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coreiaDiário Liberdade - [Alejandro Acosta] As recentes reuniões que aconteceram entre os primeiros-ministros da China, Li Keqiang, do Japão, Shinzo Abe, e da Coreia do Sul, Park Geun-hye, têm enorme importância para o entendimento das contradições e do aprofundamento da crise na região Ásia Pacífico, que representa um dos três pontos de conflito em escala mundial com o potencial de evoluir para um confronto militar em larga escala.


Wikimedia Commons (Domínio Público)

O encontro aconteceu na cidade de Seul, a capital da Coreia do Sul. Foi o primeiro nesse nível desde 2012, quando foram suspensos por causa da escalada dos conflitos territoriais entre a China e o Japão. A histeria tinha tomado conta da situação política por causa das eleições nacionais japonesas cuja pauta foi estabelecida pela extrema-direita. Da mesma maneira, aconteceu o primeiro encontro bilateral entre a Coreia do Sul e o Japão em três anos, desde que o governo direitista de Shinzo Abe assumiu o governo, no final de 2012.

Entre os assuntos tratados teve destaque o acordo comercial que estava paralisado. O entendimento foi de que os problemas históricos e territoriais não devem dificultar o comércio. A aproximação tem por trás o aprofundamento da crise capitalista mundial. A economia chinesa enfrenta enormes dificuldades não somente para manter as exportações, mas também para manter o consumo interno. As exportações sul-coreanas enfrentam a pior contração dos últimos seis anos. A economia do Japão foi atingida em cheio após o desastre de Fucuxima e agora somente se mantém turbinada por gigantescos repasses de recursos públicos para os monopólios.

Outro dos assuntos centrais foi a criação de uma Zona de Livre Comércio (FTZ na sigla em inglês) entre os três países e o estabelecimento da Parceria Econômica Regional Compreensiva (RCEP na sigla em inglês). A discussão sobre a TFZ começou em novembro de 2012, incluindo o comércio de matérias-primas, serviços e investimentos. A próxima rodada de negociações, que deverá acontecer no final deste ano, deverá incluir ainda a redução das tarifas das matérias-primas e o acesso ao setor de serviços.

O aprofundamento da crise capitalista acelera a política do “salve-se quem puder”. As alianças e os inimigos se tornam mais fluídos enquanto os monopólios e as grandes empresas das potências regionais buscam salvar os lucros a qualquer custo.

Qual é a minha Coreia favorita?

O grande aliado da China não é a Coreia do Norte, mas a Coreia do Sul. O desenvolvimento das relações segue a direção de Seul e não a de Pyongyang.

Diferentemente do que poderia se pensar, o governo chinês considera a política do governo norte-coreano como sendo um problema, um inconveniente para os próprios interesses. O programa nuclear e o enfrentamento da agressividade do imperialismo norte-americano facilitaria a justificativa da agressividade contra o verdadeiro alvo, a própria China. O Pentágono deslocou para a região Pacífico da Ásia nada menos que a metade do orçamento com o objetivo de conter o expansionismo chinês.

Sobre a questão da Coreia do Norte, houve coincidência, entre os primeiros-ministros dos três países, no sentido da retomada das negociações com o objetivo de por um ponto final no programa nuclear. O grupo que participa das negociações inclui também os Estados Unidos e a Federação Russa.

Os 17 acordos bilaterais assinados entre a China e a Coreia do Sul contemplam vários setores, desde inovação, comércio, economia, ciência, tecnologia, proteção do meio ambiente, intercâmbio de pessoas e manufatura.

A China apoia o desenvolvimento de negociações entre as duas Coreias e até poderia aceitar a reunificação. Esse processo tem sido implodido, em primeiro lugar, pelo imperialismo norte-americano, que busca impedir o desenvolvimento de blocos que possam vir a se tornar poderosos o suficiente para ameaçar a hegemonia na região.

Os governos chinês e sul-coreano buscam o alinhamento das estratégias de desenvolvimento com o objetivo de favorecer uma maior aproximação entre os dois países. O chineses querem integrar a Coreia da Sul ao Novo Caminho da Seda, que representa a “saída chinesa” para a crise capitalista por meio da criação de facilidades para o intercâmbio comercial com a Europa.

