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011115 isisSíria - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Enquanto os bombardeios promovidos pela aviação russa conseguiram conter as várias facções dos “rebeldes” sírios, o Estado Islâmico conseguiu alguns avanços recentemente. Várias regiões localizadas a sudeste de Aleppo, a segunda cidade do país, teriam sido tomadas após ter controlado a importante cidade de al-Safira.


Reunião de cúpula em Viena sobre a Síria. Foto: Departamento de Estado dos EUA (Domínio Público)

As linhas de suprimento entre as cidades de Hama e Aleppo ficaram comprometidas. As tropas do Exército e os milicianos do Hizbollah e das milícias xiitas detiveram a ofensiva para controlar o corredor.

O avanço do Estado Islâmico aconteceu por causa do enfraquecimento dos enfrentamentos com a al-Nusra e outros grupos “rebeldes” que acabaram entrando no foco da atuação do governo, principalmente em Idlib.

O verdadeiro objetivo do governo da Federação Russa não é derrotar o Estado Islâmico e as demais organizações “rebeldes” que contam com o apoio da reação do Oriente Médio e mundial. A política dos russos busca forçar negociações que estabilizem a situação na região, que evitem o contágio sobre o Cáucaso e o sul da Rússia, assim como fortalecer o papel do país, que é um potência regional de primeira ordem.

A visita de John Kerry, o chefe do Departamento de Estado norte-americano, a Sochi (sul da Rússia), onde se encontrou com Vladimir Putin (presidente russo) e Serguei Lavrov (ministro das Relações Exteriores russo), estabeleceu as bases do acordo que buscou colocar em pé uma frente única para estabilizar o Oriente Médio. A ala encabeçada pela Administração Obama tenta se manter como a política preferencial dos monopólios perante o fortalecimento da ala direita, fascistoide. Essa ala já controla as duas câmaras do Congresso e ameaça vencer as eleições nacionais que acontecerão no próximo ano. No Oriente Médio, o governo turco de Erdogan e as reacionárias monarquias do Golfo Pérsico estão por trás do apoio aos grupos “rebeldes”. O objetivo é avançar no controle da região e em se contrapor à presença do Irã e os grupos “coligados”, principalmente o Hizbollah, a poderosa milícia libanesa, e as milícias xiitas.

De onde vem a força do Estado Islâmico?

O Estado Islâmico é uma espécie de cachorro louco que a reação tenta usá-lo para os próprios interesses. O mesmo acontece com a al-Qaeda e os demais “rebeldes moderados”. O problema é que esses grupos têm se desenvolvido por causa do desenvolvimento da crise na região. O controle é apenas parcial e a tendência é a que esse controle, apesar dos acordos, se perca.

O confronto no Oriente Médio, na prática, confronta duas políticas principais. O nacionalismo árabe que, mesmo confuso, busca um distanciamento da intervenção aberta do imperialismo, e a reação que busca impor os próprios interesses regionais da mão da ala mais direitista do imperialismo. A reação no Oriente Médio está encabeçada pela Arábia Saudita, as demais monarquias do Golfo, a Jordânia, o Egito e os sionistas israelenses.

O Estado Islâmico se desenvolveu, principalmente, a partir do apoio da Arábia Saudita e do governo turco de Erdogan, e, solapadamente, do imperialismo e de Israel. O objetivo era direcioná-lo contra o Irã, os aliados, como o regime sírio de al-Assad, e as milícias xiitas da região, principalmente o Hizbollah, a poderosa milícia libanesa, e as milícias xiitas iraquianas.

A ação russa deixou claro que a suposta “invencibilidade” do Estado Islâmico não passava de uma miragem. No momento atual, a força deste grupo passa pelo financiamento a partir do petróleo, que direciona principalmente para a Turquia e os petrodólares sauditas.

Há duas políticas imperialistas que se confrontam. A política encabeçada por Obama/ Merkel/ Hollande busca saídas negociadas para a crise, pelo menos até onde isso for possível. A ala direta busca uma saída de força como pode ser visto nas políticas propostas colocadas pelos pré-candidatos do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos.

A vitória da ala direita do imperialismo implicaria em políticas muito mais duras inclusive para a América Latina.

As negociações em Viena com a participação do Irã

Um dos principais objetivos da intervenção russa na Síria foi alcançado, a participação do Irã nas negociações, que têm lugar em Viena, com o objetivo de buscar uma saída negociada à crise. Na reunião que começou no dia 30 de outubro, participaram, além do Irã, os Estados Unidos, a Turquia, a Arábia Saudita, a Grã Bretanha, o Egito, o Iraque, a Jordânia e a China. Pela primeira vez, desde 1979, os Estados Unidos e o Irã negociam abertamente problemas do Oriente Médio, além de questões relacionadas diretamente com o próprio Irã.

A saída do presidente al-Assad já foi acordada e aceita pelo grupo que o apoia, os alauítas. Este grupo, apesar de ser uma minoria, domina as regiões localizadas no Mediterrâneo, ao norte do Líbano, e a capital do país, Damasco. Os bombardeios dos russos, junto com a intervenção militar direta do Hizbollah e as milícias xiitas, permitiu criar um enclave alauíta a partir do qual os “rebeldes” passaram a enfrentar fortes ataques.

A crise avança a passos largos não somente na Síria, mas também no Iraque, no Egito, no Líbano, na Jordânia e no Iêmen.

A Administração Obama abriu mão dos aliados tradicionais, os sauditas e os sionistas israelenses, na nova política para o Oriente Médio, numa movimentação que começou em 2012 quando ficou claro que os Estados Unidos seriam derrotados no Afeganistão e que a política da reação na região conduzia à desestabilização em larga escala. O descontentamento desses aliados, ligados tradicionalmente à ala tradicional do imperialismo, aumentou.

O aprofundamento da crise tem obrigado a buscar “saídas”. Os sauditas negociam com os russos, assim como os sionistas israelenses. Insinuaram fazê-lo também com o Irã, mas o estouro da crise no Iêmen acabou abortando a tentativa de aproximação.

O imperialismo norte-americano ficou a reboque da situação. Não somente foi derrotado militarmente no Iraque e no Afeganistão, mas não conseguiu fazer decolar os “próprios rebeldes”. A falta de controle de grupos como a al-Nusra (a al-Qaeda na Síria), o Estado Islâmico e até de grupos ligados à Irmandade Muçulmana, levou à aproximação com os russos, o Irã e a China. Mas o grau da crise do imperialismo no Oriente Médio fica ainda mais dramático quando na frente única acabaram entrando o Hizbollah, os curdos e as milícias xiitas, que são controladas diretamente pela força de elite da Guarda Islâmica do Irã, os Quds.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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