Oriental e Central que usa a energia como instrumento de pressão política.

Apesar de não participar em ações militares na Síria, a Alemanha apoia a campanha da Rússia, pois tende a estabilizar a enorme desestabilização provocada pelas migrações maciças de refugiados.

Pelo lado da Federação Russa, existe a tentativa de suavizar as sanções para conter o cenário recessivo. A economia russa deverá sofrer contração de 4% neste ano, após ter enfrentado a recessão nos últimos quatro anos.

As movimentações do imperialismo franco-alemão também incluíram a visita do ex-presidente francês, e presidenciável em 2017, Nicolas Sarkozy, a Moscou no dia 29 de outubro.

O levantamento das sanções contra a Rússia poderá aumentar as contradições entre a Alemanha e os Estados Unidos, caso a política da ala direita conseguir se impor. Uma eventual consequência poderia ser o aumento da pressão da OTAN, que é controlada pelo imperialismo norte-americano, sobre a Rússia, nos países da Europa Oriental e Central. A recente vitória do Partido Lei e Justiça, da extrema-direita, na Polônia, já deverá aumentar a pressão sobre a Rússia, ao mesmo tempo em que aumentarão as contradições com a própria Alemanha. A política alemã em relação às quotas para os refugiados abriu uma crise enorme.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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