A China representa o maior parceiro comercial da Coreia do Sul, que representa o terceiro maior parceiro comercial da China. Os volumes esperados para este ano poderão superar os US$ 300 bilhões, 60 vezes mais que há 20 anos. Os intercâmbios de pessoas totalizaram nada menos que 10 milhões no ano passado.

O “namoro” entre a China e a Coreia do Sul começou no ano passado, após negociações com o novo governo da presidente Park que assumiu no início de 2013. O governo chinês agora busca ir além, resolvendo os conflitos territoriais com o objetivo de deslocar a Coreia do Sul da aliança anti-China liderada pelo imperialismo norte-americano.

Japão: pró-EUA, pró-China ou pró-Japão?

O governos do Japão e da China se comprometeram a retomar as visitas mútuas dos ministros das Relações Exteriores e os comerciais de alto nível no início do próximo ano. Ao mesmo tempo, serão definidos mecanismos de comunicação entre os exércitos de ambos países.

A escalada dos conflitos no Mar do Sul da China aconteceu há três anos, no contexto das últimas eleições nacionais, que foram pautadas pela extrema-direita. Os últimos encontros que aconteceram entre Shinzo Abe e o presidente chinês, Xi Jinping, desde o mês de novembro do último ano, relaxaram as tensões.

Ao mesmo tempo, os crimes de guerra cometidos pelo Império Japonês na China representam outro dos aspectos graves das tensões, principalmente porque a extrema-direita japonesa, com figurões como o prefeito de Tóquio, tem realizado atos abertamente provocativos.

O encontro bilateral entre Park e Abe aconteceu um dia após a reunião de cúpula trilateral. O grande “abacaxi” existente entre a Coreia do Sul e o Japão é a recusa do governo direitista nipônico em reconhecer e apresentar desculpas oficiais, e indenizações por causa da escravização sexual de mulheres sul-coreanas durante a Segunda Guerra Mundial, além de outros crimes cometidos durante a ocupação da Península da Coreia pelo Império Japonês entre 1910 e 1945. O comércio entre os dois países tem caído desde 2011.

O Japão tem sido impulsionado pela Administração Obama para que assuma um papel de liderança militar na região, sob a tutela do imperialismo norte-americano. Trata-se de uma política de crise, por conta das crescentes dificuldades para enfrentar os altos custos, mas que está alinhada com a política impulsionada pela direita japonesa. O Artigo 9 da Constituição de 1947, que impedia a formação de um exército, já foi emendado. O problema colocado é que, conforme a crise continuar se aprofundando, o imperialismo japonês, que representa uma das duas maiores potências industriais, deverá acelerar os mecanismos para garantir os lucros dos próprios monopólios. Dentre eles, está o ingresso no disputado mercado de armas, no qual passaria a concorrer com os Estados Unidos, o aumento da espoliação dos países vizinhos e outros, o aumento da disputa da especulação financeira e a escalada de um regime de cunho fascista no país.

Como fica a Aliança Trans-Pacífico?

A Aliança Trans-Pacífico (TPP, na sigla em inglês) representa um dos mecanismos que o imperialismo norte-americano está tentando colocar em pé com o objetivo de conter o expansionismo chinês e os novos organismos que correm por fora do controle do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial, que ele próprio controla.

Da TPP não faz parte a China, mas o fazem a Coreia do Sul e o Japão. Os acordos entre os três países mostram a crescente dificuldade para os Estados Unidos manterem a hegemonia imposta após a Segunda Guerra Mundial.

Da mesma maneira, está acontecendo com outros aliados próximos dos Estados Unidos. A Arábia Saudita se tornou o segundo maior fornecedor de petróleo da China, agora somente atrás da Rússia, e o comércio bilateral está sendo realizado em moedas locais, o que representa um verdadeiro veneno para os petrodólares, a base da inundação do mercado mundial com o dólar. A Inglaterra se tornou o primeiro país ocidental em aderir ao novo Banco de Infraestrutura Asiático. Já a Alemanha e a França fazem parte, como componentes fundamentais, do Novo Caminho da Seda chinês.

As tendências desagregadoras, centrípetas, têm aparecido, principalmente, no surgimento e fortalecimento das potências regionais e dos regimes nacionalistas burgueses. No próximo período, a tendência será ao enfraquecimento do imperialismo e à formação de blocos que deverão se contrapor ao imperialismo norte-americano. O aumento das contradições e das guerras será inevitável, e faz parte do acelerado processo de putrefacção do sistema capitalista.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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